Croácia - diário de viagem XVI - Zadar-Zagreb-Lisboa ou partir com vontade de voltar
Zadar é uma cidade muito peculiar e intrigante: consegue congregar tranquilidade com cosmopolitismo, história com modernidade, inovação com classicismo. Cheia de motivos de interesse, mesmo assim não está demasiado sobrepovoada nem descaracterizada pelo turismo, e é vibrante o suficiente mas sem exagerar. Visita-se com calma, e foi o lugar ideal para fechar da melhor forma umas férias inesquecíveis.
Como o nosso voo era só ao início da noite, e apesar de ainda termos de fazer a viagem até Zagreb, pudemos aproveitar a manhã toda para conhecer mais um pouco do centro histórico de Zadar. E começámos precisamente por onde tínhamos terminado na noite anterior: a Praça dos Cinco Poços, agora bem diferente à luz do sol matutino; foi aqui que decidimos tomar o pequeno-almoço numa original mesa da esplanada do Café Lero.
Urbanizada pelos venezianos no período renascentista, em Zadar são bem notórias as influências arquitectónicas desta época, com as loggias a ocuparem lugar de relevo e a conferirem à zona antiga da cidade um carácter especial e bastante diferente do de outras cidades croatas.
É na Praça do Povo (Narodni Trg) que esta originalidade se faz sentir de forma mais acentuada. Centro da vida pública desde o Renascimento até aos nossos dias, foi aqui que as instituições oficiais estiveram instaladas ao longo dos séculos, e é aqui que ainda encontramos o coração do centro histórico da cidade, energicamente animado pelo fluxo de pessoas que a atravessam em constante vaivém. No lado norte ergue-se o Gradska straža (Guarda da Cidade), edifício desenhado em 1562 no estilo renascentista tardio pelo arquitecto veneziano Michele Sanmicheli, ao qual foi acrescentada no séc. XIX a torre do relógio, com um sino no topo. No lado oposto da praça, a Gradska loža (Loggia da cidade), reconstruída em 1565 também por Sanmicheli, e mais tarde no séc. XX por ter sido gravemente danificada durante a 2ª Guerra Mundial. Actualmente funciona como espaço de exposições. Entre estes dois edifícios emblemáticos ergue-se um outro, bem mais discreto, que alberga a Câmara Municipal, paredes meias com o Palácio Ghirardini e a sua janela gótica do séc. XV.
Da Praça do Povo, outra rua estreita mas igualmente movimentada desemboca numa das portas da muralha, no lado nordeste da Península. Daqui temos uma vista desafogada para a parte nova da cidade, com a Gradski Most (ponte da cidade) a estender-se sobre as águas paradas do porto – contrastando com o movimento incessante das centenas de pessoas que a atravessam.
Voltámos à Riva para uma última despedida da cidade, descendo junto à água até chegarmos aos edifícios da Universidade, alojada no que foi em tempos o Instituto de S. Dimitri: um conjunto monumental construído em inícios do séc. XX em estilo neoclássico, pintado de amarelo e branco, onde se destacam a cúpula central e as colunatas do frontispício da capela. A Universidade de Zadar é uma das mais antigas da Europa. Fundada em finais do séc. XIV (sendo a primeira instituição de ensino superior do país), foi abolida em 1807 quando a Dalmácia passou a fazer parte do império francês, e embora as suas funções nunca tenham desaparecido por completo (foram dispersas por outras instituições, em Zadar e noutras cidades), só em 2002 readquiriu o seu título como universidade independente.
De regresso à estrada, apanhámos a E71 para Zagreb. Em alternativa poderíamos ter ido pela estrada nacional até Karlovac, fazendo o percurso inverso ao que nos tinha levado da capital até Split, mas a poupança de 15 quilómetros e alguns euros em portagens não compensava a diferença de quase uma hora de viagem a mais.
A opção revelou-se ainda mais certa quando parámos, cerca de duas horas depois, numa estação de serviço de para petiscar alguma coisa. Operado pela cadeia Marché, este restaurante/self-service é uma festa de frescura para os sentidos: várias bancadas cheias de fruta de inúmeras variedades e nas mais variadas formas, sumos, saladas, pães, sopas e outros pratos cozinhados, e praticamente tudo o mais que possam desejar, com um ar fresquíssimo e apetitoso, que faria corar de inveja os restaurantes das nossas estações de serviço. Super limpo, empregados com um aspecto impecável (só é pena os croatas não serem as pessoas mais simpáticas do mundo…), decoração à base de madeiras e materiais naturais, com plantas à mistura… Fiquei absolutamente fã do conceito, e é pena não o aproveitarem aqui para o nosso “jardim à beira-mar”. O ex-libris da cadeia é uma simpática vaca leiteira pintada em tons de verde, colocada do lado de fora da porta de entrada, junto à esplanada – sim, sim, têm esplanada (onde nos instalámos, claro!) e também um mini parque infantil no interior. Uma espécie de oásis à margem da quilométrica fita de asfalto de quase 300 km que é a auto-estrada entre Zadar e Zagreb, e onde ficámos a vegetar durante bastante tempo tentando esticar as poucas horas que nos faltavam para a partida, já com alguma nostalgia misturada nas nossas conversas.
Mais uns curtos três quartos de hora e estávamos no aeroporto para a rotina de fim de viagem do costume: entregar o carro, gastar as últimas kunas em chocolates, e passar pela seca normal das formalidades aeroportuárias – que à saída de Portugal encaramos sempre com enorme animação (pudera, vamos viajar!), mas no regresso meramente aceitamos com a resignação de quem sente que o tempo passa demasiadamente a correr, sobretudo quando estamos num país que nos enche as medidas tanto quanto a Croácia conseguiu.
E só para vos abrir (ainda mais) o apetite, ficam aqui os links de três filmezinhos no YouTube que mostram bem o quanto há para descobrir na Croácia – e que é muito, muito mais do que o que pude ver nesta viagem.
https://www.youtube.com/watch?v=mdy4PF9zPO8
https://www.youtube.com/watch?v=XggH-avvMjM
https://www.youtube.com/watch?v=MDnzJmzHcMc
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