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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Qua | 02.12.20

Séries que me levam a viajar

 

Para mim, a televisão é uma tela de cinema em tamanho reduzido que posso ter em casa. Não a utilizo praticamente para mais nada que não seja ver filmes e séries. Sorte minha, já desde há alguns anos que as séries de televisão deixaram de ser consideradas entretenimento de segunda categoria e passaram a ocupar, no mundo do audiovisual, um lugar tão importante quanto o cinema – hoje em dia talvez até mais, porque implicam a fidelização do espectador durante muito mais tempo do que as meras duas horas, mais coisa menos coisa, de duração habitual de um filme. E agora que me vejo obrigada a passar (ainda) mais tempo casa, são uma distracção bem vinda a que recorro frequentemente.

 

Algumas delas têm também outra vantagem, que antes era praticamente exclusiva dos filmes: levam-me a viajar, e em mais do que um sentido. Primeiro, porque me mostram, de forma mais ou menos extensiva, lugares que ainda não conheço e que por vezes nem sabia que existiam. Segundo, porque despertam em mim a vontade de ir conhecer pessoalmente esses lugares. A alguns deles já fui, a outros irei quando puder.

 

Uma das campeãs da “promoção turística”, entre muitas outras óbvias virtudes que lhe granjearam milhões de fãs em todo o mundo, foi a Guerra dos Tronos: 73 episódios com cenários de fantasia criados sobre paisagens reais de países tão diversos como Espanha, Islândia, Marrocos, Croácia, Escócia ou Canadá, só para citar alguns. Foi por causa dela que fiquei a saber da existência de San Juan de Gaztelugatxe, que entretanto já visitei (podem ler tudo neste post), e do Ksar de Ait-Ben-Haddou em Marrocos, que também fiz questão de ir conhecer (entre outros lugares de Marrocos de que falo neste post). Não tivesse eu visto a série, talvez a minha curiosidade não tivesse sido despertada e eu não tivesse visitado estes dois locais magníficos.

Gaztelugatxe (35).JPG

Ait Ben Haddou (21).jpg

Há várias outras séries de ficção que têm também criado em mim esta vontade de ir descobrir ao vivo o encanto dos lugares que retratam ou onde foram filmadas. Umas são recentes, outras já têm algum tempo, mas todas elas são excelente entretenimento, tanto pela sua qualidade como também pelas paisagens e lugares por onde me têm levado a viajar – e que, com alguma sorte, vou poder um dia destes conhecer pessoalmente.

 

 

CARDINAL

Lago Nipissing, Ontário, Canadá

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Os lagos e as grandes florestas do Canadá já fazem há muito tempo parte da minha lista de desejos de viagem, e depois de ver esta série essa vontade aumentou. Baseada nos policiais do escritor canadiano Giles Blunt, cujas personagens principais são os detectives John Cardinal e Lise Delorme, o ambiente desta série aproxima-se (felizmente!) mais dos dramas policiais nórdicos do que das séries de acção americanas, e essa é uma das suas maiores virtudes. O tom contido e por vezes melancólico da narrativa contrasta fortemente com os crimes brutais, manchados de sadismo, que são o pano de fundo das quatro temporadas (cada uma com seis episódios) da série, e condiz perfeitamente com as paisagens fabulosas do Ontário Setentrional onde têm lugar as cenas de exterior.

 

As histórias passam-se na pequena cidade fictícia de Algonquin Bay, alter ego de North Bay, onde Giles Blunt cresceu. Situada entre dois lagos, o Nipissing e o Trout, a cidade como cenário cumpre apenas um papel funcional, pois o destaque vai para os planos abertos, por vezes filmados do ar, das magníficas florestas e dos grandes lençóis de água que a rodeiam. Além disso, cada temporada foi (ou parece ter sido) rodada numa estação do ano diferente, o que nos dá a possibilidade de ver os mesmos locais sob perspectivas diversas e muito diferentes entre si. A quarta temporada, passada no Inverno, é para mim a que tem mais impacto visual, pelo óbvio domínio do branco. E até o genérico, que é excelente, desperta o apetite para ir conhecer a região.

Cardinal paisagem.png(Crédito da foto: https://www.radiotimes.com/news/2020-06-04/where-is-cardinal-filmed-location/)

 

Com grande pena minha, não estão previstas mais temporadas de Cardinal. O próximo passo terá mesmo de ser dado por mim, ou seja, ir até ao Canadá.

 

 

DOWNTON ABBEY

Hampshire e Cotswolds (Oxfordshire), Inglaterra

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As seis temporadas desta série foram mais do que suficientes para ficar com o “bichinho” de querer conhecer o countryside inglês. A popularidade de Downton Abbey transformou o desconhecido Castelo de Highclere, no Hampshire, em local obrigatório de visita, mas confesso que a minha curiosidade maior é a região de Cotswolds, no Oxfordshire, onde se encontra Bampton, a aldeia em que foram filmadas muitas das cenas exteriores supostamente passadas na localidade de Downton.

 

Este drama histórico, que retrata a vida de uma família aristocrática do Yorkshire e dos seus empregados domésticos nos primórdios do século XX, tornou-se uma das minhas séries favoritas logo desde o primeiro episódio. Impecavelmente produzido e realizado, com grandes intérpretes, uma fotografia e um guarda-roupa fabulosos, a saga da família Crawley estende-se de 1912 a 1926 e entrelaça dramas familiares domésticos e sociais com grandes eventos ocorridos durante este período.

Bampton.jpg(Crédito da foto: https://www.alnwickcastle.com/blog/downton-abbey-filming-locations-uk)

Os locais de filmagem incluíram, além do Castelo de Highclere e de Bampton, várias outras localidades dos Cotswolds, o Castelo de Alnwick em Northumberland, a Wentworth Woodhouse no Yorkshire, o West Wycombe Park no Buckinghamshire, e o Basildon Park no Berkshire, entre outros.

 

 

HIERRO

El Hierro, Canárias, Espanha

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Os nossos vizinhos espanhóis começaram há alguns anos a dar cartas no que toca a dramas policiais, primeiro nos livros – tenho lido policiais fantásticos de autores espanhóis, e estou completamente fã – e mais recentemente também nas séries televisivas. Uma das últimas boas surpresas que tive foi esta série de oito episódios, que conseguiu agarrar-me completamente.

 

A trama gira à volta de uma morte misteriosa e duas personagens que à primeira vista parecem antagónicas – uma juíza e um empresário envolvido em negócios escuros, além de presumível assassino – mas com o desenrolar da história se percebe terem muito em comum: são ambos forasteiros, voluntariosos, têm um passado complicado, e estão empenhados em descobrir a verdade. O elenco é excepcional, com alguns actores bem conhecidos das telas de cinema, e a série recebeu prémios em diversas categorias, o que é também um bom indicador da sua qualidade.

El Hierro.jpg(Crédito da foto: https://vertele.eldiario.es/noticias/hierro-serie-movistar-atresmedia-lasexta_0_189701028)

 

A terceira personagem mais importante na série é a própria ilha. El Hierro é uma das mais pequenas e menos conhecidas ilhas das Canárias, arquipélago que muito sinceramente até agora não tinha despertado em mim grande interesse. O genérico é brilhante e os planos de corte que fazem a ligação entre cenas são um elogio à ilha, que nos é apresentada como um ambiente socialmente fechado, com tradições e hábitos muito enraizados, e onde todos se conhecem (El Hierro tem pouco mais de 11 mil habitantes). Estas características foram aproveitadas para o enredo e são fulcrais em toda a história, tal como as paisagens bem escolhidas que lhe servem de cenário.

 

Uma segunda temporada já está em preparação, prevista para estrear no próximo ano em Espanha, e espero que também por cá.

 

KEEPING FAITH

Laugharne, País de Gales

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Uma mistura de drama e mistério, com umas pitadas de romance e de acção, esta série produzida pela Vox Pictures poderia ser uma grande salgalhada, mas na verdade é tudo menos isso. O argumentista Matthew Hall consegue o feito de transformar magicamente uma variedade de ingredientes num produto final credível, diferente, com personagens muito humanos (cheios de segredos, defeitos e angústias, como é óbvio) e uma história que dá voltas e reviravoltas e me manteve viciada durante duas temporadas – e a desejar que a próxima chegue depressa. Filmada simultaneamente em galês e inglês, por enquanto a terceira temporada ainda só está a ser exibida no canal S4C do País de Gales, estando a versão inglesa com estreia prevista no BBC Wales em inícios do próximo ano.

Keeping Faith paisagem.jpg(Crédito da foto: https://www.walesonline.co.uk/lifestyle/tv/keeping-faith-filmed-wales-14434848)

 

A outra grande virtude da série é o facto de mostrar um bocadinho do tão pouco conhecido e publicitado País de Gales. Keeping Faith foi filmada predominantemente na região de Carmarthenshire, sobretudo na localidade costeira de Laugharne, onde viveu o poeta Dylan Thomas e que parece ter motivos suficientes para me deixarem curiosa e interessada: um castelo meio arruinado, uma igreja com um grande cemitério, extensos areais batidos pelo vento, trilhos sobre falésias rochosas e paisagens prometedoras.

 

O GERENTE DA NOITE

Pollença, Maiorca, Espanha

O Gerente da noite.jpg

Adaptada do livro homónimo de John Le Carré, esta mini-série de espionagem é uma festa para os olhos. São apenas seis episódios, mas muito intensos, bem realizados, bem produzidos, e sobretudo muito bem interpretados – ou não fosse uma série inglesa… A história centra-se na personagem de um ex-militar que, a trabalhar como gerente de hotel, é recrutado para se infiltrar na entourage de um poderoso negociante de armas que os serviços secretos britânico e americano querem apanhar, um homem ganancioso e sem escrúpulos que esconde habilmente as suas actividades ilícitas atrás de uma capa de filantropia e de uma vida privada inexpugnável.

Sa Fortalesa.jpg(Crédito da foto: https://www.majorcadailybulletin.com/news/local/2016/03/18/43304/visit-one-the-key-locations-for-the-hit-bbc-series-the-night-manager.html)

 

Com um tom por vezes ligeiramente “james bondiano”, a série cativou-me também pelos cenários bem escolhidos: Maiorca, Istambul, Cairo, Devon e Zermatt. Embora na realidade as cenas passadas no Cairo e Istambul tenham sido rodadas em Marrocos e as de Zermatt quase todas em estúdio, são mostradas em separador belíssimas imagens destas cidades e paisagens. Neste capítulo, a estrela da série é uma mansão situada num cabo perto de Port de Pollença, no extremo norte da ilha de Maiorca, a região de que por coincidência mais gostei quando passei férias nesta ilha. Chama-se Villa Sa Fortalesa, e como o nome indica foi adaptada a partir de uma fortaleza do séc. XVII que defendia a espectacular baía de Pollença. Pertence ao banqueiro inglês Lord James Lupton, sendo a propriedade mais cara de Espanha (foi comprada em 2011 por 40 milhões de euros). As imagens aéreas da zona filmadas para a série são de tirar o fôlego e fazem jus à beleza do lugar.

 

 

OUTLANDER

Glencoe, Escócia

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Diana Gabaldon é uma escritora americana, mas foi a Escócia que ela escolheu para pano de fundo de alguns dos seus livros, que por sua vez deram origem à série Outlander. Meio fantasia, meio baseada em factos históricos, a trama conta as peripécias de uma jovem mulher que viaja misteriosamente no tempo e vai parar à Escócia do século XVIII. E se as Terras Altas da Grã-Bretanha já estavam na minha lista de desejos, depois de ver as primeiras temporadas da série (ao todo já são cinco, e está para lavar e durar…) passaram a ser uma prioridade.

Outlander.png

Os locais de filmagem têm nomes tão ásperos como Rannoch Moor, Glencoe, Finnich Glen ou Culross, mas os cenários por onde viajamos com esta série são vales profundos e sempre verdes rodeados de montanhas vertiginosas, florestas atravessadas por rios bravos, aldeias com casas rústicas de pedra e, como não podia deixar de ser, castelos e casas senhoriais, como os de Doune, Midhope e Drummond, ou a Gosford House e a Hopetoun House. Mesmo as temporadas cuja história se desenrola em França ou na América foram completamente filmadas na Escócia, e alguns dos locais ficam bem perto de Edimburgo, o que demonstra tanto a habilidade da equipa cinematográfica como a variedade paisagística do país – e aumenta exponencialmente a minha vontade de ir até lá.

 

SANDITON

Bristol, Inglaterra

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Jane Austen morreu em 1817 de doença não identificada, deixando por terminar o romance que deu origem a esta série. Sanditon é uma vila de pescadores ficcionada, que um empresário decide converter numa estância de veraneio para a elite inglesa. É com a sua família que a heroína, Charlotte, vai viver durante algum tempo. Sensata, inteligente e desenrascada, como é habitual nas heroínas de Austen, Charlotte vai acabar por ser peça importante nas aventuras e desventuras amorosas e financeiras dos seus anfitriões e da comunidade de Sanditon, que inclui a grande família do empresário, uma dama abastada e os seus ambiciosos sobrinhos e prima afastada, uma rica herdeira vinda das Índias Ocidentais, um aspirante a arquitecto e vários londrinos endinheirados.

 

O romance inacabado foi genialmente desenvolvido pelo argumentista Andrew Davies para esta produção da BBC que, até ver, tem uma única temporada – embora o final aberto (e algo desapontante…) prometa continuação, que não está contudo confirmada.

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Os exteriores de Sanditon foram filmados nos arredores de Bristol. Sendo local de veraneio, é claro que muitas das cenas se passam na praia, que neste caso é a praia de Brean, uma faixa de areia situada a sudoeste da cidade, limitada por dunas e com mais de 10 km de comprimento. O altíssimo promontório de Brean Down, a norte da praia, é outro dos locais mostrados na série. Os cenários escolhidos incluem ainda a pitoresca igreja de St. James em West Littleton, Dyrham Park e a sua mansão, os jardins românticos da Iford Manor (perto de Bradford on Avon), e a Bowood House no Wiltshire. A minha lista de sítios a visitar em Inglaterra não pára de crescer…

 

SHETLAND

Ilhas Shetland, Escócia

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Sou absolutamente fã desta série policial, que já conta com cinco temporadas e parece que vai ter pelo menos mais duas, para minha grande felicidade. Produzida pela ITV Studios para a BBC Scotland e parcialmente filmada nas ilhas escocesas que lhe dão o nome, de cada vez que vejo uma temporada fico com vontade de me meter logo um avião e ir visitá-las.

 

Como série, tem uma produção excelente, a realização não fica atrás, os actores convencem-nos e a cinematografia é magnífica. Não tem cenas de pancadaria a cada cinco minutos, heroínas que resolvem casos em cima de saltos de 15 cm ou décors arrumadinhos e tão limpos que até se pode comer no chão. Tudo tem um ar real: as roupas amarrotam-se, as unhas sujam-se, e as personagens têm vida pessoal. Às vezes também há tiros e correrias, e cenas macabras, e os investigadores têm uma capacidade de trabalho inextinguível ou o dom da ubiquidade, mas ainda assim são credíveis, têm sotaque (e que sotaque!), barriga, cabelos brancos, barbas por fazer. Os argumentistas fazem um bom uso da História e das características culturais das Shetland, que são incorporadas na trama e a tornam mais interessante. Apesar da produção britânica e de ser baseada nos livros da premiada escritora inglesa Ann Cleeves, o tom geral da série aproxima-se mais dos policiais nórdicos do que dos tradicionais mistérios ingleses “à hora do chá”.

Lerwick.jpgPhoto © Mike Pennington (cc-by-sa/2.0)

 

Depois há o cenário. O fantástico e peculiar cenário das ilhas Shetland e da Escócia: ventoso, cinzento, sem árvores, mas com uma beleza de cortar a respiração. Há muitas cenas filmadas a partir de longe ou em perspectiva aérea, e a banda sonora está em sintonia com o ambiente – inóspito, mas extremamente apelativo.

 

THE HEAD

Islândia

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Esta série é a prova de que as co-produções menos mainstream vieram para durar e conseguem ser tão boas ou melhores que as dos grandes estúdios, e de que a Espanha está a apostar forte no mercado televisivo. The Head é um thriller criado pelos irmãos Àlex e David Pastor, secundados pelo argumentista Isaac Sastre, e realizado por Jorge Dorado, com produção da Hulu Japan e da espanhola The Mediapro Studio. O primeiro episódio deixou-me na dúvida sobre se a série iria inclinar-se para o sobrenatural, mas afinal o enredo acabou por se revelar um daqueles mistérios intrigantes passados em ambiente fechado, em que a acção anda para trás e para a frente no tempo até o puzzle começar a fazer algum sentido. Uma pequena equipa de cientistas e técnicos permanece durante o Inverno numa estação da Antárctida, onde está a ser desenvolvido um projecto biológico inovador. Mas quando a luz do sol volta a iluminar o Pólo Sul, o grupo que regressa para os apoiar descobre que estão todos mortos ou desaparecidos, e não há explicação aparente para o que se terá passado.

 

Os diálogos dos seis episódios são maioritariamente em inglês, com algumas conversas pelo meio em dinamarquês e sueco, e os actores vêm dos mais variados países: Reino Unido, Espanha, Japão, Estados Unidos, Dinamarca, Suécia, Alemanha, Irlanda… É quase uma torre de Babel, mas em vez de atrapalhar, esta mistura traz mais dinâmica e veracidade à trama.

The Head - paisagem.jpg

Apesar de a história se desenrolar na Antárctida, as cenas de exterior foram filmadas na Islândia e mostram espaços a perder de vista cobertos de neve, mesmo quando o sol brilha. Encantada que fiquei com as paisagens islandesas que tive a felicidade de ver este Verão, tenho ainda por cumprir o desejo de conhecer o país numa época (ainda) mais fria e completamente pintado de branco. A julgar pela minha vida nos últimos tempos, irá acontecer quando menos esperar…

 

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