Croácia - diário de viagem - VI - Trogir ou um património da humanidade pouco conhecido
Ininterruptamente habitada desde a Pré-História até aos nossos dias, Trogir alia um património histórico e cultural invejáveis a uma localização geográfica privilegiada, e é uma das cidadezinhas mais encantadoras da Dalmácia. No entanto é – injustamente – pouco divulgada como destino turístico, pelo menos entre nós, mantendo-se na sombra de cidades como Split, Zadar e, obviamente, Dubrovnik. Mas (acreditem!) é um lugar imperdível.
Por razões que explicarei no próximo post, o quinto dia da nossa viagem foi praticamente todo passado em Seget Donji. Só ao fim da tarde decidimos ir até Trogir para comprar comida no supermercado (o nosso apartamento tinha kitchenette) e jantar na cidade.
O centro histórico de Trogir, classificado pela Unesco como Património da Humanidade desde 1997, é uma pequena ilha quase colada ao continente, a norte, e separada da ilha de Čiovo, a sul, por um estreito braço de mar. Como em todos os centros históricos, no seu interior não há trânsito de veículos motorizados – até mesmo porque na maioria das ruas seria impossível passar algo maior do que uma simples bicicleta.
Por essa razão, mesmo antes de cruzar a ponte pedonal que nos leva ao centro histórico existem vários parques de estacionamento onde se pode deixar o carro – todos eles pagos, como seria de esperar, que o progresso já há muito tempo chegou à Croácia e já perceberam que o turismo é uma excepcional fonte de rendimentos em todas as vertentes. Mas adiante. Só a título de curiosidade, deixem-me dizer-vos que as cancelas do parque tinham um sistema de identificação de veículos por matrícula (que cá ainda não encontrei) que permitia não ser necessário usar qualquer ticket para sair: efectuado o pagamento na caixa, assim que nos aproximávamos da cancela ela levantava-se automaticamente ao identificar a matrícula do carro. Muito prático, e bem que podiam implementar o sistema aqui no nosso rectângulo.
Da ponte pedonal vemos ao fundo, para oeste, os blocos de pedra cinzenta da Torre de São Marcos destacando-se no céu rosado do final da tarde. O canal da margem norte é uma espécie de prolongamento da marina que praticamente rodeia a ilha, e está cheio de pequenas embarcações. Num país com mais de 600 ilhas e ilhotas não podem faltar barcos, nem lugar para os atracar.
Circunscrito por muralhas, o centro medieval de Trogir é pequeno, labiríntico e cheio de vida. Em tempos sob o domínio veneziano, entre os sécs. XV e XVIII, da época renascentista sobrevivem até hoje, muito bem preservados, inúmeros palácios, igrejas e torres. O ex libris da cidade é a Catedral de S. Lourenço (também conhecida como Catedral de S. João), com origens no séc. XIII mas cuja configuração actual data da remodelação de que foi alvo no séc. XV. Além da torre sineira que paira acima das três naves do edifício, o elemento que mais chama a atenção é a porta ocidental concebida e maioritariamente executada por Mestre Radovan, onde sobre os sempiternos leões (símbolo de Veneza) se erguem as figuras nuas de Adão e Eva, uma de cada lado da porta.
O largo onde se insere a Catedral está quase completamente ocupado por esplanadas, e à noite é iluminado em jeito de discoteca, com luzes psicadélicas de várias cores, às quais não escapam a Igreja de São Sebastião, a sua Torre do Relógio e a Loggia adjacente.
Mesmo em frente à Catedral ergue-se uma construção difícil de ignorar pela sua beleza: o Palácio Ćipiko, com as suas janelas em estilo gótico veneziano. Dentro do átrio, de portas abertas, está exposto um galo de madeira resgatado de uma galera turca que participou na batalha de Lepanto em 1571 – a batalha que travou definitivamente o avanço dos Otomanos pela Europa adentro.
Trogir também tem uma Riva – um larguíssimo passeio pedonal à beira-mar cheio de esplanadas, limitado de um lado pelas muralhas da cidade e do outro pelos variados iates atracados na margem, com a Fortaleza Camerlengo no extremo oeste.
Durante a 2ª Guerra Mundial, Trogir foi bombardeada e o convento de S. Domingos, também do séc. XIII e um dos monumentos mais importantes da cidade, ficou muito danificado. Hoje completamente recuperado, é um dos edifícios que chamam a tenção quando passeamos na Riva, onde se perfilam também o Palácio Lučić, o Forte de S.Nicolau e mais à frente o Mosteiro de S.Nicolau.
A noite estava agradável e percorremos com calma as ruas e becos do centro medieval, até que finalmente decidimos parar para jantar no restaurante Capo (http://www.capo-trogir.com). Tem um pátio interior ao ar livre, trepadeiras nas paredes de pedra e uma decoração rústica com pormenores engraçados. A cozinha é aberta e o menu suficientemente variado. As paredes espessas resguardam o ambiente, que é tranquilo e confortável. Escolhemos o “Prato Azul”, com vários tipos de peixe marinado e salada, suficientemente leve para um jantar já um pouco tardio.
Trogir é uma cidade absolutamente romântica e cheia de encantos, que o seu aproveitamento turístico não consegue diminuir. Como bem o demonstra este vídeo promocional da Direcção de Turismo da cidade. Vejam… e apaixonem-se.
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