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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Sex | 09.12.22

Coimbra, Lousã, Góis: cidade, serra e água num roteiro de 3 dias - parte 2

A serra e o xisto

 

Lousã é vila e é serra, e é também porta aberta para um mundo de possibilidades: visitar um castelo e um santuário, descansar numa praia fluvial, fazer uma caminhada em passadiço de madeira ou pelos trilhos da serra, visitar aldeias muito antigas que já estiveram abandonadas e agora conhecem uma nova vida, percorrer estradas serranas desafiantes. Passaporte para um dia memorável.

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Dia 2

 

Este dia pode começar com um passeio a pé pelo centro da vila da Lousã. Com calma, vamos descobrir as suas ruas tranquilas e os edifícios apalaçados – de que o melhor exemplo é o Palácio dos Salazares (agora um hotel) –; a Capela da Misericórdia, a Igreja Matriz e, atrás dela, o Pelourinho (monumento nacional que data do séc. XX e tem a particularidade de ser encimado por três rostos); as avenidas com árvores de folhas tornadas rubras pelo Outono. Para quem quiser conhecer um pouco mais da cultura local, o ideal é visitar também o Museu Etnográfico Dr. Louzã Henriques, espaço interessante e bem organizado.

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A uns meros dois quilómetros da vila, escondido entre as voltas da serra, ergue-se o Castelo da Lousã, também conhecido por Castelo de Arouce, nome que partilha com o rio que passa na sua base. É um dos raros castelos construídos com pedras de xisto e também um dos meus castelos portugueses preferidos, sobretudo pelo ambiente que o rodeia. Sobre ele (e a sua lenda) escrevi há algum tempo um post, que podem ler aqui. Nesta minha recente visita tive a boa surpresa de finalmente poder visitar o seu interior. Um projecto municipal concretizado em 2019 dotou o troço da M580 que liga ao castelo de um passadiço de madeira lateral (retirando da estrada as muitas pessoas que fazem este percurso a pé, principalmente aos fins-de semana), instalou um pequeno e bem conseguido Centro de Interpretação e Acolhimento num recanto da muralha exterior, e criou as condições necessárias para que o castelo pudesse ser visitado por dentro.

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Agora já é possível subir à torre de menagem, ver a abertura da cisterna e percorrer parte da muralha, de onde se tem uma vista fenomenal sobre a serra em redor e o Santuário de Nossa Senhora da Piedade. Melhor ainda, é também possível ter uma visita guiada para ficar a conhecer toda a história e as particularidades do castelo e da sua envolvente. Podem obter mais informações no site da Câmara Municipal da Lousã ou contactando directamente os seus serviços por email ou telefone.

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Do castelo desce-se à Ribeira de São João (outro nome dado ao Rio Arouce) e à praia fluvial, rodeada de árvores de várias espécies, altíssimas, frondosas umas, outras já meio despidas e com a folhagem pintada com os amarelos e castanhos-avermelhados da época outonal. Há mesas de pedra, bancos, escadas metálicas de acesso à água e corrimãos para protecção de escorregadelas acidentais. Ao fundo, entre a vegetação densa, o rio salta em cascata, engrossado pelas chuvas habituais nesta altura do ano. Pese embora seja pequena, esta é para mim uma das praias fluviais mais bonitas do nosso país, e uma das menos artificiais.

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Passando a ponte de pedra, acedemos ao Santuário de Nossa Senhora da Piedade, um santuário mariano composto por várias capelas brancas. Três delas estão ligadas por escadinhas. A primeira, e mais antiga, é a Capela de São João, que se presume ter sido edificada no século XIII ou XIV. Do século XVIII serão as outras duas: a da Agonia, e a que se encontra no ponto mais alto e dá o nome a este santuário. Existe uma quarta capela, dedicada ao Senhor dos Aflitos, mas está longe das outras. Fica junto ao castelo, do outro lado da estrada, e só foi construída em 1912.

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Apesar dos seus 1205 metros (no Alto do Trevim, situado na linha divisória entre os distritos de Coimbra e Leiria), a Serra da Lousã não é famosa pela sua altura, mas sim pela sua beleza fascinante. Além disso, oferece alguns dos percursos pedestres mais compensadores (embora algo difíceis) para quem gosta de caminhar na natureza. Atravessamos zonas de floresta densa, passamos por cascatas e ribeiros, e até é possível ter algum encontro imediato com um javali ou um veado. Estes trilhos que serpenteiam pela serra fazem também a ligação entre as várias aldeias do xisto mais emblemáticas da Lousã: Cerdeira, Candal, Catarredor, Vaqueirinho, Chiqueiro, Casal Novo e Talasnal. Todas elas são visitáveis de carro, com a visita a implicar muitas curvas e contracurvas até lá chegar, por vezes em estradas estreitas e com vistas vertiginosas. Mas é percorrendo a serra a pé que percebemos quão difícil era o acesso a estas aldeias antes de o alcatrão chegar até elas, e a razão pela qual começaram a ser abandonadas nos anos 50, só voltando lentamente à vida a partir das duas últimas décadas do século passado.

É precisamente junto ao Castelo da Lousã que se inicia um destes percursos pedestres cheios de atractivos, que nos leva pela serra acima até duas das aldeias do xisto mais bem recuperadas desta região: Talasnal e Casal Novo. O PR2 da Lousã é um trilho circular com 6 km de extensão, mas devido aos seus grandes desníveis (alguns trechos são bastante íngremes) não se torna fácil percorrê-lo, seja em que sentido for (aconselha-se o sentido horário), e convém estar em relativamente boa forma física. Desenvolve-se tanto no meio de vegetação cerrada, rasgada por belíssimos cursos de água, como em zonas abertas que proporcionam vistas para paisagens desafogadas.

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A primeira aldeia a que chegamos é o Talasnal. Ao contrário de quem vem pela estrada, neste percurso entramos pela parte que se encontra mais abaixo na encosta, onde algumas casas ainda estão em ruínas – e acreditem-me, vale bem a pena todo o esforço feito para lá chegar, porque este lado da aldeia é fascinante. Depois há que passear pelas ruazinhas que se enroscam umas nas outras, entre casas cheias de pormenores rústicos e artesanais, às vezes naïf. Atentem nas janelas, tão encantadoras que até já lhes dediquei um post.

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O trilho continua até ao Casal Novo, onde as casas parecem escorrer pela encosta ao longo de uma rua central. Também aqui entramos “pela porta das traseiras” e percorremos a aldeia no sentido ascendente. Mais pequena e simples do que a sua vizinha, a aldeia do Casal Novo tem o atributo de ser um excelente miradouro sobre a vila da Lousã. A seguir encetamos o caminho de regresso ao castelo, agora sempre a descer, por um trilho largo mas bastante inclinado, que pode tornar-se escorregadio quando o tempo está húmido – e humidade é coisa que não costuma faltar na Serra da Lousã, frequentemente envolta numa neblina tão densa que mal deixa ver a estrada.

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Contornando a serra, em curvas, contracurvas e mais curvas, que tornam longínquas as distâncias mais curtas mas nos compensam com paisagens soberbas, vamos visitar outras duas aldeias do xisto. A primeira é Aigra Nova, e é uma boa surpresa. Pequenina e compacta, com casas bem recuperadas, duas delas estão ocupadas pelos núcleos do Ecomuseu Tradições do Xisto. Uma das exposições incide sobre a natureza na Serra da Lousã e a outra sobre a etnografia das aldeias do xisto que pertencem ao concelho de Góis. Na loja do Ecomuseu há produtos artesanais à venda, café e muita simpatia.

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Ao sairmos da aldeia, um rebanho de cabras gulosas pasta livremente pela encosta, indiferentes à beleza do manto vegetal colorido que cobre a serra e ao céu rosado do final de tarde.

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Dois quilómetros mais à frente e já com a luz a desaparecer, chegamos a Aigra Velha. À cota de 770 metros acima do nível do mar, entre todas as aldeias do xisto é a que está situada a maior altitude. Há meia dúzia de casas com ar de desabitadas, uma mais alta e recém-recuperada, as outras muito baixinhas, e todas estão fechadas – talvez pelo adiantado da hora, talvez por ser fim-de-semana, ou talvez por estar frio. A leste, no horizonte, a réstia de claridade ainda nos deixa ver a crista rochosa dos Penedos de Góis. No ar, a promessa de mais um dia à descoberta das paisagens desta região.

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