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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Sex | 28.07.17

A igreja de Válega

 

Portugal é o país europeu onde a azulejaria atingiu um estatuto de destaque como arte com nome próprio, e a interacção desta técnica com manifestações artísticas de outros géneros faz do azulejo português um caso especial e muito provavelmente único no mundo.

English version

 

Com origens no Oriente e trazido para a Europa com a expansão islâmica, o azulejo só chegou a Portugal pelas mãos de D. Manuel I em finais do séc. XV, após uma visita a Espanha em que o nosso rei se encantou com a sua utilização em edifícios de influência mourisca. Tendo na altura o nosso país uma já enraizada tradição cerâmica, não demorou muito até começarmos a produzir os nossos próprios azulejos, com técnicas e temas vindos da Itália e da Holanda – as primeiras oficinas de azulejaria foram aqui instaladas por ceramistas flamengos. A estética geométrica do azulejo islâmico, embora não desaparecendo completamente, foi depois ultrapassada pela estética figurativa e a utilização do azulejo em painéis acabou por concorrer com a pintura mural, sobretudo na arquitectura religiosa e palaciana. Numa outra vertente, sendo um material barato, durável e com propriedades isolantes, o azulejo passou também a ser largamente utilizado para revestimento e protecção de edifícios de todo o tipo; tendo aqui uma faceta mais utilitária do que artística, estes azulejos eram geralmente monocromáticos e repetiam um mesmo padrão.

 

O mais vistoso exemplo desta aliança entre o carácter decorativo e o aspecto prático do azulejo na arquitectura religiosa portuguesa é sem dúvida a Igreja de Válega.

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Válega fica a meia dúzia de quilómetros de Ovar - um curto desvio para quem segue na A1 - e o adjectivo mínimo que é possível aplicar a esta igreja é “espectacular”. Também conhecida como Igreja de Nossa Senhora do Amparo, é surpreendentemente grande para uma localidade que parece ser tão pacata. Claramente de inspiração barroca, a sua construção teve início em meados do séc. XVIII e prolongou-se por mais de um século.

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Mas o que torna esta igreja tão especial é o facto de ter as suas paredes completamente revestidas de azulejo: as laterais e a parte de trás num padrão simples em azul e branco, em franco contraste com a fachada multicolorida – que é inquestionavelmente o local onde os nossos olhos mais se demoram quando a vemos de fora. Os elementos estruturais da igreja, em granito cinza, servem de moldura a enormes painéis de azulejo, pintados em cores vivas, onde estão representadas várias cenas da iconografia católica.

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O interior é igualmente impressionante, com a abóboda forrada de caixotões em madeira exótica e as paredes revestidas com faixas de mármore e também decoradas com azulejos pintados com figuras e cenas emolduradas por elaboradíssimas cercaduras. A pia baptismal é a peça mais antiga que ali se encontra, datando do séc. XVI, e foi feita em pedra da região de Ançã, uma pedra calcária muito macia e largamente usada em Portugal e no resto da Europa a partir do séc. XV, sobretudo para trabalhos escultóricos.

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As características principais que fazem hoje da Igreja de Válega uma das mais espantosas igrejas do nosso país resultaram de obras executadas já no séc. XX, entre os anos 20 e 60. Em particular, os azulejos interiores e exteriores (pintados à mão) que constituem a sua principal atracção foram produzidos no final da década de 50 pela Fábrica Aleluia, situada em Aveiro – e que ainda hoje existe.

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Um último pormenor curioso: a fachada principal da igreja não está virada para a estrada de acesso, mas sim para o cemitério da localidade, que se estende pelo terreno em frente. Como está orientada para oeste, a melhor altura para a visitar é à tardinha, quando o sol faz brilhar os azulejos da fachada e dá às cores uma tonalidade mais quente.

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Coordenadas: 40° 50' 01" N    08° 34' 49"O

 

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A Igreja de Válega