Bilhete-postal de Santorini - II
Santorini é uma ilha realmente especial. As suas características geográficas únicas conferem-lhe um ambiente muito particular, por isso o primeiro efeito que se sente é de absoluto e total encantamento.
A atmosfera
Embora o hotel não tenha vista para a caldeira (contenção orçamental oblige), basta sair e andar uns poucos metros para me entrar pelos olhos aquela imensidão de espaço verde e azul. Não há como não me deslumbrar. O sol está a começar a descer num céu quase limpo de nuvens, e o seu reflexo estende um manto prateado sobre o mar. Sobre a água, as ilhas de Nea Kameni e Thirasía são duas manchas escuras no meio de todo aquele brilho. Por baixo de mim, a encosta rochosa varia entre o quase negro e o verde-acastanhado. E cá em cima, à minha volta, há uma orgia de branco pontilhado de azul-forte, cinzento e alguns tons quentes. Uma festa para os olhos.
Em Santorini não há prédios altos nem construções aberrantes. Os poucos edifícios com mais do que dois pisos estão sabiamente disfarçados no meio do casario denso que ocupa parte da encosta, pintados de branco ou cores claras. A arquitectura cicládica é predominante, mas as estrelas que se destacam em toda aquela harmonia são sem dúvida as muitas igrejas espalhadas um pouco por todo o lado. Na sua maioria brancas com cúpulas azuis, também encontramos algumas em amarelo-areia ou creme, com pormenores em cinza, branco ou vermelho. Têm uma dimensão geralmente pequena e muitas não passam de simples capelas, mas os seus contornos arredondados servem de contraponto elegante aos volumes mais rectilínios das casas de habitação e hotéis.
Tal como a maioria das ilhas cicládicas, Santorini é bastante árida. A quase ausência de árvores de grande porte só é compensada pela vegetação dos jardinzinhos privados, que vão desde cactos imponentes a buganvílias exuberantes, passando por simples vasos com flores coloridas numa varanda, e que incluem objectos decorativos originais das mais variadas espécies – artefactos em ferro forjado, barcos a remos recuperados mas mantendo a “patine” do tempo, burros ou outros animais reproduzidos em argamassa pintada, e tudo o mais que a imaginação possa criar.
Passeios a pé
Além da estrada principal, de Fira parte um caminho exclusivamente para peões que bordeja a ilha do lado da caldeira e termina em Oia. São 9 km, que podem ser percorridos em cerca de 4 horas. Andar a pé é sem dúvida a melhor maneira de nos deslocarmos por aquela que é a parte mais bonita de Santorini. Mas preparem-se: é sempre a subir e a descer, sejam rampas suaves ou centenas (milhares?) de degraus, e por vezes o piso torna-se escorregadio com a água que passa por baixo dos portões privados e escorre pelos caminhos de cimento. Por isso, esqueçam saltos, solas que deslizem e até mesmo chinelos que não sejam muito justos ao pé, porque o risco de escorregar e dar um enorme trambolhão é bem real.
Entre Fira e Imerovigli, passando por Firostefani, o caminho é cimentado e protegido do lado da caldeira por um muro baixo. Mas entre nós e o mar a encosta está povoada por um sem fim de casas aninhadas entre escadinhas pintadas de branco e cinza, e é um prazer perdermo-nos por ali, subindo e descendo sem objectivo, apenas porque o dia está lindo e nos apetece andar a passear. Imerovigli fica na zona mais alta da costa, adjacente ao rochedo de Skaros, um promontório entra pelo mar Egeu adentro e se ergue imponentemente sobre a caldeira. Da igreja de Agios Georgios parte uma escadaria que desce até à capela de Agios Ioannis Katiforis, e daí o caminho segue em carrocel até ao topo do rochedo, onde são visíveis as ruínas do castelo medieval destruído num terramoto no séc. XIX. Reza a lenda que o castelo de Skaros permaneceu inconquistado durante os seus 600 anos de existência.
Santorini está completa e quase totalmente dedicada ao turismo. Em Fira, a capital, as ruazinhas estreitas e charmosas oferecem-nos – porta sim, porta sim – lojas com todo o tipo de objectos, desde o souvenir mais batido ao par de sapatos mais requintado, restaurantes com as comidas mais variadas, e bares de todas as espécies. Nota-se que há a preocupação de agradar aos turistas dos quatro cantos do mundo, que enxameiam as ruas sobretudo durante o dia, vindos aos magotes do porto de Skala, que fica mesmo por baixo da cidade. Durante as horas em que Fira é invadida por estas multidões de gente vinda dos navios de cruzeiro, o ambiente da cidade perde quase todo o seu encanto, e Fira torna-se apenas mais um destino turístico igual a tantos outros.
Só quando cai a noite é que esse encanto regressa. Os navios partiram ao pôr-do-sol e o ambiente ficou novamente tranquilo. Depois do jantar volta a apetecer passear sem destino, por entre as luzes das montras e das esplanadas. É a melhor altura para fazer compras com calma, aproveitando a atenção exclusiva e a simpatia de quem nos atende na loja. As ruelas de Fira são algo labirínticas, com becos e escadinhas, mas não há o perigo de nos perdermos porque a cidade é pequena e desenvolve-se quase exclusivamente entre a orla da caldeira e a estrada asfaltada que passa pelo centro, ligando o sul ao norte da ilha.
Na subida de regresso ao hotel paramos para apreciar a beleza da cidade iluminada, estendendo-se pela encosta, a fazer lembrar um presépio de Natal, azulada aqui, dourada além, mais brilhante em certos pontos. Lá em baixo, na caldeira que é agora uma enorme massa negra, subsiste um pequeno navio também ele iluminado, o seu reflexo duplicado nas águas.
O ambiente não podia ser mais romântico, e talvez por isso tantos casais escolham esta ilha para nela celebrarem o seu casamento. Depois das várias noivas com que nos cruzámos em pleno dia, atrapalhadas nos seus saltos altos impróprios para tantos degraus e nas suas saias rodadas e véus agitados pelo vento, tentando manter a compostura para o fotógrafo poder realizar a reportagem fotográfica da praxe, à noite é a vez das festas, onde noivos e convidados cantam e dançam alegremente enquanto giram à volta das mesas, nos salões iluminados dos restaurantes. Há muita felicidade por aqui.
As igrejas
Outra das razões pelas quais aqui se realizam tantos casamentos será de certeza o grande número de igrejas que existe na ilha: mais de 250. Em toda a Grécia, a religião tem grande influência na sociedade e a Igreja Ortodoxa Grega rege grande parte das tradições culturais, ritos e festividades dos gregos. Santorini não é excepção, e o próprio nome da ilha é disso exemplo: sendo Fira a sua designação original, começou a ser chamada de Santorini no séc. XIII (quando foi ocupada pelos venezianos e passou a fazer parte do Ducado de Naxos) devido à existência de uma pequena capela dedicada a Santa Irene (Agia Irini) – que ainda hoje permanece a padroeira da ilha. Há também algumas igrejas católicas, mas exteriormente não é fácil distinguir umas das outras.
Catedral Metropolitana Ortodoxa – Fira
Catedral Católica de S.João Baptista – Fira
Agios Minas – Fira
Igreja Católica de S. Stylianos – Fira
Agios Gerasimos – Firostefani
Mosteiro de Agios Nikolaos – Firostefani
Panagia Malteza (Nossa Senhora de Malta) – Imerovigli
Agios Georgios – Imerovigli
Agios Ioannis Katiforis – Imerovigli
Panagia Theoskepasti – rochedo de Skaros – Imerovigli
Panagia Platsani – Oia
Mas há muito, muito mais para ver em Santorini. Tanto, que um ou dois posts só não chegam. Prometo dar mais notícias em breve.
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