Lugares em preto e branco - 9
Portugal
A CALÇADA PORTUGUESA
Adorada por uns e injuriada por outros, a calçada portuguesa não deixa ninguém indiferente. Herança histórica da cultura e da tecnologia de construção dos romanos, fomos nós, os portugueses, que lhe demos vida e características especiais, e a espalhámos pelo mundo, sendo reconhecida e apreciada internacionalmente como uma manifestação bem-sucedida da nossa cultura. Onde quer que encontremos pavimentos calcetados com paralelepípedos de pedra branca e negra formando desenhos, podemos ter a certeza de que a inspiração e a ideia partiram daqui, do nosso rectângulo à beira-mar plantado.
Tal como toda a expressão artística que se preze, na arte calceteira existem vários tipos de aplicações de pedra. Entre eles, há que notar a distinção entre “calçada à portuguesa” e “calçada portuguesa”. Nesta última, a mais utilizada desde meados do séc. XX, as pedras são cortadas em cubos e colocadas de forma regular e diagonalmente em relação à borda dos passeios, enquanto na calçada à portuguesa as pedras têm forma, tamanho e modo de aplicação irregulares.
Embora a técnica fosse largamente utilizada no nosso país desde o séc. XIV, só perto de meados do séc. XIX é que a calçada portuguesa, tal como hoje a conhecemos, surgiu e se popularizou. E onde? Em Lisboa, pois claro, mais especificamente no Castelo de S.Jorge e seus arredores, por ordens do governador da fortaleza e pelas mãos dos presidiários ali encarcerados, que revestiram os pavimentos circundantes com pedras brancas e pretas intercaladas, formando ziguezagues. O sucesso da obra foi tal que em breve os espaços de passeio de Lisboa passaram a ser todos calcetados deste modo.
Apesar de associarmos quase sempre a cor preta da pedra ao basalto, a verdade é que na calçada portuguesa são habitualmente utilizados o calcário branco e o negro. O basalto apenas é usado nas ilhas, onde existe em abundância e se torna mais económico, pois é um material muito mais duro e difícil de trabalhar.
De Portugal para o mundo, hoje a calçada portuguesa marca presença em muitas cidades: Rio de Janeiro, S.Salvador da Baía, Luanda, Maputo, Macau, e – pasme-se! – até mesmo em Nova Iorque e Pequim. Mas é ainda e sempre em Lisboa que ela conhece o seu maior esplendor e variedade de padrões e onde tem, por reflectir intensamente a luz que recebe, uma grande quota-parte na responsabilidade da aura da cidade branca.
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