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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Qui | 18.07.19

Peleș, o palácio a que chamam castelo

 

Era uma vez um país, muito jovem de idade mas com uma história antiga de séculos, que tinha um rei que na verdade era um mero e pouco importante príncipe alemão, e que só era rei porque tinha sido convidado para tal. O país chama-se Roménia e o rei foi Carol I, que durante os 48 anos do seu reinado ajudou a Roménia a tornar-se independente e a modernizar-se. Entre as muitas obras que promoveu há um edifício que saltou há algum tempo para a ribalta dos destinos turísticos imperdíveis. Chamam-lhe o Castelo de Peleș.

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Recorrentemente considerado, desde há alguns anos, como um dos castelos mais bonitos da Europa, Peleș não tem verdadeiramente nada de castelo – na realidade é um palácio, e um palácio fabuloso!

 

aqui falei um pouco da história da Roménia e do rei Carol I (ou Carlos, se preferirem o português), o primeiro dos apenas quatro reis da curta monarquia constitucional romena e por coincidência também aquele que ocupou esse cargo durante mais tempo.

 

Carol era um militar por vocação, de perfil austero e meticuloso como era habitual nos militares, que teve a sorte de casar com Elizabeth de Wied, uma princesa (também) alemã inteligente, culta e dedicada, que além de ter desenvolvido projectos significativos nas áreas da saúde e da educação foi uma escritora profícua, tendo produzido trabalhos de vários tipos sob o pseudónimo de Carmen Sylva (há uma foto engraçadíssima na Wikipedia que a mostra, toda ataviada de rendas e bordados, em frente a… uma máquina de escrever).

 

Não é por isso de estranhar que ao palácio que fizeram construir em Sinaia, uma localidade encostada às montanhas de Bucegi (que fazem parte dos Cárpatos), tenham chamado “castelul”, e que as suas características aliem a sensibilidade do estilo romântico ao “peso” da decoração barroca e das referências militares (com uma colecção de artefactos militares e de caça com cerca de 3600 peças, muitas delas “troféus” da vitória conquistada pelo exército romeno, liderado por Carol I, na batalha de Pleven durante a guerra russo-turca de 1877-1878 – e que levou a que meses mais tarde a Roménia conseguisse a sua independência como país, pois até então tinha estado legalmente sob o domínio do Império Otomano).

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Apesar de não parecer muito grande quando visto de fora, o palácio é enorme. São seis pisos com 170 divisões (entre elas, 30 casas-de-banho!) decoradas numa multiplicidade de estilos diferentes, todas sumptuosas e muitas até mesmo extravagantes.

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A maioria dos inúmeros elementos em madeira foram concebidos pelo ebanista austríaco Bernhard Ludwig. A divisão mais conhecida, luminosa e icónica é a Sala de Honra (Holul de Onoare), forrada a painéis de madeira esculpida, com vitrais no tecto e uma maravilhosa escadinha em espiral suspensa entre andares, que parece não levar a lado nenhum…

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Na Sala Mare de Arme e na Sala Mică de Arme (Sala de Armas Grande e Pequena, respectivamente) está exposta a maior parte das armas que fazem parte da colecção do palácio.

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Entre as várias outras salas particularmente fora do vulgar e excêntricas do palácio, há umas quantas que achei especialmente interessantes:

 

  • a Sala de Teatro, soalheira com as suas cadeiras e paredes forradas de tecido dourado e com frisos pintados por Klimt (supostamente, terá sido aqui que ocorreu a primeira projecção de um filme na Roménia, em 1912)

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  • o Salonul Maur (Salão Mourisco), com uma fonte em mármore de Carrara que replica uma outra similar existente no Cairo

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  • o Salonul Turcesc (Salão Turco), forrado a sedas bordadas à mão e que era usado como salão de fumo para os cavalheiros

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  • o Salonul de Muzică, cujo mobiliário de teca foi oferecido a Carol I pelo Marajá de Kapurtala

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  • o Quarto Rococó, onde eram alojadas as personalidades mais ilustres convidadas para o palácio

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  • a Suite Imperial, que foi concebida no estilo barroco austríaco em tributo (segundo consta) ao Imperador Francisco José

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Os inúmeros vitrais que adornam as janelas do palácio datam na sua maioria dos séculos XV e XVII e são originários da Alemanha e da Suíça.

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O Castelo de Peleș abriga ainda uma enorme e valiosíssima colecção de pintura que conta com quase duas mil obras.

 

Inaugurado em 1883, Peleș foi o palácio de Verão da família real romena até 1947, quando o rei Mihai I (Miguel em romeno) foi forçado a abdicar do trono, após o que a Roménia passou a ser uma República. No palácio, os reis acolhiam membros da realeza e artistas famosos de todo o mundo, e foi também ali que se organizaram várias reuniões importantes por alturas do início da 1ª Grande Guerra.

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O edifício do palácio ergue-se na encosta de uma colina relvada contornada de árvores. Está rodeado por sete terraços de pedra decorados com escadarias de mármore, vasos ornamentais, fontanários e um sem-número de estátuas. Uma delas reproduz a rainha Elizabeth enquanto outra, quase em frente à entrada principal, eterniza para a posteridade o rei Carol I em traje e pose marcial.

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A propriedade onde foi construído o palácio é um parque enorme e muito bonito onde se inserem jardins, pavilhões e vários outros edifícios, entre eles um outro palácio concebido para servir de residência ao sobrinho de Carol I, que mais tarde viria a ser coroado como Ferdinand I. O Castelul Pelișor parece um chalé alpino com dimensões generosas e vale também muito a pena visitá-lo. Um dia destes falarei sobre ele mais em pormenor.

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Apesar de o palácio ter sido devolvido à família real em 2006, o seu recheio continua a pertencer ao Estado. Sendo um dos monumentos mais famosos e procurados da Roménia, há que contar com filas de espera irritantemente longas para o visitar, que dependem também da língua em que queremos ouvir o guia – isto porque todas as visitas são guiadas. Há duas opções de visita, que obviamente têm preços diferentes. A visita mais simples cinge-se ao piso principal e dura cerca de 45 minutos, a mais completa demora 1 hora e um quarto e inclui o piso superior. E se quiserem tirar fotografias, preparem-se também para pagar.

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Pelo seu carácter único e monumental, o Castelo de Peleș é de visita absolutamente obrigatória para quem viaja pela Roménia. Sinaia fica a cerca de 150 km de Bucareste e a deslocação faz-se perfeitamente em apenas um dia, tanto de carro como de comboio. Há também inúmeros tours com saída de Bucareste que incluem Peleș no seu roteiro.

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Foi sem dúvida um dos lugares de que mais gostei em toda a viagem, pela sua enorme originalidade, e – acreditem! – é um daqueles sítios que não desilude nem um bocadinho o visitante.

 

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Um roteiro na Roménia

10 razões para visitar a Roménia

O melhor segredo da Roménia

Nos passos de Vlad Dracul

Dois dias em Bucareste - dia 1

Dois dias em Bucareste - dia 2

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