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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Dom | 01.12.13

Diário de uma viagem à Costa Rica I

 

Dia 1

 

O voo estava previsto para as 8.45, e nós lá fomos para o aeroporto com as cerca de duas horas de antecedência da praxe. Ainda recordados do desaparecimento temporário de uma das nossas malas há dois anos precisamente em Barajas, optámos por só despachar uma mala e levar outra na bagagem de mão. Check-in sem fila, o que foi uma novidade. A outra novidade foram os taipais das obras na zona das lojas do aeroporto, o que reduziu drasticamente o número de montras disponíveis para nos entretermos a ver antes de embarcarmos.

 

A bordo, mais novidades. Como era um voo de curta duração (tivemos de ir via Madrid), nada de pequeno-almoço – nem sequer água ou café. Quem quiser beber ou comer alguma coisa, agora tem de pagar.

 

A viagem foi curta e em Barajas aguardava-nos mais uma experiência nova. Saímos do avião no Terminal 4, mas o voo IB 6313 para San José da Costa Rica partia do Terminal 4S. Que é nem mais nem menos que um terminal idêntico ao 4 e localizado precisamente em frente, mas do outro lado das pistas. Para ligar um ao outro, um comboio eléctrico tipo shuttle, subterrâneo, com três carruagens sem condutor. Há que descer ao subsolo do Terminal 4, entrar no comboio para uma viagem de cerca de cinco minutos que nos deixa também no subsolo do Terminal 4S, subir mais uma série de escadas rolantes, e depois percorrer grande parte do terminal até encontrar a porta de embarque. Tempo total estimado desde o desembarque e a chegada à porta de embarque pretendida no outro: 20 minutos, no mínimo, e sem paragens. A ter em conta para futuras deslocações. Como resultado, aquela hora que era suposto termos de matar no aeroporto reduziu-se a 10 ou 15 minutos, o que foi francamente uma vantagem.

 

A saída de Madrid estava marcada para as 12.05 (CET), e não houve atraso significativo. O avião era um Airbus 340, com câmara fixa na cauda para transmitir imagens da partida e da aterragem (também uma novidade para mim, se bem que as imagens não sejam lá muito interessantes), quatro lugares ao meio e dois de cada lado. Muito pouco espaço para as pernas – pode ser impressão minha, mas os aviões estão a ficar cada vez mais apertados. A sorte é que ficámos nos lugares do meio e os outros dois não tinham ninguém, pelo que pudemos esticar-nos cada um para seu lado durante o voo. O azar foi termos um bebé de menos de um ano atrás de nós, e outra de pouco mais de um ano à frente. Traduzido em miúdos, durante as mais de dez horas do voo houve praticamente sempre uma criança a berrar-nos aos ouvidos, ora uma, ora outra. Somado ao facto da viagem ser de dia, descansar foi quase impossível. Por sorte passaram dois filmes relativamente recentes e interessantes, e serviram duas refeições (com talheres de metal, mais uma novidade), pelo que deu para ir entretendo. Mas foi uma viagem cansativa e chegámos a San José bastante estoirados.

 

Aterrámos cerca das 15 horas (no Verão, a Costa Rica tem menos 7 horas do que Portugal) e o calor húmido envolveu-nos assim que saímos do avião. A mala apareceu sã e salva e depois de umas quantas filas para mostrar os documentos do costume conseguimos chegar ao guichet dos táxis. Os táxis oficiais da Costa Rica são vermelhos, mas os que fazem serviço no aeroporto Juan Santamaría são laranja-escuro. O taxista era um rapaz novo e pouco falador – connosco, porque na realidade passou uma boa parte do tempo a falar ao telemóvel com um amigo. A pronúncia costa-riquenha é bastante diferente da de Espanha e quando falam depressa pouco dá para apanhar, mas serviu para começar a adaptar-me ao espanhol da Costa Rica. O mais interessante: dizem “carro” em vez de “coche” e algumas pessoas cumprimentam com um “bom dia”; “pura vida” é uma expressão muito usada e polivalente, que tanto pode ser um cumprimento, uma despedida, ou simplesmente significar “tudo bem, não há problema”; e quando agradecemos qualquer coisa retribuem sempre “con mucho gusto”.

 

O aeroporto Juan Santamaría fica perto da localidade de Alajuela e a cerca de 17 Km de San José. Existe uma via rápida até à capital. Só que a dita cuja (assim como todas as outras vias rápidas que ligam San José às localidades mais próximas) termina de repente à entrada da cidade. O resultado são filas quase quilométricas de “pára-arranca” a qualquer hora do dia, como percebemos na viagem para o hotel e viemos a confirmar e sentir bem na pele mais tarde, já quase no final das nossas férias. O que, somado à quase inexistência de placas sinalizadoras da direcção a tomar, bem como à enorme concentração de gases de escape, faz com que andar de carro em San José sem conhecer bem a cidade seja verdadeiramente um pesadelo e provoque dores de cabeça.

 

Para agravar o caso, tínhamos reservado quarto num hostel situado na outra ponta da cidade, o que tornou o trajecto ainda mais demorado. O bónus foi a travessia ter-nos dado a possibilidade de ir vendo alguma coisa de San José.

 

Fundada em 1738, San José só passou a ser a capital da Costa Rica em 1823. Situada na região do Vale Central, 1161 metros acima do nível do mar, a cidade tem um clima temperado, habitualmente com temperaturas entre os 15 e os 28ºC. É limitada a norte pelos vulcões Irazú, Barva e Poás, e a sul pelas montanhas de Talamanca. Carinhosamente apelidada de chepe pelos seus cerca de 300 mil habitantes, é hoje uma cidade em constante crescimento, onde pontificam edifícios altos e ruas perpendiculares, como que desenhadas a régua e esquadro. O monumento mais emblemático e famoso é o Teatro Nacional, concebido em 1890, cuja construção foi financiada por um imposto extraordinário lançado na época pelos barões do café sobre todas as exportações deste produto. Outras construções notáveis são o Edificio Correos, que continua a cumprir as suas funções nos dias de hoje, o Teatro Médico Salazar, a Catedral Metropolitana e o Edificio Metálico, concebido pelo arquitecto francês Charles Thirio e construído na totalidade em peças de metal moldadas na Bélgica em 1892 e montadas no local, que funciona desde essa altura como escola primária. Existem vários parques de dimensões consideráveis espalhados pela cidade, o maior dos quais é o Parque Sabana, na entrada oeste de San José, que integra um lago artificial. Mais antigos e com muitas histórias para contar, o Parque Nacional, o Parque España e o Parque Morazán. O museu mais visitado é o Museo del Oro Precolombino, que ocupa o espaço subterrâneo por baixo da Plaza de la Cultura, mesmo em frente ao Teatro Nacional, e possui uma excepcional colecção de objectos antigos em ouro, como o próprio nome indica.

San José-Teatro Nacional (1559)

 

No entanto, tenho de confessar que o que nos foi dado ver na nossa alongada viagem de táxi não me entusiasmou absolutamente nada. Para além do trânsito caótico, barulhento e malcheiroso, quase só vi ruas cinzentas e a precisarem de manutenção, bastante lixo espalhado, casas pequenas e cheias de gradeamentos (verdadeiras “gaiolas”), raros espaços verdes e poucos edifícios interessantes. Foi quando me convenci de que tínhamos feito bem em decidir ir embora dali logo na manhã seguinte.

 

Quanto ao Hostel Bekuo, que fica no bairro Yoses e é nitidamente dirigido a uma clientela jovem e pouco exigente, as opiniões dividiram-se e foram contraditórias, entre “desarrumado, pouco limpo e a precisar de manutenção” e “ambiente giro, faz-me lembrar os meus tempos de estudante, os albergues da juventude e os inter-rails”. Mas o cansaço acabou por tornar estas considerações quase irrelevantes. Eu só queria mesmo era um lugar para descansar de um longo, longo dia (por esta altura já estávamos a pé há mais de 19 horas).

 

Entretanto fez-se noite. Perguntámos ao rapaz simpático da recepção (não me lembro do nome dele) se havia ali por perto algum sítio bom para comer uma refeição típica; indicou-nos o “Río”, na rua do lado, uma das principais artérias da cidade. O curtíssimo trajecto a pé bastou para perceber que no que se refere a lojas e restaurantes, pelo menos aquela zona de San José não difere muito de uma qualquer cidade portuguesa de província: montras com roupa para jovens, uma pizzaria, um bar... Provavelmente pelo facto da Universidade se encontrar nas proximidades, havia muita gente jovem a petiscar nas esplanadas.

 

Só que nós estávamos esfomeados, e queríamos mesmo jantar. O Río pareceu ter um ambiente agradável e ficámos por ali, apesar do menu ter pouco de típico. Mas a qualidade parecia ser razoável e os preços também. Os pratos foram feitos na hora (ainda demoraram algum tempo a servir) e a comida estava saborosa q.b. Com o estômago mais calmo e a perspectiva de poder descansar em breve, comecei a sentir-me humana e a achar que dali para a frente as coisas só poderiam melhorar. Definitivamente, começar uma viagem na Costa Rica por San José não é de todo o mais aconselhável.

Dia 2 da viagem: de San José a Tortuguero →

 

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