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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Qua | 26.01.22

Histórias da água e da pedra na Beira Baixa

 

É de água e de pedra que são feitos muitos dos lugares mais memoráveis do nosso país. A água que vai abrindo caminho entre a rocha, de onde os homens tiram a pedra para dela nascerem estradas, pontes, muralhas, abrigos… A pedra que se ergue da água, e a água que a desgasta. Ou a água que desaparece, ou muda de curso, expondo a pedra que em tempos escondeu.

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Desta vez vamos passear por terras da Beira Baixa onde a dança entre estes dois elementos tem deixado marcas e histórias desde tempos bem longínquos, nalguns sítios até anteriores à presença humana. Fazem-me companhia?

 

 

Santuário de Nossa Senhora do Almurtão

 

Senhora do Almurtão,

Minha tão linda arraiana!

Virai costas a Castela,

Não queirais ser castelhana.

 

Olha a laranjinha que caiu, caiu.

Num regato de água, nunca mais se viu.

Nunca mais se viu, nem se torna a ver.

Cravos à janela, rosas a nascer.

 

Senhora do Almurtão

à vossa porta cheguei.

Tantos anjos me acompanhem

como de passadas dei.

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Acompanhadas pela batida dos adufes, estas e outras quadras são cantadas todos os anos durante a romaria à Senhora do Almurtão – ou Santcam Mariam Almortam, como está mencionada no foral concedido em 1229 por D. Sancho II a Idanha-a-Velha. Esta devoção velha de séculos é celebrada duas semanas depois da Páscoa, no santuário que se ergue isolado a uma dezena de quilómetros da vila de Idanha-a-Nova, sede do município. Com vista para a imensidão parada e quase nua dos campos desta zona da Beira Baixa, aqui sentimos na pele o isolamento das regiões interiores do nosso país, onde as condições de vida nunca foram fáceis. É, por tudo isto, um bom sítio para começar o nosso passeio.

 

 

Idanha-a-Velha

 

É aldeia histórica, daquelas bem antigas, mas a fama não lhe subiu à cabeça. Mantém um ambiente plácido e despretensioso, a pedir conversas à sombra de uma árvore e sesta em tardes de calor. Com raízes fundas no séc. I a.C., foi Civitas Aegitidanorum para os romanos e depois Egitânia para os visigodos, e ainda hoje existem vestígios da sua importância milenar, que só começou a diminuir no séc. XVI.

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Em Idanha-a-Velha a pedra é omnipresente. Nos edifícios restaurados, nos monumentos, nas ruínas. Em cada canto há vestígios do passado, perpetuados em pedra. Ela está nos grandes blocos do troço da muralha robusta que nos acolhe à chegada, e nas casas de dimensão modesta que convivem, ombro a ombro e sem conflitos, com outras pintadas de branco. Está na Igreja Matriz, com a torre enfeitada por um catavento de metal e por cegonhas de carne e osso, penas e bico, e no pelourinho do século XVI que lhe faz companhia. Está, sobretudo, na Igreja de Santa Maria, que foi Sé Catedral da visigótica Egitânia e mais tarde mesquita, e é provavelmente a face mais visível da história desta região. Sucessivamente utilizada e modificada ao sabor das vontades dos vários povos que por aqui passaram (suevos, visigodos, muçulmanos, cristãos), teve sempre como denominador comum o facto de ser um local de culto, função que apenas perdeu no séc. XIX. Agora faz parte de um museu e vive rodeada de outras pedras, trazidas à luz do dia por escavações ou encontradas sabe-se lá onde, muitas delas com letras, inscrições, desenhos, testemunhas mudas de tantas histórias que desconhecemos.

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Idanha-a-Velha está encaixada num cotovelo do rio Pônsul, que a rodeia quase completamente. Pouco caudaloso e tranquilo, do lado nascente a sua travessia faz-se sobre uma ponte, também de pedra e também de origem romana, sob a qual a água passa tranquila e transparente, apenas agitada por apressados cardumes de peixes. Do lado oposto da aldeia não há ponte para o atravessar, mas há pedras – poldras, para ser mais precisa, reaproveitadas de silhares romanos, perfeitas para um exercício de equilíbrio.

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O passeio tende a ser demorado, há que dar tempo aos olhos para absorverem todos os pormenores: as rosas que trepam pelas fachadas, a velha amoreira que dá o nome a uma das ruas, os detalhes arquitectónicos do solar da família Marrocos, abandonado desde os anos 50 e ainda à espera de quem pegue no projecto da sua reconversão em hotel. A pedra continua presente nas capelas, que são várias: a de São Dâmaso, a de São Sebastião e a do Espírito Santo. Há um forno comunitário e um lagar de varas; há os palheiros de São Dâmaso, que agora albergam a oficina de arqueologia; há um arquivo epigráfico, e uma Torre dos Templários. Há muito que ver nesta aldeia, meio perdida no limbo entre um passado que foi florescente e um futuro que continua incerto.

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Monsanto

 

Pedra e Monsanto são quase palavras sinónimas – não gramaticalmente, mas na prática, porque é o granito cinzento que primeiro nos vem à memória quando pensamos nesta aldeia. Vista de longe, confunde-se com a serra e não é possível distinguir entre as casas e a rocha. Umas e outra vivem em harmonia, e nalguns casos mesmo em regime de coabitação.

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Cravada na encosta escarpada, o passeio faz-se entre subidas e descidas nas ruas pavimentadas com paralelepípedos de granito. A leste e oeste, as “portas” que marcam antigos limites da aldeia, quando a chegada ainda não se fazia por carro. São muros altos com uma passagem em arco, estrategicamente colocados cada um junto à sua capela: a de Santo António no lado poente, e a do Espírito Santo a nascente. Preteridas em favor do acesso asfaltado que faz a ligação mais fácil à N239, a Igreja Matriz de São Salvador é actualmente o primeiro edifício religioso que vemos ao chegar. Data dos séculos XV-XVI mas tem elementos barrocos – como aliás sucede com grande parte do património religioso português.

 

Vamos seguindo pelas ruas entre casas que parecem ter brotado dos penedos, aproveitados sempre que possível para substituir uns alicerces, parte de uma parede, ou até mesmo um telhado. A uniformidade pardacenta da pedra é quebrada por vasos com plantas e roseiras que trepam pelas fachadas. Passamos pela Igreja da Misericórdia, renascentista e a fazer lembrar uma pirâmide. Atrás dela, o ex libris de Monsanto, a Torre de Lucano, com o seu relógio, os seus sinos e o seu galo, que parece de prata mas não é – é apenas uma cópia do verdadeiro, o que foi oferecido em 1938 quando Monsanto ganhou o título de “aldeia mais portuguesa de Portugal”, ainda hoje colado a ela como uma segunda pele.

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Subimos para sul. Do Miradouro – há outros, mas este parece ser o “oficial” – temos a vista mais fotogénica sobre os telhados da aldeia, mas ainda assim não é suficiente. Há que subir mais, primeiro para conhecer as ruínas da Torre do Pião e da Capela de São Miguel, em volta da qual cresceu a aldeia a partir de finais do século XII mas hoje isolada do casario, que optou pela protecção da encosta mais abaixo. Depois trepamos finalmente ao Castelo, heróico resistente a invasões várias durante séculos, mas que acabou por soçobrar no século XIX à explosão acidental da pólvora guardada no seu paiol e ao desabamento de um penedo sobre a muralha.

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A 758 metros de altura, este é o ponto mais elevado da região, e daqui a vista alcança dezenas de quilómetros em toda a volta, estendendo-se até para lá da nossa própria fronteira. Neste lugar, não há como não nos sentirmos pequeninos…

 

 

Penha Garcia

 

Penha Garcia tem duas caras. Uma é a que vemos antes de chegar, a partir da estrada. Daqui parece apenas mais uma aldeia pacata e sem grande novidade, estendendo-se pela encosta da serra granítica que tem o mesmo nome. Depois começamos a percorrer as suas ruas íngremes, que desembocam em minúsculos largos rodeados de casas em pedra ou brancas de cal, com cortininhas de renda nas janelas. Passamos pelo jardim que homenageia os Combatentes da Guerra no Ultramar, vamos subindo até ao pelourinho e à igreja, e finalmente trepamos até ao castelo. Não é muito mais do que uma pequena muralha reconstruída, pedras que formam um arco e umas ameias, mas tem duas vantagens: a primeira é a vista desafogada sobre o casario da aldeia e a verde planície beirã; a segunda é revelar a outra face de Penha Garcia, aquela que nos faz abrir a boca de espanto e que a aldeia oculta a quem comete o pecado de a ignorar – e é, fica aqui o aviso, um dos meus lugares favoritos em Portugal.

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Este lado da serra é um impressionante maciço quartzítico que foi escavado pelo rio Pônsul, e antes disso pelas águas primordiais que configuraram o nosso planeta. Também aqui água e aedra estiveram em simbiose para formar uma paisagem a todos os títulos extraordinária. O rio está represado desde finais dos anos 70 e agora corre pelo vale apenas em versão de ribeiro. Nas margens do Pônsul sobrevivem azenhas, em tempos importantes para a vida da aldeia e hoje já praticamente todas recuperadas, agora para fins turísticos. Fazem parte do Complexo Moageiro e desvendam-nos pormenores sobre técnicas de moagem tradicionais e a vida dos moleiros.

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Mas as surpresas não se ficam por aqui. As paredes rochosas deste desfiladeiro estão marcadas, em vários pontos, por icnofósseis – rastos deixados por trilobites há qualquer coisa como 480 milhões de anos (antes da existência dos dinossauros). As trilobites foram artrópodes da era Paleozóica, antepassados dos actuais crustáceos e insectos, e viveram exclusivamente em ambientes marinhos. Um antigo palheiro foi convertido na Casa dos Fósseis, onde estão expostos centenas de espécimes de icnofósseis e vários minerais característicos do local.

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Nesta espécie de anfiteatro de rocha, a água quase poderia passar despercebida, mas não é o caso. O rio corre solto entre árvores e penedos pela maior parte do vale, e as suas águas foram aproveitadas para criar um recanto ao qual o adjectivo “idílico” serve como uma luva: é a praia fluvial do Pego, uma espécie de piscina rodeada por um passadiço em madeira e alimentada por uma queda de água – e um daqueles sítios de onde não apetece sair.

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Termas de Monfortinho

 

Nas Termas de Monfortinho, a água é rainha. Encostada à fronteira entre Portugal e Espanha, com apenas a estreiteza do rio Erges a separar os dois países, a localidade vive essencialmente da água que brota da serra de Penha Garcia. Com uma temperatura de 29°C na nascente e um elevado teor de sílica (são indicadas sobretudo para problemas de pele), estas águas já eram apreciadas e utilizadas pelos Romanos, numa época em que toda a região tinha grande importância na Península Ibérica.

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Hoje em dia, as Termas de Monfortinho são procuradas sobretudo pela tranquilidade. Há todo um mundo de opções de balneoterapia, massagem e electroterapia à disposição de quem queira tratar algum problema específico ou, pura e simplesmente, relaxar. O edifício é dos anos 40 e tem o aspecto característico da arquitectura do Estado Novo, simétrico e de linhas direitas, com vários volumes dominados por um corpo central com arcadas, um pé direito altíssimo, e muitas vidraças. Quanto ao interior, esse foi completamente modernizado há uns bons anos para albergar todas as comodidades de um complexo termal actualizado, que inclui gabinetes médicos, salas específicas para os tratamentos, solário, piscina e dois ginásios.

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Em frente ao edifício das Termas há um pomar com bancos para repouso, que se estende até ao rio. Por aqui passa a Rota do Erges (PR6 IDN), um percurso pedestre circular com 5 km que se desenvolve em torno da localidade, percorrendo a agradável margem do rio e depois subindo a encosta arborizada por trás da Termas e do Hotel Fonte Santa, culminando no Miradouro da Serra do Cancho.

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Este pedaço meio ignorado da Beira Baixa tem muito para mostrar, e muito mais para contar. É terra de marafonas e adufes, das festas dos bodos, de vestígios arqueológicos e memórias que se perdem no tempo, de cozinha farta e que recupera a tradição, e de boas infra-estruturas turísticas. É terra para visitar com calma e com a certeza de que aqui há nunca haverá lugar para a monotonia.

 

(Este artigo foi publicado pela primeira vez no website Fantastic)

 

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Histórias da água e da pedra na Beira Baixa

 

Qui | 20.01.22

Podcast de viagens: Cartão de Embarque

 

 

Estou cada vez mais adepta de podcasts, e no que toca a viagens já existem vários que são bastante interessantes. Aquele de venho falar hoje é jovem (foi lançado há cerca de ano e meio) e tem como base um conceito algo diferente do habitual. O seu nome é Cartão de Embarque, e podem encontrá-lo em todas as plataformas áudio e no Instagram.

 

A autora deste projecto é a Rita Santos, jornalista. Cada episódio é dedicado a um país diferente, e sobre ele a Rita conversa com duas pessoas: alguém (português ou portuguesa) que já passou por lá, e alguém que é natural desse país. O resultado são cerca de 30 minutos de entretenimento, com muita informação, histórias e sugestões que nos deixam com água na boca e vontade de marcar imediatamente uma viagem.

 

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Num dos últimos episódios a conversa foi sobre a Suécia, e a Rita convidou-me a falar sobre a minha recente visita a Estocolmo. A outra convidada foi a Sofia Silfwander, que nasceu em Helsinborg, no sul do país. Falou-se de neve e auroras boreais, de mitologia nórdica, de comida, do povo e do muito que há para ver. A conversa completa está aqui: 

E que tal, gostaram?

Ouçam as outras conversas, tenho a certeza de que vão ficar fãs deste belíssimo podcast.

 

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Podcast Cartão de Embarque

 

 

Ter | 11.01.22

Para onde viajar em 2022?

 

Diz-me de que é que gostas, dir-te-ei para onde é que deves viajar. Este podia ser outro título para o post de hoje, porque é precisamente isso que vou tentar fazer: sugerir destinos (óbvios e menos óbvios) para cada tipo de viajante. Nada de muito complicado, porque em 2022 ainda vamos certamente encontrar algumas limitações às viagens; mas está na altura de começar a fazer planos, e de preferência vários – para haver sempre uma alternativa, caso o plano A não possa ser concretizado.

 

Para quem…

… é adepto de viajar devagar

 

Um destino óbvio → FLORENÇA

 

Tem tanto, mas mesmo tanto para ver, visitar e descobrir, que não é possível ir a Florença em modo “vou ali e já venho”. É uma cidade para ser explorada a pé e com alguma calma; e quando pensamos que já vimos tudo, eis que surge mais uma rua, um museu, uma igreja, um jardim para conhecer. No meu imaginário, Florença era compacta, pequena e aconchegante. Na realidade, revelou-se uma cidade arejada, cheia de piazzas amplas, de esplanadas, de espaços verdes com vistas desimpedidas. Depois, é preciso tempo para visitar os inúmeros museus, palácios e igrejas – e para estar nas filas extensas que antecedem a entrada nos locais mais emblemáticos. Há tanto para absorver que corremos o risco de uma overdose, se quisermos ver tudo com demasiada pressa. Porque o melhor de Florença são mesmo aqueles momentos que nunca vamos esquecer: saborear um gelado de caramelo salgado enquanto o sol se põe e cobre de ouro o rio Arno, descansar na esplanada de um café encontrado numa praça escondida da multidão, entrar numa loja antiga e aspirar o cheiro dos objectos de madeira que ali se vendem. As pequenas coisas que tornam uma viagem memorável não vêm nos guias.

 

 

Um destino menos óbvio → ANNECY

 

Situada na região de Haute-Savoie, muito perto da fronteira com a Suíça, Annecy é uma cidade pequena e sossegada à beira do lago com o mesmo nome. O centro histórico desenvolve-se à volta do rio Thiou e dos canais do Vassé, e a arquitectura preserva muitas das características típicas das regiões alpinas. Há flores por todo o lado, a comida é variada e apetitosa (mais ainda para quem for apreciador de queijo), e não faltam percursos para passear a pé, seja à volta do lago, no parque por onde passa o Thiou, ou nas ruas que acompanham os canais ou nos levam ao castelo. A uma mera dezena de quilómetros de distância, podemos visitar o Castelo de Montrottier, passear na magnífica floresta de Chavanod, ou percorrer o passadiço das Gargantas do Fier, 25 metros acima do nível do rio – e que foi construído em 1869!

 

Um passeio de barco no lago, com ou sem refeição a bordo, é obrigatório. O mesmo barco pode levar-nos a conhecer algumas das localidades e praias que existem nas margens do Annecy. E quando o tempo está bom, não faltam actividades náuticas à disposição dos visitantes.

 

No post Dias tranquilos em Annecy encontram mais pormenores sobre a minha estadia nesta cidade.

 

 

… quer fazer férias tranquilas numa ilha

 

Um destino óbvio → MENORCA

 

Menorca não tem defeitos. Enfim, lá terá alguns… e ser muito frequentada no Verão será decerto um deles. Mas as suas inúmeras virtudes mais do que compensam essas pequenas imperfeições. É uma ilha pequena, e portanto fácil de conhecer. Tem praias de sonho – e neste caso o termo não é exagerado – com uma temperatura da água fantástica, areia fininha, e na sua maioria inseridas numa paisagem ainda não demasiadamente humanizada. Tem cidades com um encanto especial, um aldeamento polémico (Binibequer Vell) que é uma atracção turística por si só, muitos povoados pré-históricos com características únicas, equipamentos culturais e uma variedade enorme de ofertas de alojamento e restauração. Tem tudo o que se pode querer para umas férias inesquecíveis.

 

Podem ler mais sobre esta ilha no post Menorca, finalmente.

 

 

Um destino menos óbvio → GOZO

 

Turisticamente, Gozo é uma espécie de “parente pobre” entre as três maiores ilhas de Malta. A maior parte dos visitantes do país dedicam-lhe apenas um dia, em que aproveitam para percorrer uma parte dos seus 67 km2 de carro ou visitar os locais mais famosos num autocarro turístico em modo hop-on hop-off. E no entanto, Gozo tem muito mais para oferecer a quem se dispuser a passar na ilha mais do que umas meras horas. Victoria, a cidade principal, é cheia de vida e de História, o centro geográfico e nevrálgico onde tudo conflui. Na costa sul encontramos as melhores falésias: para ver o pôr-do-sol, as de Ta' Ċenċ ou Sanap; para passear de barco ou fazer mergulho, as da baía de Dweijra, onde até há uns anos existiu a afamada Janela Azul, e onde a pequena lagoa conhecida como Mar Interior, rodeada de cabanas de pescadores, continua a atrair visitantes. Na costa norte estão as melhores praias de areia, como ir-Ramla ou San Blas, a localidade de veraneio Marsalforn, e as salinas artesanais de Xwejni, que se espalham ao longo de mais de um quilómetro num padrão de xadrez irregular e orgânico.

 

Há também monumentos imperdíveis, como a Basílica do Santuário da Virgem de Ta’ Pinu ou a de Xewkija, sede espiritual da Ordem de Malta, a Cidadela e a Basílica de São Jorge em Victoria, a impressionante igreja neogótica de Ghajnsielem, ou a Capela de Nossa Senhora de Lurdes, erguida num promontório debruçado sobre o porto de Mġarr e o ponto de referência que primeiro atrai a nossa atenção quando o barco que nos transporta se aproxima de Gozo.

 

E há, sobretudo, a facilidade de dias tranquilos que escorrem sem pressas, os passeios a pé ou de autocarro, quase sempre curtos, e as esplanadas onde nos demoramos ao pequeno-almoço, ao lusco-fusco ou depois de um bom jantar – com os sons da musical língua maltesa a embalarem-nos, e a tepidez da noite a prender-nos à cadeira, pedindo para ficarmos por ali só mais um bocadinho…

Podem ler mais sobre esta ilha no post Gozo, o prazer de ter vagar.

 

 

… é fã de museus

 

Um destino óbvio → LONDRES

 

A trepidante capital inglesa tem de tudo, e todos os tipos de viajante encontrarão nela motivos para voltar a visitá-la uma e outra vez. Mas uma das atracções culturais que mais me fascinam nesta cidade são os seus museus – e de tal modo que até já lhes dediquei um post em exclusivo: Museus de Londres. Não os conheço todos (tarefa difícil, já que são mais de 170…), mas conheço vários dos principais e todos eles são um regalo para os olhos e o espírito. O meu preferido, confesso, é o Victoria & Albert, e sempre que vou a Londres tenho obrigatoriamente de o visitar.

 

Dos mais clássicos aos mais invulgares, como o Museu dos Leques, o Museu de Freud ou o Museu das Marcas, os amantes de espaços expositivos têm de tudo um pouco para satisfazer a sua sede de conhecimento – ou simplesmente entreter o cérebro durante umas horas.

 

 

 

Um destino menos óbvio → ESTOCOLMO

 

Não é a primeira cidade que nos vem à ideia quando se pensa em cultura museológica, mas isso deve-se apenas ao desconhecimento. Estocolmo tem cerca de cinco dezenas de museus dos mais variados géneros, e alguns deles são verdadeiramente excepcionais. O mais peculiar deles todos é sem dúvida o Museu do Vasa, construído à volta de um navio de guerra que naufragou no século XVII na baía de Estocolmo e foi resgatado, quase intacto, nos anos 60 do século passado.

 

Outro lugar especial é o Skansen, um enorme parque-museu ao ar livre que funde etnografia, natureza e zoologia. Há vários museus dedicados à arte, outros sobre culturas orientais, o excelente Fotografizka (onde vi exposições de fotografia absolutamente espectaculares), o museu do Prémio Nobel, e até mesmo um exclusivamente sobre os Abba.

 

Há também os dois palácios reais, o de Estocolmo e o de Drottningholm – e aqui aconselho muito que façam as visitas guiadas, porque vão ficar a saber imenso sobre a História da Suécia e a visita terá todo um outro interesse. Num registo diferente, a própria rede de metropolitano é um enorme e magnífico museu, com muitas das suas estações concebidas como instalações de arte moderna, e absolutamente fora do vulgar. Uma visita a Estocolmo sacia a fome de qualquer amante de museus.

 

 

… gosta de caminhar na natureza

 

Um destino óbvio → YOSEMITE

 

Com 3.000 km2, quase 300 trilhos identificados de caminhada e várias zonas muito diferentes entre si para explorar, o Parque de Yosemite, no Estado da Califórnia, é sem dúvida uma das mais bonitas e bem preparadas regiões do mundo para viver e usufruir da natureza no seu estado praticamente selvagem.

 

Desde os passeios mais tranquilos ao longo do vale glacial, praticamente plano, até às subidas à famosa Half Dome, há caminhadas para todos os gostos. Numerosas cascatas, formações graníticas incríveis, sequóias gigantes, lagos, muita vida selvagem (os avisos para não deixar comida onde os ursos lhe possam chegar estão por todo o lado) e até praias fluviais. E não nos podemos esquecer de aproveitar as fantásticas vistas do céu nocturno.

 

O vale central está povoado de lugares onde ficar: tendas de lona, cabines de madeira, estacionamento para autocaravanas, albergues, bed & breakfasts e hotéis de luxo, todos com óptimas condições para servir de base aos passeios. Daqui partem vários trilhos ao longo do vale, e também as estradas que ligam aos pontos de interesse mais distantes, tudo extremamente bem mapeado para ter a certeza de que encontramos aquilo de que viemos à procura. E para ajudar a isso, há imensas actividades (alpinismo, canoagem, pesca...) e workshops para todas as idades, para podermos ficar a conhecer melhor a natureza deste parque.

 

Só mais uma nota: apesar do parque de Yosemite ser grande e diverso o suficiente para que se possa passar lá uma boa temporada, esta zona dos Estados Unidos está povoada de parques naturais. A entrada em Yosemite custa 35$, mas por 80$ é possível comprar o passe anual America the Beautiful e ficar a conhecer outros lugares incríveis à distância de um ou dois dias de carro, como Death Valley, Zion, Grand Canyon, Arches, Monument Valley ou Joshua Tree, entre muitos, muitos outros.

 

 

Um destino menos óbvio → FRAGAS DO EUME

 

O Parque Natural das Fragas do Eume é uma maravilha da natureza que fica na Galiza, não muito longe de A Coruña. Com mais de nove mil hectares e praticamente desabitado, tem uma das florestas ribeirinhas melhor conservadas e mais virgens da Europa. São vários os trilhos que é possível percorrer neste parque, e cada um desvenda paisagens diferentes, todas elas extraordinárias. O mais frequentado acompanha uma parte do curso do rio Eume e leva-nos até ao Mosteiro de San Xoán de Caaveiro, de onde depois descemos até ao rio Sesín, numa sucessão de cenários que parecem saídos de filmes com temática medieval e misteriosa. Neste bosque fabuloso, em que o sol nem sempre tem permissão para entrar, há árvores estranhas, musgos e líquenes, ribeiros e cascatas, antigos moinhos de pedra, e muita magia no ar – quando terminamos o passeio, a cabeça está mais leve e temos toda uma outra energia.

 

Falo dele e de outros lugares desta belíssima região da Galiza no post Na Galiza, entre mosteiros e fervenzas.

 

 

… gosta de andar de bicicleta

 

Um destino óbvio → AMESTERDÃO

 

Há muitas razões para Amsterdão ter um carácter tão único, e a omnipresença da bicicleta é talvez a maior de todas elas. Um pouco por toda a Holanda, mas mais ainda na capital, a bicicleta é o meio de transporte principal e muito da cidade está pensado para ela. As ruas mais movimentadas do centro têm todas ciclovias, semáforos dedicados, e estacionamentos enormes nos locais mais importantes.

 

Sendo totalmente plana, atravessar a cidade inteira de bicicleta é um projecto de viagem facilmente alcançável, oferecendo a versatilidade de se ir parando onde e quando se quiser, quer seja acompanhando os canais, quer atravessando bairros que parecem desenhados a régua e esquadro, onde os edifícios de poucos andares são forrados de tijolo e as janelas têm tamanhos XXL. É também muito útil para ir até outro transporte para viagens mais longas, deixando-a estacionada à porta de qualquer estação e levando-a de novo de volta a casa. Em todo o lado se consegue alugar uma bicicleta por algumas horas ou alguns dias, e muitos hotéis disponibilizam bicicletas próprias aos seus hóspedes.

 

Fica um único aviso: andar de bicicleta no centro de Amsterdão não é para qualquer um. Os locais estão mais do que habituados a usarem-nas e andam a velocidades que impressionam quem vem de fora, as ciclovias não são muito largas para a quantidade de bicicletas que se vêem nas artérias principais e, como se isso não bastasse, são partilhadas com os ciclomotores (algo que os habitantes estão há alguns anos a tentar mudar). Escolher a bicicleta para andar por estas ruas é, ainda assim, um desafio muito recompensador.

 

 

Um destino menos óbvio → BOLONHA

 

Se leram o post Duas semanas em Itália já sabem que Bolonha foi uma das melhores surpresas que tive na minha mais recente viagem a este país. A cidade das torres e das arcadas – e dos estudantes! – tem muitos e deliciosos segredos para descobrir, e tem uma vibe jovem e descontraída. Além do mais, é substancialmente plana, o que faz dela ideal para percorrer de bicicleta. O centro tem algumas ruas vedadas ao trânsito automóvel, e a bicicleta é um meio de locomoção versátil que chega a todo o lado, é fácil de estacionar, não polui e ajuda a manter a forma. É fácil organizar itinerários para ver as arcadas mais emblemáticas e as torres medievais que sobreviveram até aos nossos dias, ou simplesmente vaguear pela cidade universitária. Existe uma ciclovia – a Tangenziale delle Biciclette – que liga todas as portas de Bolonha, rodeando o centro histórico. E nas franjas da cidade há parques e amplos espaços verdes por onde é possível pedalar quando surge a vontade de fugir ao bulício. Visitar Bolonha de bicicleta permite parar quando e onde se quer, e cobrir distâncias maiores sem ter de apanhar um transporte público ou andar demasiado a pé. É sem dúvida uma cidade altamente aconselhável para os fãs das duas rodas com pedais.

Fiquem a saber mais sobre esta cidade no post Bolonha: torres, arcadas e muito charme.

 

 

… tem vontade de fazer um cruzeiro fluvial

 

Um destino óbvio → RIO NILO

 

Quem não sonha com um cruzeiro no Nilo? Deslizar pelo rio a bordo de uma embarcação que mal trepida, vendo as margens cultivadas passar pela janela panorâmica do quarto e as silhuetas bicolor dos íbis em voo contra o céu azul intenso, que nem uma nuvem perturba. Ao cair da tarde, visitar templos que contam histórias com milhares de anos, e sentirmo-nos pequeninos ao pé de colunas grossas como colossos e altas como arranha-céus, cobertas de hieróglifos misteriosos que evocam uma cultura tão peculiar que mais parece alienígena. Acordar de madrugada e entrar num autocarro, almofada debaixo do braço, que nos embala no sono até chegarmos a Abu Simbel, onde foram reconstruídos os gigantescos templos salvos das águas da Barragem de Assuão.

 

Descer um troço do Nilo em modo cruzeiro é uma experiência relaxante, exótica, culturalmente interessante… e – não tenhamos ilusões! – muito turística. Pode haver maneiras melhores de conhecer o Egipto, e haverá momentos que não se assemelham em nada ao que imaginámos, mas a nossa memória selectiva encarregar-se-á de os apagar.

 

 

Um destino menos óbvio → CANAL DU MIDI

 

Une o Oceano Atlântico ao Mar Mediterrâneo, atravessando a região da Occitânia, e é Património Mundial da UNESCO desde 1996. Esta rede de canais com 360 km concebida por Pierre-Paul Riquet é um feito notável da engenharia do século XVII. Está dividida em cinco secções e inclui 328 estruturas diversas: aquedutos, pontes, túneis e eclusas. Apesar da mestria técnica que foi necessária para o construir e sobretudo para conseguir que fosse continuamente alimentado sem correr o risco de secar, o Canal du Midi está tão harmoniosamente inserido na paisagem que o tomamos por um curso de água natural – e o engano é perfeitamente justificável.

 

A cereja no topo do bolo é que o Canal du Midi é facilmente navegável na sua maior parte, e passa por locais idilicamente bucólicos e por aldeias e vilas que correspondem em tudo à França do nosso imaginário. Um cruzeiro neste Canal pode ser feito autonomamente, alugando uma embarcação pelo tempo pretendido e com ou sem capitão, parando quando e onde se quer; ou em cruzeiro organizado, com todo o conforto e sem termos de nos preocupar com nada. A oferta é muito variada e há vários percursos e durações de viagem possíveis, com paragens nos lugares mais emblemáticos para visitar pontos de interesse, mas uma coisa é certa: será uma viagem inesquecível.

 

As minhas impressões sobre esta região, que visitei há poucos anos, estão no post Um cheirinho a sul de França - I - Carcassonne e o Canal du Midi.

 

 

… é apreciador de ouro

 

Um destino óbvio → SÃO PETERSBURGO

 

Se há cidade que ostenta sem vergonhas a sua opulência, São Petersburgo é com certeza uma das mais exibicionistas. Ao ar livre, para onde quer que olhemos, há ouro a brilhar ao sol – ou mesmo que não haja sol nenhum. Pode ser a cúpula da Catedral de Santo Isaac, uma torre da Fortaleza de Pedro e Paulo, as asas dos leões alados da Ponte do Banco, um dos bolbos da exótica Catedral do Sangue Derramado, ou um pormenor do Palácio de Inverno.

 

No interior dos monumentos, a quantidade de ouro é por vezes tanta que fere a vista, e é preciso resistir à vontade de pôr os óculos de sol. Difícil é também não andar permanentemente de boca aberta enquanto visitamos as salas principais do Hermitage no Palácio de Inverno, deparamos com a deslumbrante iconóstase da Catedral de São Pedro e São Paulo, uma obra de arte primorosamente trabalhada e completamente recoberta de ouro, ou observamos os objectos expostos no Museu Fabergé, em que o dourado compete com o brilho das pedras preciosas e de outros metais.

 

Tanta opulência torna difícil recordar que a cidade já atravessou muitos momentos negros ao longo dos seus poucos séculos de existência. Capturada aos suecos em 1703 pelo czar Pedro I, o Grande, construída sobre terrenos pantanosos por camponeses e prisioneiros escravizados, com um custo de dezenas de milhares de mortos, foi palco de enormes incêndios, do detonar da Revolução de Outubro, e de um cerco de 872 dias durante a Segunda Guerra Mundial que se saldou num milhão de mortos – o cerco mais extenso e destrutivo de toda a história dos últimos séculos. O esplendor de São Petersburgo ofusca até mesmo os visitantes mais avisados, mas é uma cortina de fumo que disfarça os segredos obscuros do passado da cidade.

 

Encontram mais algumas impressões sobre esta cidade no post São Petersburgo e Moscovo, metades diferentes da mesma laranja.

 

 

Um destino menos óbvio → ISTAMBUL

 

Dona de uma das linhas de horizonte citadinas mais fascinantes do mundo, metrópole gigantesca dividida entre o oriente e o ocidente, entre o passado e o futuro, entre a modernidade e a tradição, Istambul lançou sobre mim um feitiço há muitos anos (leiam o post O coração de Istambul (e Istambul no meu coração) para saberem mais pormenores), e mesmo depois de conhecer bastante mais mundo continua a ser a minha cidade europeia preferida.

 

Dominada pelo cinzento e branco do exterior das mesquitas e palácios, e pelo aspecto anódino da maioria dos outros edifícios, é dentro de portas que a cidade desvenda a sua riqueza. Acercamo-nos do Topkapi e parece-nos mais uma fortaleza do que um palácio, construção sem aparentes requintes exteriores, nada que o torne particularmente atraente. Mas depois entramos em salas cheias de tesouros, vemos tronos em ouro cravejados de gemas preciosas, adagas, capacetes, berços, torneiras e gradeamentos feitos do mesmo metal; e há paredes e tectos onde o dourado domina, roupas bordadas a fio de ouro, objectos do dia-a-dia revestidos de plaqué (ou será que são de metal maciço?). Em Santa Sofia, brilha o dourado dos frescos restaurados, do mirhab e do minbar; na Mesquita de Solimão, o ouro das decorações refulge iluminado pelos grandes candeeiros circulares; o interior do Palácio de Dolmabahçe é uma orgia de carpetes e tapeçarias, madeiras nobres, damascos e estofos aveludados, vidros, espelhos e lustres cintilantes, inseridos em divisões gigantescas em que o dourado é tanto que até encandeia. E nas joalharias do Grande Bazar há uma tal quantidade de ouro que ficamos com a cabeça a andar à roda (e a duvidar de que tudo aquilo seja mesmo verdadeiro…).

 

Não terá sido à toa que deram a uma área de Istambul o nome de Corno de Ouro.

 

 

… adora vida nocturna

 

Um destino óbvio → LAS VEGAS

 

A maior parte dos locais de turismo virado para a vida nocturna oferecem discotecas enormes com os maiores DJs do mundo, festas vibrantes apinhadas de gente que se quer divertir à noite e descansar numa praia com uma boa bebida na mão durante o dia. Las Vegas oferece muito mais do que isso.

 

Las Vegas é um cliché dos filmes americanos quando falamos de festas de arromba, e não é por acaso. Numa cidade onde todos as casas – hotéis e casinos, discotecas, restaurantes e salas de espectáculo – disputam entre si a atenção dos visitantes, a qualidade e quantidade do entretenimento cresce de forma exponencial. Para aproveitar a vida nocturna, além das centenas de discotecas que povoam a cidade (e sobretudo a Strip), há espectáculos de renome em cena todos os dias, restaurantes óptimos com entretenimento e, claro, o rebuliço dos casinos.

 

Mas a expressão "vida nocturna" nem está completamente certa quando falamos de Las Vegas. Nesta cidade, a festa é constante. Pelas primeiras horas da manhã, quando as discotecas começam a fechar, abrem as casas de After Hours (também esta uma denominação errada, porque costumam estar abertas desde madrugada até ao final da noite). Depois disso, os hotéis e casinos fazem questão de manter os hóspedes entretidos com as famosas festas nas piscinas e espectáculos e actividades a várias horas do dia. Aliás, se estivermos dentro de um hotel-casino o dia todo (e garanto que há razões para o fazer) será muito difícil dizer que horas são.

 

E como se isso não bastasse, Las Vegas alberga inúmeros festivais ou convenções que ali vão todos os anos, e que representam uma grande fatia da indústria turística da cidade. Se visitar a cidade quando estiver um destes festivais a decorrer (e é muito provável que aconteça) e ainda lhe restar energia, porque não fazer uma visita?

 

 

Um destino menos óbvio → BUDAPESTE

 

O charme de Budapeste deve-se em muito à sua aura de decadência, que a cidade sabe capitalizar com mestria. Martirizada de várias formas durante praticamente todo o século XX, em vez de esconder as suas cicatrizes opta por as exibir orgulhosamente. Enquanto Buda, na margem oeste do Danúbio, mostra uma estética vintage algo sofisticada – é aqui que encontramos o funicular que inspirou Wes Anderson para o seu filme The Grand Budapest Hotel e as famosas Termas de Géllert, só para citar dois exemplos – em Pest o ambiente é claramente mais hipster: fachadas decrépitas e grafitadas, com portas e elevadores velhos, escondem apartamentos modernizados, muitos deles destinados a alojar turistas ou jovens estudantes; o fabuloso edifício do Grande Mercado Central viu o seu interior transformado em espaço higienizado, algures entre o popular, o gourmet e o turístico; multiplicam-se os trabalhos de street art nas paredes dos prédios; e a lendária Linha 1 do metro (que é a segunda linha férrea subterrânea electrificada mais antiga da Europa e se mantém em funcionamento há mais de 120 anos), pouco mudou de aspecto desde os seus primórdios.

 

Durante o dia, as ruas do Distrito VII de Pest estão relativamente sossegadas, com umas quantas lojas abertas e o movimento normal de transeuntes. Mas ao cair da noite, o ambiente muda – é aqui que estão situados grande parte dos restaurantes, bares e discotecas mais concorridos da capital húngara, a par com lojas de roupa e objectos em segunda mão ou que primam pelo design, ateliers de tatuagem ou cabeleireiros, numa miscelânea que é tão apelativa para as faixas etárias mais jovens como para os turistas de todas as idades. A noite pode começar num restaurante de comida israelita, húngara ou vegetariana, ou numa barraquinha de street food do Karaván, continuar com uma bebida no amplo pátio que dá pelo nome de Mazel Tov ou num dos bares que encontramos porta sim, porta sim, e terminar (ou não!) num karaoke na Gozsdy Passage, ou no Szimpla Kert, o ruin pub mais famoso de Budapeste, que ocupa o edifício de uma antiga fábrica e é uma amálgama de objectos kitsch ou reutilizados, plantas, cores, música, projecções, salas, escadas, mesas e bancos, muito barulho e gente em constante movimento (ou então no Instant, no Fogas Ház, no Ötkert… há muito por onde escolher).

 

Para uma noite diferente mas igualmente divertida, as Sparty (aos sábados à noite) nas Termas de Szechenyi são uma boa alternativa. E se tivermos vontade de uma noite mais tranquila, ou mais romântica, a opção certa é fazer um jantar-cruzeiro no Danúbio, ou simplesmente atravessar a Ponte das Correntes, com vista para a cidade iluminada em ambas as margens do rio. A noite, em Budapeste, é tudo menos monótona.

 

 

Nota: Este post teve a colaboração preciosa do Alexandre Álvaro, viajante por gosto e por profissão, a quem muito agradeço.

 

 

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