Croácia - Diário de viagem - IV - Os Lagos de Plitvice ou como passar um dia no paraíso
Se outras razões não houvesse, o Parque Nacional dos Lagos de Plitvice seria, por si só, motivo suficiente para uma viagem à Croácia. Duvidam? Então venham comigo…
Imaginem uma área de floresta densa com quase 300 km2, em zona montanhosa, onde vários pequenos rios e ribeiros confluem para formar uma bacia de 8 quilómetros de comprimento com 16 lagos que se sucedem uns aos outros, separados por cascatas. Imaginem que as águas desses lagos são cristalinas, têm cores que vão do cinzento ao azul e verde em todos os tons que possam idealizar e que vão mudando consoante a posição dos raios solares ou os tipos e a quantidade de minerais que nelas se acumulam. Imaginem borboletas e pássaros, peixes e patos, vegetação aquática e zonas de bosque com árvores altíssimas. Imaginem 18 quilómetros de passadiços de madeira e trilhos de terra batida que serpenteiam em volta dos lagos e sobre as águas, cada volta do caminho oferecendo-nos um quadro diferente, cenários de beleza natural sucedendo-se um após o outro. Eu sei, é difícil de imaginar. E nem as melhores fotografias conseguem verdadeiramente fazer justiça à maravilha que é o Parque dos Lagos de Plitvice (ou Plitvička Jezera, na língua original).
Quando comecei a preparar o roteiro para esta viagem tinha em mente dois locais que eu não abdicaria de visitar, dois locais que eram a força motriz do meu desejo de visitar a Croácia, e em função dos quais eu planeei tudo o resto; um deles era precisamente o Parque de Plitvice. Criado em 1949 e tornado Património Mundial da UNESCO em 1979, este Parque é famoso em todo o mundo e recebe anualmente mais de um milhão de visitantes.
Com expectativas tão altas, a realidade até poderia ter-me decepcionado, como por vezes acontece. Mas – acreditem! – não foi o caso; pelo contrário, o Parque de Plitvice ultrapassou em muito o que eu esperava.
O Parque abre cedo (às 8 da manhã), mas o dia estava cinzento e algo frio, por isso só chegámos por volta das 10 horas à Entrada 2, a mais próxima do nosso alojamento. O parque de estacionamento – que é pago, mas não é muito caro (cerca de 1€/hora) – já estava bastante cheio, mas ainda conseguimos arranjar um lugar não muito longe e não muito mau, entre árvores e outros carros estacionados um pouco erraticamente. Depois, fila para comprar os bilhetes (cerca de 15€/pessoa, mas os preços variam consoante a altura do ano), que tiveram de ser pagos em dinheiro porque o multibanco não estava a funcionar. Pequeno-almoço rápido num dos bistros da entrada, e ala que já eram dez e meia e tínhamos muito que andar.
Explorar o Parque demora cerca de seis horas se se fizer todo o percurso a pé, e menos duas se se optar por fazer alguns trajectos de barco ou de autocarro. Há ainda que contar com tempo para comer, ir à casa-de-banho (preparem-se para filas…), ou comprar as lembranças do costume. Apesar da grande extensão dos caminhos e da inclinação do terreno nalguns pontos, é um passeio fácil e não demasiado cansativo, acessível a toda a gente. Há muitas famílias com filhos pequenos e até carrinhos de bebé, pessoas com mobilidade reduzida, e os cães são permitidos, desde que andem com trela. É proibido tomar banho nos lagos, e acredito que no Verão, quando está calor, essa proibição seja uma tortura. Mas no nosso caso não houve qualquer tentação, que o dia estava feioso e frio – e isso acabou por ser uma vantagem, pois caminhar já é uma actividade que aquece bastante o corpo.
Os lagos estão divididos em dois grupos, 12 superiores (Gornja jezera) e 4 inferiores (Donja jezera), e os seus nomes derivam quase todos de acontecimentos históricos verídicos ou de lendas. O desnível entre o primeiro (Prošćansko jezero) e o último (Novakovića brod) – que se situa cerca de 500 metros acima do nível do mar – é de 150 metros.
Plitvice_Lakes_System By Raffaello - Own work, CC BY-SA 3.0,
Perto da Entrada 2, nas margens do Kozjak, o maior dos lagos, há um embarcadouro onde é possível alugar barcos a remos para passear no lago (cerca de 7,5€/hora), uma opção que deve ser bem agradável quando o tempo está bom.
Mas nós preferimos apanhar um barco que estava prestes a partir para a outra margem do Kozjak e iniciar aí o nosso percurso para sul em volta dos lagos superiores.
É num destes lagos, o Galovac, que se encontra a segunda maior queda de água do Parque, a Galovački buk, onde a água cai de uma altura de 25 metros.
De regresso ao embarcadouro, apanhámos outro barco que nos levou até ao extremo norte do Kozjac, um dos pontos de acesso aos trilhos que percorrem os lagos inferiores. No local onde o barco pára existe uma grande área relvada e rodeada de abetos onde colocaram mesas e bancos de madeira para os visitantes poderem descansar e comer. Há vários snack-bars em volta, casas-de-banho e uma loja com “souvenirs” do Parque.
Os lagos inferiores, embora em menor número, são a zona mais fotografada e quiçá fotogénica do Parque de Plitvice.
É aqui que um longo passadiço de madeira cruza os lagos junto à cascata de Velike, passando depois junto à entrada da caverna de Šupljara – que tem umas escadas interiores em pedra que nos levam até à superfície, 80 metros acima, desembocando num miradouro de onde se tem a vista mais fabulosa sobre os lagos inferiores. No entanto, para gozar esta vista não é necessário subir pelo interior da caverna, pois o caminho que rodeia o lago passa precisamente junto a esse miradouro (mas só depois de percorridas bastantes centenas de metros).
É também no extremo dos lagos inferiores que se encontra a queda de água mais alta de toda a Croácia, de seu nome Veliki Slap (que significa precisamente “grande queda de água”). Aqui, o rio Plitvice cai de uns impressionantes 78 metros de altura e junta-se à massa de água que vem dos lagos, para formar o rio Korana.
Depois de cruzarmos o rio, o caminho sobe em ziguezague, oferecendo excelentes oportunidades para se tirarem belíssimas fotos dos lagos vistos de cima.
Ao chegarmos à Entrada 1 o cansaço já fazia das suas e decidimos apanhar o autocarro – que é na verdade uma espécie de pequeno comboio eléctrico com rodas – de regresso até à Entrada 2 do Parque. (Nota: para quem não gostar de subidas, o percurso em volta dos lagos inferiores pode ser feito no sentido inverso, partindo de autocarro da Entrada 2 e apanhando o barco de regresso no final.)
As cerca de seis horas que estivemos no Parque passaram a voar, e confesso que foi com alguma relutância que saímos, sabendo já que aquele pedaço de paraíso na Terra nos ia deixar muitas saudades. Mas o dia estava a ficar escuro e a chuva, que milagrosamente se tinha mantido longe durante todo o nosso passeio, ameaçava começar a cair.
E realmente não tardou. Caía com intensidade quando saímos à noite para jantar no restaurante Poljana, que fica situado precisamente na estrada que dá acesso às entradas do Parque. A sala é grande mas tem um ambiente acolhedor, com uma enorme lareira aberta no centro. Atmosfera calma, com pouco ruído, e um serviço simpático e rápido. Não sendo o menu muito imaginativo, tinha variedade suficiente e a comida estava boa.
Há dias assim: perfeitos. Este foi um deles. Não é fácil colocar em palavras todas as sensações que este e outros locais privilegiados da Natureza me provocam; os ruídos da água e dos pássaros, os cheiros da vegetação e da terra húmida, as infinitas tonalidades de cor que os meus olhos vão filmando numa tentativa vã de reter cada cenário, cada pormenor que mais tarde tentarei relembrar, recriar, para imaginar que estou de regresso a um local que me fez feliz.
E a viagem estava ainda no princípio.
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