À volta do Tejo
Neste roteiro vamos passear junto ao Tejo em troços menos conhecidos, onde corre entre elevações mais abruptas mas sempre manso. É uma região de paisagens maravilhosas, apesar de massacrada pelos incêndios florestais dos últimos anos, onde o Alentejo, o Ribatejo e a Beira Baixa se tocam e as suas características culturais se misturam e enriquecem mutuamente.
Dia 1
Belver – Passadiço do Alamal – Vila Velha de Ródão
Começamos o dia em Belver, onde o casario branco típico de uma verdadeira localidade alentejana desce pela encosta até ao Tejo. Terra importante na conquista e consolidação do território português, o castelo é a sua coroa. Em tempos foi fortaleza defensora, hoje é miradouro privilegiado sobre quilómetros de rio e a paisagem que o rodeia.
Castelo de Belver
http://www.cultura-alentejo.pt/
Horário: 10h-13h e 14h-18h
(de quarta a domingo; encerra no último fim-de-semana de cada mês e nos dias 1 Janeiro, domingo de Páscoa, 1 Maio, 23 Novembro, 25 Dezembro):
Contactos: telefone 241 635 040 (Castelo) / 241 639 070 (CM Gavião)
Passando a ponte, um passadiço de madeira com cerca de dois quilómetros leva-nos à praia fluvial do Alamal. Acompanhando o Tejo e sob a vigilância constante do castelo na margem oposta, é um passadiço fácil de percorrer e proporciona um passeio muito agradável, sempre junto à água e entre a vegetação típica da região: oliveiras e medronheiros, madressilva, amieiros e salgueiros, fetos e canaviais. O rio vai correndo calmo, enquanto nos pequenos rochedos de pedra os corvos-marinhos aproveitam para secar as penas ao sol. A praia é de areia, tem bandeira azul e todas as comodidades habituais num lugar de veraneio, e é igualmente aprazível mesmo em dias menos ensolarados.
Regressando a Belver, a caminho do destino seguinte vale a pena fazer um pequeno desvio até à Ermida de Nossa Senhora do Pilar para termos uma outra perspectiva da localidade e da sua envolvente – e confirmar que esta região é verdadeiramente bonita seja qual for o ângulo de que a olhamos.
Seguindo para nordeste, meia hora é suficiente para chegar a Vila Velha de Ródão. À chegada torcem-se os narizes com o cheiro agressivo das indústrias da pasta de papel e do azeite. Não é uma recepção agradável, por isso há que seguir rapidamente para o coração da vila. O ideal é começar por ter (mais) um encontro imediato com o Tejo na zona do cais de Ródão – uma forma de começar a desvendar aos poucos os segredos que a paisagem esconde. Se a previsão do tempo for boa vale também a pena marcar antecipadamente um passeio de barco até às Portas de Ródão ou para ver as gravuras rupestres (marcações: 272541138 / 272541216 / 967646614 ou para geral@vilaportuguesa.pt).
O próximo local a visitar é o Centro de Interpretação de Arte Rupestre do Vale do Tejo (CIART), cujas exposições nos falam dos riquíssimos e numerosos vestígios pré-históricos descobertos nas margens do Tejo na década de 70 do século passado, a maioria deles entretanto submersos pelas águas da Barragem de Fratel.
Centro de Interpretação de Arte Rupestre do Vale do Tejo (CIART)
http://tejo-rupestre.com/
Facebook: https://www.facebook.com/CIARTVVR/
Largo do Pelourinho, 6030-212 Vila Velha de Ródão
Horário: terça a sexta – 9h-12h30 e 14h-17h30 / sábados – 10h-13h e 14h-18h / domingos e feriados – mediante marcação prévia
Informações: telefones 272 541 195 / 914 466 382 email: geral@tejo-rupestre.com
Seguimos até ao Castelo do Rei Vamba, parando no início da subida para pasmar ante a beleza das Portas de Ródão, uma formação geológica original no meio da qual escorrem as águas do Tejo. O nome oficial do castelo, muito mais prosaico, é Castelo de Ródão. Ali viveu Vamba, o último grande rei dos Visigodos, no séc. VII, defensor da Egitânia. Há uma lenda que lhe está associada e fala de um triângulo amoroso entre Vamba, a sua mulher e um rei muçulmano (http://pagwagaya.armandofrazao.com/lendas.html) – poderia ser certamente argumento para uma novela. De castelo esta construção tem já pouco, pois é simplesmente uma torre, mas oferece-nos uma vista quase comovente, de tão bonita que é, sobre o Tejo e as Portas de Ródão.
Dia 2
Arneiro – Nisa
O segundo dia deste roteiro começa na margem sul do Tejo, na aldeia do Arneiro, e temos pela frente uma caminhada de 8,5 km num dos percursos pedestres mais bonitos do nosso país: o Trilho da Mina de Ouro do Conhal (PR9 NIS). Mas antes de meter pés ao caminho, o ideal é começar pela visita ao Centro Interpretativo que fica na antiga Escola Primária ao pé da igreja, onde é possível ver um vídeo sobre o conhal, para sabermos o que é e percebermos melhor o percurso, além de ficarmos a conhecer alguns pormenores sobre a etnografia e a vocação da aldeia do Arneiro. Têm também uma sala muito bonita dedicada ao rio Tejo e à actividade piscatória tradicional da aldeia, onde está exposto um picareto (barco típico) e cujo chão é absolutamente invulgar.
Centro Interpretativo do Conhal
http://www.cm-nisa.pt/centrointerpretativoconhal.html
Antiga Escola Primária do Duque, Santana, Arneiro (Nisa)
Horário: terça a sexta –14h-18h / sábados, domingos e feriados – 09h30-12h30 e 14h-18h
(encerra às 2ª feiras e nos dias 25/12, 01/01, 2ª feira a seguir à Páscoa (Feriado Municipal) e dia 01/05)
Informações: telefone 245 098 059 email (CM Nisa): geral@cm-nisa.pt
O Trilho da Mina de Ouro do Conhal tem início mesmo ao lado do Centro Interpretativo. É circular e leva-nos entre zonas arborizadas (onde se destaca o zimbro) até à área junto ao Tejo a que se dá o nome de Pego das Portas, passando depois pela zona conhecida como Conhal. Do miradouro da Serrinha (211 metros acima do nível do mar) é-nos oferecida uma vista privilegiada sobre o rio, a ilha das Virtudes e as Portas de Ródão. Depois desce-se pela parte mais deliciosa do percurso até à foz da Ribeira do Vale e à ilha do Cabecinho, onde foram construídas duas pontes suspensas para viabilizar este percurso pedestre.
O passeio continua sempre junto ao Tejo até chegarmos ao Pego das Portas, onde voam os grifos que fazem parte da maior comunidade destas aves existente no nosso país. É já na subida ligeira que nos leva de volta à aldeia que passamos pelo Conhal: pilhas e pilhas de calhaus rolados (conhos) amontoados por entre árvores e arbustos, restos da exploração mineira de ouro de aluvião que os Romanos aqui desenvolveram até à Idade Média.
Já na aldeia, vamos retemperar forças com um almoço n’“O Túlio” para provar as especialidades da zona. Convém marcar com antecedência e avisar a hora prevista de chegada do passeio (telefone: 245 469 129). Se não estiver muita gente, com um pouco de sorte o Sr. Inácio vai brindar-nos com uma breve e saborosa tertúlia musical.
A tarde fica reservada para visitar Nisa, uma vila sossegada e simpática que tem o seu centro nevrálgico no amplo jardim e na área desafogada que o circunda. É aqui perto que encontramos uma das portas do castelo, por onde se acede ao centro histórico. Passamos pela igreja, seguimos ao acaso pelas suas ruas pouco sinuosas e paramos no Largo do Município para ver o pelourinho e os edifícios da Câmara e da Santa Casa da Misericórdia.
O próximo local a visitar está mesmo ali ao pé e é um dos maiores motivos de interesse de Nisa: o Museu do Bordado e do Barro. Este Museu foi criado para preservar e divulgar as duas actividades artesanais mais emblemáticas e características da vila: os bordados típicos de Nisa e a sua original olaria pedrada. Está dividido em dois núcleos. O do bordado mostra uma colecção de belas peças bordadas à mão, algumas bastante antigas, enquadrada nos ambientes de uma casa tradicional onde também estão expostos objectos e utensílios afectos à vida rural desta região alentejana. O segundo núcleo do Museu encontra-se a algumas ruas de distância, junto à Torre de Menagem, e nele ficamos a conhecer a história e as técnicas da famosa olaria de Nisa e também dos seus bordados, pois é neste espaço expositivo que se encontram as peças mais valiosas do acervo do Museu.
Museu do Bordado e do Barro
http://museubordadoebarro.cm-nisa.pt/
Núcleo do Edifício da Cadeia Nova
Largo da Cadeia Nova, 6050-363 Nisa
Núcleo do Bordado
Largo Dr. José de Almeida 25, Nisa
Horário: (de terça a domingo) – Verão: 10h-12h30 e 14h-18h / Inverno: 09h30-12h30 e 14h-17h30
Informações: telefone 245 429 426 email: museu@cm-nisa.pt
Com o apetite desperto pelo passeio a servir de desculpa, o melhor mesmo é terminar a visita num café ou esplanada e aproveitar para provar uma (ou mais, porque não?) das muitas guloseimas típicas da região: cavacas, bolos de azeite, bolos de canela, bolos dormidos, esquecidos, nisas, barquinhos, tigeladas, borrachões, rebuçados de ovos… Nomes bem sugestivos que criam água na boca só de os ler. Não concordam?
(Este roteiro foi publicado pela primeira vez no website Fantastic)
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