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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Ter | 28.12.21

O meu 2021

 

De repente, não mais que de repente... Há um poema (lindíssimo!) do Vinicius de Moraes que começa desta maneira; e embora seja um poema que fala de (des)amor, é este o verso que me ocorre quando penso no ano que está quase a terminar. Dois mil e vinte e um passou-se num ápice, em flashes repentinos (tal e qual como nos filmes), ora fechada em casa – e a vacina que nunca mais vem… – ora finalmente a poder andar por aí mais à vontade, um fim-de-semana aqui, o Verão que chega finalmente, uma viagem ali (abençoado certificado de vacinação!), põe máscara, tira máscara, mais uns fins-de-semana fora, mais umas viagens, os abraços apertados de que sentia tanta falta, o receio que se vai progressivamente perdendo, mas que ainda se nota noutras pessoas e às vezes também me assalta… E de repente, não mais que de repente, Dezembro está a chegar ao fim.

 

Este foi mais um ano sem poder fazer planos com grande antecedência – de um momento para o outro, tudo muda. E quando falamos de viagens, a instabilidade é ainda maior. As companhias aéreas cancelam ou alteram voos constantemente, como se quem viaja tivesse todo o tempo do mundo e pudesse ficar num país estrangeiro mais três ou quatro dias sem que isso faça qualquer diferença, ou regressar de uma cidade que fica a dezenas de quilómetros daquela onde estamos, sem que isso nos incomode. Cada país tem as suas próprias regras, uns estão a fechar quando outros abrem, a situação muda de semana para semana, e quando entramos num país estrangeiro acabamos por nunca ter a certeza de que vamos conseguir sair na data esperada.

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Estas alterações acabam por implicar despesas, e viajar tornou-se agora um bom bocado mais dispendioso. Ao contrário do que seria de esperar, os voos não estão mais baratos, o preço da alimentação aumentou em todo o lado e os alojamentos também encareceram (seria expectável o inverso, que estivessem mais acessíveis, para atraírem mais clientes). Com a chegada das vacinas e o alívio de algumas restrições, este ano o turismo ressuscitou com força; ainda não chegou aos níveis quase contraproducentes de 2019, mas em certos aspectos não andou muito longe. Em Novembro, demorei cerca de 15 minutos para percorrer a sala do controlo de segurança do aeroporto de Lisboa até chegar aos scanners, que estavam todos a funcionar. Nunca demorei tanto tempo, e nunca vi aquela sala tão cheia – muito menos às seis e meia da manhã!!!

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A qualidade das minhas viagens durante este ano foi inversamente proporcional à quantidade. Viajei pouco, por comparação com outros anos, mas as viagens que fiz foram excepcionais. Desta vez não andei muito por Portugal, ao contrário do que é meu hábito, mas não foi propositado – os primeiros meses do ano, por força das circunstâncias, foram de sossego. Depois, para compensar, fui descobrir alguns lugares do nosso país que ainda não conhecia, e voltei a outros de que já tinha saudades.

 

A primeira viagem do ano foi em Maio, e os pretextos foram o Douro e a N222. Não o Douro mais famoso, aquele que encontramos ali para os lados da Régua e tem direito a viagem num comboio histórico, e de que Miguel Torga fala no seu poema “São Leonardo da Galafura”, nem o troço da estrada que dizem ser perfeito, mas sim um Douro mais tranquilo e menos turístico, talvez até mais genuíno, mas não menos belo – aquele que corre pela região de Cinfães, e de que falo no artigo “Um pedaço do Douro” recentemente publicado no Fantastic, o website em que colaboro regularmente.

 

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De caminho aproveitei para ir conhecer a nova coqueluche da oferta turística do nosso país, a ponte 516 Arouca, e fazer novamente um (desta vez curto) passeio nos passadiços do Paiva. Uma experiência sem dúvida diferente, mas que me fez reflectir sobre as novas “modas” do turismo em Portugal – e o resultado foi o post “A ponte 516 Arouca, passadiços, baloiços e afins”. Viajar também aguça a nossa capacidade de observação e de comparação.

 

Se viram a minha conversa, com a Filipa Frias dos Intrepid Jumpers, no Sair da Bolha da ABVP-Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, então já sabem que tenho uma (cada vez maior) lista de destinos que quero mesmo muito visitar, e que todos os anos tento concretizar pelo menos um desses desejos. Em Julho, risquei dessa lista as Cinque Terre, Florença e algumas vilas e cidades da Toscana, numa inesquecível viagem de duas semanas que ultrapassou as minhas maiores expectativas (e também o orçamento, mas pronto, vale mais um gosto…).

A Itália é um país “confortável”: a língua é fácil, a comida é familiar, as pessoas são hospitaleiras, conversadoras e de sorriso fácil – muito como nós, portugueses. Apesar da pressão turística da época alta, foi uma boa altura para visitar esta região; num ano dito normal, seria impensável. Como bónus, descobri a magnífica cidade de Bolonha, que me encheu as medidas e não me canso de recomendar. O roteiro e algumas impressões sobre esta viagem estão no postDuas semanas em Itália”.

 

Ainda em Julho, a convite do Turismo do Centro passei um fim-de-semana a conhecer alguns dos tesouros da região de Viseu Dão Lafões. Revisitei São Pedro do Sul e Vouzela, passeei por Viseu, conheci Penalva do Castelo e caminhei num dos troços mais agradáveis da Ecopista do Dão. Como não podia deixar de ser, uma parte do tempo foi dedicada a conhecer a saborosa gastronomia, tanto a regional como a mais inovadora, e os famosos vinhos do Dão. Foi um fim-de-semana tão cheio que me deu material para dois posts: “Coisas boas (e alguns segredos) de Viseu Dão Lafões – parte I e parte II”.

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Em Setembro voltei a viajar de avião – e também de barco, porque desta vez o destino escolhido foi um país formado por três ilhas: Malta. Dez dias bem passados a mergulhar na história e cultura deste país que está a meio caminho entre África e a Europa, onde tantos povos se cruzaram e cujo passado militar e religioso ainda se sente sobremaneira. Apesar da língua estranha, a fugir mais para o árabe do que para o latim, é um país em que se viaja com muita facilidade. Têm uma excelente rede de transportes (não aluguei carro), muita oferta de restauração e alojamento, com boa qualidade, as pessoas são simpáticas e toda a gente fala inglês. Apaixonei-me pelas coloridas varandas de madeira, pela culinária em que não falta peixe, pelos finais de dia longos numa esplanada junto à água, longe do barulho e da confusão.

 

Três dias inteiros foram passados na ilha de Gozo. A maior parte dos visitantes de Malta passam apenas um dia nesta ilha, mas não sabem o que perdem. Gozo é muito mais tranquila, menos quente, as praias são melhores, e apesar de ser bastante pequena, tem muito para ver. Fiquei num alojamento local em Għajnsielem (a forma como se pronuncia não se parece com nada…) e revelou-se uma escolha excelente, embora ficasse um pouco longe da capital, Victoria. Aliás, nos primeiros dias que passei na ilha de Malta também optei por me alojar fora da confusão, neste caso em Birgu, uma das Três Cidades que ficam em frente a Valletta, do outro lado do Grande Porto. Apreciei mais estas férias do que estava à espera, em parte porque o ritmo de toda a viagem foi calmo e relaxado – precisamente como eu gosto.

 

E este ano regressei a Aveiro. Duas vezes, para compensar a ausência no ano passado. No final de Outubro fui surpreendida com um prémio no Festival Art & Tur: o meu post “Cores de Aveiro” ganhou o concurso “Blogging Aveiro”, e convidaram-me a ir ao Festival para receber o prémio e participar numa mesa redonda. Um mês depois, voltei ao Centro de Congressos para assistir ao Exodus Aveiro Fest, que voltou a ser realizado ao vivo. Foi bom poder matar saudades da cidade e dos amigos que tenho vindo a fazer.

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O fim-de-semana comprido no início de Novembro foi aproveitado para uma escapadinha até Salamanca e à Sierra de Francia, com uma breve passagem por Ciudad Rodrigo. O grande terramoto de 1 de Novembro de 1755, que destruiu grande parte da cidade de Lisboa, também afectou Salamanca, e sobretudo a sua Catedral. Foi necessário reforçar a estrutura da Torre de las Campanas para corrigir as fissuras e a sua inclinação, motivo pelo qual ela tem actualmente um aspecto mais “robusto” do que o resto do monumento. No entanto, não houve vítimas, facto que é celebrado todos os anos desde essa altura com a subida do Mariquelo (um habitante vestido com traje típico, que faz um discurso e toca flauta e tambor) à torre da Catedral. Talvez por isso, apesar da chuva, Salamanca estava cheia (mesmo muito cheia!) de gente e de animação – é sem dúvida uma das cidades mais vibrantes do país que é nosso vizinho.

 

A passagem pela Sierra de Francia não foi demorada, mas ainda deu para passear em San Martín del Castañar e em La Alberca. As aldeias desta serra têm uma arquitectura muito particular e tradições curiosas, estão bem conservadas e nem o frio tira as pessoas da rua. É uma região da Extremadura espanhola que vou ter de visitar novamente e com mais calma.

 

Estocolmo também já estava na minha lista de desejos há bastante tempo, e o meu aniversário em Novembro foi um bom pretexto para ir finalmente conhecer mais uma capital europeia. Foram só quatro dias, mas bastante intensos. A cidade é ideal para percorrer a pé, com a água no horizonte ou a atravessar-se no nosso caminho. Tem um ambiente descontraído, organizado e limpo, moderno, muito “cool”. As pessoas são simpáticas e divertidas (bem menos frias do que a ideia que temos dos nórdicos, de uma maneira geral), a comida é excelente, e tudo funciona bem. A experiência foi ainda mais interessante porque fiquei alojada num hotel que é um iate: o Mälardrottningen foi construído em 1924 e teve uma história bem recheada de aventuras (incluindo ter pertencido à milionária Barbara Hutton), até que em 1982 foi ancorado no ilhéu de Riddarholmen, mesmo ao lado de Gamla Stan, o centro histórico, e passou a funcionar como hotel e restaurante.

 

Para quem gosta de museus, Estocolmo é a cidade ideal. São muitos, e muito bons – a começar pelo mais impressionante de todos, o Museu do Vasa, criado para exibir um navio de guerra que se afundou em 1628. Poder-se-á pensar que um museu onde tudo gira à volta de uma embarcação será monótono, mas é tudo menos isso. Depois há também o Museu dos Abba, o Fotografiska (onde vi a exposição fotográfica mais fabulosa de sempre), o Museu Nacional, o Skansen (um museu etnográfico ao ar livre que é também um parque), o Museu do Prémio Nobel… e a lista continua. Na visita guiada ao Palácio Real fiquei a conhecer uma boa parte da História do país (sabiam que a Suécia chegou a ser um império?) e na visita ao Palácio de Drottningholm, que é a actual residência permanente da família real, fiquei a saber ainda mais. Foram dias cheios e com bastantes quilómetros percorridos a pé em cada um deles, mas imensamente gratificantes, e uma escolha excelente para a minha última viagem deste ano fora do país.

 

***

 

Apesar de todas as incertezas, é óbvio que tenho planos de viagem para 2022 – e bastante ambiciosos, por sinal. Ou melhor: tenho ideias de viagens que gostaria de realizar. Há desejos que têm vindo a ser adiados, sobretudo por uma questão de prudência, e tenho como objectivo poder concretizá-los no próximo ano. Se vou conseguir ou não, só daqui por doze meses o saberei. Mas seja o que for que o futuro me reserve, muito ou pouco, será certamente bom.

 

A todos os que me lêem e me seguem, espero sinceramente que 2022 vos traga boas surpresas e realize os vossos maiores sonhos.

 

Feliz Ano Novo!

 

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O meu 2021

 

Sex | 10.12.21

Os mágicos palácios de Sintra

 

Visitar a vila de Sintra é embarcar numa viagem no espaço e no tempo. Apesar de ficar a apenas trinta quilómetros da nossa capital, temos a sensação de entrar num mundo diferente. Aninhada na serra granítica que hoje tem o mesmo nome mas já foi conhecida como Monte da Lua, e a dois passos do Oceano Atlântico, Sintra tem um microclima especial que lhe proporciona um ambiente único, uma aura misteriosa e mágica muito própria. O seu carácter privilegiado é reconhecido há muitos séculos e há vestígios de povoamento desde o Neolítico, com posterior ocupação também por romanos e muçulmanos. Nela viveram reis e rainhas, nobres e plebeus, escritores e artistas dos quatro cantos do mundo, e continua a ser hoje em dia uma das localidades mais amadas pelos portugueses e visitadas pelos estrangeiros.

 

Rodeada de vegetação exuberante, Sintra é a vila mais romântica de Portugal, rica em paisagem, cultura e património edificado, e é impossível não ficar rendido aos seus muitos encantos, entre os quais se encontram palácios, castelos e casas senhoriais. É por alguns destes fantásticos edifícios que vamos hoje passear.

 

 

CASTELO DOS MOUROS

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Empoleirado nas alturas da serra e sobranceiro à vila, há mais de onze séculos que o Castelo dos Mouros é testemunha silenciosa da nossa história. Anterior à fundação de Portugal – sabe-se que remonta, pelo menos, à época em que a Península Ibérica estava ocupada pelos muçulmanos – este castelo demonstra bem a importância geográfica da região de Sintra. Passear nas suas muralhas, duplas em grande parte da sua extensão e rodeando uma área com mais de 12 mil metros quadrados maioritariamente arborizada, oferece-nos vistas magníficas das colinas verdejantes que o rodeiam, do vasto oceano que se estende pelo horizonte, e dos palácios e casas de Sintra. Dentro do enorme recinto encontramos uma capela românica, silos de armazenamento e uma cisterna, a torre de menagem e outras torres dispersas pelas muralhas, e ainda uma necrópole medieval, que está a ser alvo de escavações arqueológicas.

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PALÁCIO NACIONAL DE SINTRA

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Mais conhecido como Palácio da Vila, há testemunho de que já no século X existiria uma residência oficial de governantes mouros no local onde se ergue agora este palácio. Continuamente utilizado (sobretudo no Verão) pelas famílias reais portuguesas até à extinção da monarquia, o aspecto que tem hoje deve-se essencialmente a obras de ampliação realizadas entre os séculos XIII e XVI. Mesmo apesar de gravemente afectado pelo terramoto de 1755, a reconstrução de que foi alvo não lhe alterou as suas características essenciais. Inconfundível pelas suas colossais chaminés, cujo perfil está reproduzido no actual logótipo de Sintra, é uma mistura de estilos arquitectónicos variados – mudéjar, gótico e manuelino – fruto das sucessivas remodelações de que foi alvo ao longo dos tempos. A sua divisão mais icónica é a Sala dos Brasões, criada por ordem de D. Manuel I. As suas paredes estão revestidas com azulejos azuis e brancos representando cenas bucólicas e de caça, e na cúpula foram pintadas as armas do rei e dos seus filhos e os brasões das 72 famílias da nobreza portuguesa mais importantes dessa época.

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PALÁCIO DA PENA

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É um ícone dos palácios românticos, tanto por fora como no seu interior – foi, de facto, o primeiro palácio romântico da Europa e marcou uma tendência que seria seguida em vários outros países durante todo o século XIX. Ainda assim, permanece único e inconfundível, com a sua mistura feliz de elementos mouriscos, góticos, egípcios e renascentistas, e as suas cores vivas destacando-se na linha do horizonte da Serra de Sintra. No local existiu, entre os séculos XVI e XIX, um mosteiro pertencente à Ordem de São Jerónimo, abandonado aquando da extinção das ordens religiosas no nosso país. Das ruínas deste antigo mosteiro, que também tinha sido bastante danificado pelo terramoto de 1755, decidiu D. Fernando de Saxe-Coburgo-Gota (marido de D. Maria II) criar o magnífico palácio que hoje se destaca num dos cumes da Serra de Sintra, visível a muitos quilómetros de distância – de dia pelas cores garridas de que está pintado, à noite pela sua iluminação. O interior tem uma sucessão de salas e aposentos privados, todos profusamente decorados, numa orgia de objectos, cores e pormenores que sobrecarrega os sentidos. Em torno do palácio estende-se o maravilhoso Parque da Pena, com jardins, caminhos ondulosos e pontos de referência concebidos em harmonia com a estética do edifício. Aqui encontramos pequenos lagos, construções variadas e pormenores deliciosos, rodeados por árvores e arbustos oriundos de todos os continentes, num conjunto riquíssimo em variedade e exotismo que fazem deste parque um dos maiores e mais importantes arboretos da Europa.

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PALÁCIO DE MONSERRATE

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Integrado num parque encantador onde existem mais de três mil espécies de plantas exóticas vindas de todo o mundo, Monserrate é muito provavelmente o palácio português que melhor assume e ostenta a sua inspiração oriental. Invulgar no seu exterior, onde já se notam as influências indianas e mouriscas nas suas cores, nos lanternins e cúpulas bulbosas, e nos elementos decorativos de inspiração vegetal, o interior consegue ser ainda mais surpreendente, com uma profusão de colunas, cúpulas e frisos repletos de arabescos finamente trabalhados, azulejos com padrões geométricos, pisos com embutidos e abóbadas que fazem lembrar caleidoscópios. Depois de ter passado, desde o século XVII, por vários donos e estádios de ocupação, o milionário britânico Francis Cook comprou a propriedade em 1856 para servir de residência de Verão à sua família e encomendou a remodelação do palácio aos arquitectos James Thomas Knowles (pai e filho), cujo trabalho extraordinário foi cuidadosamente recuperado nas prolongadas obras que decorreram até há poucos anos. A renovação dos jardins foi entregue por Sir Francis Cook ao paisagista William Stockdale, ao botânico William Nevill, e ao mestre jardineiro James Burt, que criaram uma obra-prima do paisagismo romântico, organizando as espécies botânicas por área geográfica de proveniência, dotando o parque de um amplo relvado que parece saído de um filme, de pequenos lagos, cascatas e recantos, e de outros pontos de interesse que vamos encontrando em passeio pelos seus caminhos sinuosos.

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PALÁCIO E QUINTA DA REGALEIRA

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Além da sua beleza inegável, esta quinta e o seu palácio são famosos por integrarem um conjunto de espaços assumidamente místicos e esotéricos, com grutas, lagos, poços e construções várias que nos surpreendem a cada passo. Com origens que remontam ao século XVII, a propriedade foi comprada em 1892 por António Augusto Carvalho Monteiro, um homem culto e milionário com fortuna feita no Brasil. Para a remodelação da quinta e do palácio, levada a cabo entre 1904 e 1910, foi contratado Luigi Manini, um muito talentoso arquitecto e cenógrafo italiano que vivia em Lisboa e conseguiu transformar a Regaleira num local cativante e cheio de fantasia a que é impossível ficar indiferente. A estética do aparatoso palácio e da capela que se encontra perto são nitidamente de inspiração renascentista e neo-manuelina, e conseguem a proeza de se destacarem dentro da massa verde do parque que os rodeia, estando ao mesmo tempo em perfeita simbiose com ele. Quanto aos jardins, foram concebidos como cenário de uma viagem iniciática, numa sucessão de locais com referências mitológicas, religiosas e clássicas, que primeiro decorre à superfície e depois nos leva às profundezas e à escuridão do mundo subterrâneo. Um percurso incrível e cheio de beleza, pormenores curiosos e encantadores, e muita magia.

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***

Sintra e os seus arredores são uma região singular no nosso país, onde os nossos sentidos e emoções são constantemente postos à prova – um daqueles sortilégios em que a natureza é pródiga, e que o engenho humano apenas consegue tentar acompanhar.

 

(Este artigo foi publicado pela primeira vez no website Fantastic)

 

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Os mágicos palácios de Sintra