O ano de todas as ameaças
Pode ser impressão minha, mas creio que em tantos (tantos!) anos de Verões em que o fogo assola o nosso país sem dar tréguas, nunca houve outro em que tanto património – humano e construído – tenha estado tão ameaçado como este ano. Até agora os fogos pareciam afectar sobretudo áreas florestais, com uma ou outra aldeia mais remota esporadicamente evacuada. As perdas – sempre desmesuradas, sempre lamentáveis – contabilizavam-se sobretudo ao nível da massa arbórea da área ardida, com a infelicidade ocasional de uma morte ou de bens materiais destruídos.
Este ano parece-me estar a ser diferente, e bem mais pesado. O elevado número de vidas perdidas no incêndio de Pedrógão (e até disto há quem vergonhosamente tente tirar dividendos políticos), as muitas aldeias já consumidas pelos fogos, os animais que não puderam ser salvos, os bens pessoais irrecuperáveis… este ano parece não haver incêndio cuja factura não seja ainda mais elevada do que já era habitual. Infelizmente, lamentavelmente. Uma tristeza.
Isto vem a propósito do incêndio que está agora activo na zona das Portas de Ródão – tão activo que no momento em que escrevo isto está considerado como incontrolável. Estive lá há coisa de um ano, num fim de tarde morno e tranquilo, ideal para apreciar toda aquela beleza. O Tejo parado como um espelho, o castelo do Rei Wamba vigiando lá do alto o curso do rio, as escarpas que dão o nome ao local (disto tudo já falei aqui e aqui). A esta hora, com o lugar transformado numa fornalha – o incêndio já passou pelo castelo e agora aproxima-se das Portas – e mais uma aldeia já evacuada, a paisagem estará certamente diferente da que vi e fotografei. Tristemente diferente…
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