Visitar os Kew Gardens
Os maravilhosos Jardins Botânicos Reais de Kew, na periferia de Londres, são uma das maiores atracções turísticas da capital inglesa, e o seu valor como paisagem histórica é tão grande que estão desde 2003 classificados como Património Mundial pela Unesco.
Criados em 1759 pela Princesa Augusta, os Kew Gardens ilustram de forma ímpar os períodos característicos da arte paisagística dos séculos XVIII a XX, com ambientes criados por arquitectos paisagistas de renome internacional e reflectindo as tendências artísticas da Europa e de regiões mais distantes. Os jardins têm também estado, desde o princípio, intimamente ligados às mudanças científicas ocorridas ao longo dos tempos nas áreas da botânica e da ecologia, contribuindo de forma muito significativa e ininterrupta para a conservação biológica, nomeadamente através do seu banco de sementes, o “Kew’s Millennium Seed Bank”, que já conta com mais de 36 mil espécies de plantas selvagens. E como se isto não bastasse, são também a casa de extensas e variadas colecções: um herbário com mais de sete milhões de espécies conservadas, plantas vivas em número superior a 30 mil, e uma biblioteca com mais de 750 mil volumes e 175 mil desenhos e ilustrações de plantas.
Ocupando uma área de 1,21 Km2, os jardins oferecem uma grande diversidade de paisagens e atracções e são precisas várias horas para os visitar – e não fossem as dores nos pés e o cansaço, nem daríamos por elas passarem…!
Venham comigo conhecer alguns dos lugares mais emblemáticos dos Kew Gardens.
A Estufa das Palmeiras (Palm House)
É considerada a estrutura vitoriana de ferro e vidro ainda existente mais importante do mundo. Foi desenhada por Decimus Burton e projectada por Richard Turner para abrigar as palmeiras exóticas trazidas para Inglaterra de outros pontos do globo. Foi a primeira vez que se usaram estruturas de ferro forjado tão amplas sem estarem apoiadas em colunas, e possui 16.000 vidraças.
Neste curto vídeo, o famoso naturalista David Attenborough fala-nos da Palm House:
O Aquário Marinho
Alojado no subsolo da Palm House, este aquário recria quatro grandes habitats marinhos, ilustrando a importância das plantas nestes ambientes. Mas as “estrelas da companhia” são mesmo os peixes e outros habitantes das águas, como os cavalos-marinhos ou as engraçadas enguias-de-jardim.
O Lago da Palm House
A escultura que vemos no lago perto da Palm House representa Hércules a lutar com o deus-rio Aqueloo. Foi executada em 1826 a pedido do Rei Jorge IV, mas s ó foi instalada em Kew em 1963 – antes disso, ocupou o terraço leste do Castelo de Windsor.
A Estufa Temperada (Temperate House)
A maior estufa vitoriana actualmente existente abrange uma área de quase 5 mil metros quadrados e atinge 19 metros de altura. Foi criada em 1860 também por Decimus Burton e abriga uma importante colecção de plantas que se encontram nas regiões temperadas do nosso planeta.
O Pagode Chinês (Great Pagoda)
Este Pagode foi concebido por Sir William Chambers e a sua construção terminou em 1762. É uma torre octogonal com dez andares distribuídos por 50 metros de altura, cada nível sendo 30 cm mais estreito do que o imediatamente abaixo. Apesar de ignorar uma regra básica dos pagodes chineses (que têm sempre um número ímpar de níveis), foi na altura a reprodução mais fiel de um edifício chinês na Europa – tão invulgar que muita gente pensou que não iria conseguir manter-se de pé.
O Portão Japonês (Japanese Gateway)
O Chokushi-Mon (que significa “Portão do Mensageiro Imperial”) é uma réplica à escala de quatro quintos do Portão de Nishi Hongan-ji em Quioto, no Japão. Foi criado para a exposição nipo-britânica que teve lugar em Londres em 1910 e depois reconstruído nos jardins de Kew. Construído no estilo rococó japonês (Momayama), a madeira foi primorosamente trabalhada em relevo com flores e animais estilizados.
Em volta deste Portão foi concebido em 1996 um jardim japonês adaptando os estilos de jardim do período Momayama: caminhos desenhados entre lanternas japonesas, bacias de água gotejante, gravilha e grandes pedras, rododendros e anémonas japonesas.
O Jardim de Bambu
Em 1891, quando este jardim foi criado, continha 40 espécies de bambu originárias essencialmente do Japão. Hoje tem cerca de 1200, vindas também da China, dos Himalaias e das Américas. Como algumas destas espécies crescem rapidamente e são muito invasivas, estão contidas entre pesadas barreiras de material plástico.
A Casa Minka
No Jardim de Bambu encontramos também uma casa tradicional das quintas japonesas. Originária da região de Okazaki, no sul do Japão, está colocada sobre uma base de grandes lajes – as minkas não tinham fundações de cimento, para permitir a sua flexibilidade na ocorrência de um terramoto. Com uma estrutura feita de troncos de pinheiro atados com cordas, foi construída sem pregos e os seus diversos elementos estão unidos por um sistema de juntas. Até meados do séc. XX, nos ambientes rurais, a maioria das pessoas vivia em casas deste tipo (minka significa literalmente “casa de pessoas”).
O Lago dos Nenúfares
Este é um dos lugares mais tranquilos do parque. Quando os nenúfares estão em flor faz lembrar um autêntico quadro de Monet. Nas margens passeiam galinhas d’água e engraçadíssimos galeirões, e os bancos estrategicamente colocados convidam ao descanso.
O Arboretum
Os Kew Gardens têm no seu Arboretum uma livraria viva cujo número de árvores supera as 14.000 – algumas delas datando do séc. XVIII – representando mais de 2.000 espécies diferentes (incluindo variedades raras e antigas). Explorar este Arboretum é ter uma rápida visão da beleza e diversidade das florestas que existem no nosso planeta, com as suas paisagens fantasticamente mutantes consoante a época do ano.
O Passadiço (Treetop Walkway)
No meio do Arboretum, entre a Estufa Temperada e o lago e 18 metros acima do solo, serpenteando por entre as árvores ergue-se um moderno passadiço de metal de onde temos vistas belíssimas sobre o jardim. Passear ao nível das copas das árvores é uma experiência invulgar e absolutamente recomendável. O piso é de grade e permite que se veja o chão lá em baixo, e as colunas de aço enferrujado que o suportam misturam-se com o ambiente natural. Concebido pelo mesmo gabinete de arquitectura que desenhou o London Eye (Mark Barfield Architects), a sua estrutura é baseada numa sequência numérica de Fibonacci, em consonância com a Natureza, onde esta mesma sequência é frequentemente encontrada nos padrões de crescimento.
O Lago
O grande lago dos jardins de Kew foi criado em 1856 numa área que estava a ser escavada para se obter cascalho para aplicar no solo da Estufa Temperada. Foram depois abertos túneis subterrâneos para ligar o lago ao rio Tamisa, que passa ali ao lado, e em 1861 ficou finalmente cheio. Com o cascalho que sobrou foram construídas quatro ilhas dentro do lago, agora cobertas com um tipo de vegetação que traz ao local notas de cor vibrantes, sobretudo no Outono.
A Orangery
Tal como o nome sugere, a Orangery foi concebida como estufa para o cultivo de citrinos, mas depois foi transformada para abrigar outras plantas de grande porte e mais tarde funcionou como museu onde eram exibidas madeiras de vários tipos. É actualmente um restaurante, e o único edifício concebido como estufa por Sir William Chambers (séc. XVIII) que sobreviveu até aos nossos dias.
O Palácio
O edifício mais antigo que se encontra nos Kew Gardens data de 1631 e serviu mais tarde como residência de Verão para o Rei Jorge III (que ficou conhecido como “o ei louco que perdeu a América”), a sua mulher e os seus 15 filhos. Pertence ao grupo dos Palácios Reais Históricos.
O Templo do Rei Guilherme
Construído em 1837 para a Rainha Vitória e situado no Jardim Mediterrâneo, este templo foi erigido em memória do Rei Guilherme IV (de quem Vitória herdou o trono do Reino Unido). Teve inicialmente o pomposo nome de Templo do Prestígio Militar, e os seus pórticos de inspiração toscana ostentam placas de metal que comemoram as vitórias militares britânicas entre 1760 e 1815.
O Templo de Bellona
Este é mais um edifício construído em honra das artes militares: Bellona era a deusa romana da guerra. Foi também concebido por Sir William Chambers, em 1760.
Os bancos de madeira
Tal como noutros jardins londrinos, os bancos de madeira dos Kew Gardens são todos idênticos e seguem um modelo tradicional (e mais popular ainda por ser o leitmotiv da cena final do filme “Notting Hill” – lembram-se?). A maioria destes bancos ostentam uma placa de metal com uma dedicatória – patrocinar um banco nos jardins de Kew é uma forma única de assinalar uma data especial ou comemorar a vida de um ente querido.
E para abrir ainda mais o apetite para visitar estes lindíssimos jardins, aqui fica um curto vídeo sobre os Kew Gardens:
Informações úteis
Website: http://www.kew.org/
Horário: todos os dias das 10 às 17.45 (última entrada às 17.15); no entanto, o horário de encerramento varia ao longo do ano, dependendo da estação e dos eventos organizados nos jardins.
Como chegar:
Metro – Estação Kew Gardens (a 500 m de Victoria Gate)
Comboio – Estação Kew Bridge (a 800 m de Elizabeth Gate)
Autocarro: N.º 65, pára em Victoria Gate e Lion Gate
De carro: existe um parque de estacionamento (pago) que funciona das 9.30 até 30 minutos depois da hora de encerramento do parque
De bicicleta: existem grelhas para bicicletas em todas as entradas dos jardins
De barco: de Abril a Outubro, a Thames River Boats opera embarcações de passeio que saem várias vezes por dia do Westminster Pier e têm paragem em Kew
Bilhetes:
Adultos – comprados online £17.75 (inclui uma doação) / £16; comprados na entrada £18.75 (inclui uma doação) / £17
Crianças – até aos 4 anos: grátis; dos 4 aos 16 (obrigatoriamente acompanhadas por um adulto): £4 (online); £5 (na entrada)
Estudantes (necessário apresentar prova) – comprados online £8.50 (inclui uma doação) / £7.50; comprados na entrada £9.50 (inclui uma doação) / £8.50
Especiais (para visitantes com incapacidade e maiores de 60 anos) - comprados online £15.50 (inclui uma doação) / £14; comprados na entrada £16.50 (inclui uma doação) / £15
(publicado na rubrica Viagens da revista Inominável nº 13)
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