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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Sex | 09.08.13

A Marginal

 
A Marginal que liga Lisboa a Cascais é uma estrada belíssima. Talvez mesmo uma das mais belas do país.
 

Esta não será provavelmente a opinião dos vários milhares de pessoas que se vêem obrigadas a frequentá-la nas horas de ponta, enfrentando semáforos vermelhos uns atrás dos outros e extensas filas de trânsito quando todos os minutos contam para chegar a horas ao emprego, ou quando a ânsia de regressar a casa aperta, lá mais para o fim da tarde. Mas quando a percorremos, como tantas vezes me acontece, num domingo de manhã cedo, quando o sol se levantou há pouco e quase não se vê vivalma, é impossível escapar ao seu sortilégio. A bruma matinal confere uma aura mística à linha do horizonte, esbatendo os raios de sol – se for um daqueles dias em que o céu está meio nublado, prometendo um ou outro aguaceiro, melhor ainda, o efeito adensa-se.

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A cada curva a paisagem muda, e algo nos surpreende (mesmo que já a conheçamos como a palma da nossa mão). As gaivotas que decidiram fazer um plenário na areia molhada da praia. A árvore que se destaca num fundo de azul. Os pescadores irredutíveis, faça chuva ou faça sol, esperando pacientemente (que peixe apanharão aqui? Valerá a pena a espera?). O Forte da Praia da Torre, cinzento sobre cinzento, sólido e inconfundível, verdadeiro “ex-libris” do percurso. Tal como o Bugio, ilha num lago azul e brilhante, naqueles dias em que logo de manhã cedo se percebe que poucas horas depois irá estar um calor abrasador, ou rodeado de vagas plúmbeas, espumando com violência contra as pedras que contornam o farol. Lisboa ribeirinha recortando-se ao longe e a ponte sobre o Tejo (aquela que, mesmo com outros nomes, e por muitas mais que construam, será sempre “a” ponte sobre o Tejo) transformando as duas margens do rio numa única entidade, para sempre unidas e ancoradas no Tejo.

E os barquitos fundeados em Paço d’Arcos; o edifício amarelo da Colónia Balnear “O Século”; o farol da Gibalta; as casas antigas, recuperadas algumas, outras aguardando quem possua simultaneamente o interesse e a fortuna necessária para lhes restituir o brilho; os passeantes, os corredores e os ciclistas, para quem cada vez (e ainda bem) está a ser disponibilizado mais espaço; e tantos outros pormenores que vamos descobrindo sem pressas, de cada vez que ali passamos.

É por isso que eu aproveito estas ocasiões para levantar o pé do acelerador do carro e deixar-me ir, ao sabor das curvas, desfrutando os belos momentos que me são oferecidos sem pedir nada em troca e sentindo-me, por alguns momentos, em paz.
 

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