A Marginal
Esta não será provavelmente a opinião dos vários milhares de pessoas que se vêem obrigadas a frequentá-la nas horas de ponta, enfrentando semáforos vermelhos uns atrás dos outros e extensas filas de trânsito quando todos os minutos contam para chegar a horas ao emprego, ou quando a ânsia de regressar a casa aperta, lá mais para o fim da tarde. Mas quando a percorremos, como tantas vezes me acontece, num domingo de manhã cedo, quando o sol se levantou há pouco e quase não se vê vivalma, é impossível escapar ao seu sortilégio. A bruma matinal confere uma aura mística à linha do horizonte, esbatendo os raios de sol – se for um daqueles dias em que o céu está meio nublado, prometendo um ou outro aguaceiro, melhor ainda, o efeito adensa-se.

E os barquitos fundeados em Paço d’Arcos; o edifício amarelo da Colónia Balnear “O Século”; o farol da Gibalta; as casas antigas, recuperadas algumas, outras aguardando quem possua simultaneamente o interesse e a fortuna necessária para lhes restituir o brilho; os passeantes, os corredores e os ciclistas, para quem cada vez (e ainda bem) está a ser disponibilizado mais espaço; e tantos outros pormenores que vamos descobrindo sem pressas, de cada vez que ali passamos.
É por isso que eu aproveito estas ocasiões para levantar o pé do acelerador do carro e deixar-me ir, ao sabor das curvas, desfrutando os belos momentos que me são oferecidos sem pedir nada em troca e sentindo-me, por alguns momentos, em paz.
