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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Sex | 19.02.21

À volta do Tejo

 

Neste roteiro vamos passear junto ao Tejo em troços menos conhecidos, onde corre entre elevações mais abruptas mas sempre manso. É uma região de paisagens maravilhosas, apesar de massacrada pelos incêndios florestais dos últimos anos, onde o Alentejo, o Ribatejo e a Beira Baixa se tocam e as suas características culturais se misturam e enriquecem mutuamente.

 

Dia 1

Belver – Passadiço do Alamal – Vila Velha de Ródão

 

Começamos o dia em Belver, onde o casario branco típico de uma verdadeira localidade alentejana desce pela encosta até ao Tejo. Terra importante na conquista e consolidação do território português, o castelo é a sua coroa. Em tempos foi fortaleza defensora, hoje é miradouro privilegiado sobre quilómetros de rio e a paisagem que o rodeia.

 

Castelo de Belver

http://www.cultura-alentejo.pt/

Horário: 10h-13h e 14h-18h

(de quarta a domingo; encerra no último fim-de-semana de cada mês e nos dias 1 Janeiro, domingo de Páscoa, 1 Maio, 23 Novembro, 25 Dezembro):

Contactos: telefone 241 635 040 (Castelo) / 241 639 070 (CM Gavião)

1 Castelo de Belver.JPG

2 Castelo de Belver.JPG

Passando a ponte, um passadiço de madeira com cerca de dois quilómetros leva-nos à praia fluvial do Alamal. Acompanhando o Tejo e sob a vigilância constante do castelo na margem oposta, é um passadiço fácil de percorrer e proporciona um passeio muito agradável, sempre junto à água e entre a vegetação típica da região: oliveiras e medronheiros, madressilva, amieiros e salgueiros, fetos e canaviais. O rio vai correndo calmo, enquanto nos pequenos rochedos de pedra os corvos-marinhos aproveitam para secar as penas ao sol. A praia é de areia, tem bandeira azul e todas as comodidades habituais num lugar de veraneio, e é igualmente aprazível mesmo em dias menos ensolarados.

3 Passadiço do Alamal.JPG

4 Corvo-marinho no Tejo.JPG

5 Praia do Alamal.JPG

Regressando a Belver, a caminho do destino seguinte vale a pena fazer um pequeno desvio até à Ermida de Nossa Senhora do Pilar para termos uma outra perspectiva da localidade e da sua envolvente – e confirmar que esta região é verdadeiramente bonita seja qual for o ângulo de que a olhamos.

6 Ermida de Nossa Senhora do Pilar.JPG

7 Belver.JPG

Seguindo para nordeste, meia hora é suficiente para chegar a Vila Velha de Ródão. À chegada torcem-se os narizes com o cheiro agressivo das indústrias da pasta de papel e do azeite. Não é uma recepção agradável, por isso há que seguir rapidamente para o coração da vila. O ideal é começar por ter (mais) um encontro imediato com o Tejo na zona do cais de Ródão – uma forma de começar a desvendar aos poucos os segredos que a paisagem esconde. Se a previsão do tempo for boa vale também a pena marcar antecipadamente um passeio de barco até às Portas de Ródão ou para ver as gravuras rupestres (marcações: 272541138 / 272541216 / 967646614 ou para geral@vilaportuguesa.pt).

 

O próximo local a visitar é o Centro de Interpretação de Arte Rupestre do Vale do Tejo (CIART), cujas exposições nos falam dos riquíssimos e numerosos vestígios pré-históricos descobertos nas margens do Tejo na década de 70 do século passado, a maioria deles entretanto submersos pelas águas da Barragem de Fratel.

 

Centro de Interpretação de Arte Rupestre do Vale do Tejo (CIART)

http://tejo-rupestre.com/

Facebook: https://www.facebook.com/CIARTVVR/

Largo do Pelourinho, 6030-212 Vila Velha de Ródão

Horário: terça a sexta – 9h-12h30 e 14h-17h30 / sábados – 10h-13h e 14h-18h / domingos e feriados – mediante marcação prévia

Informações: telefones 272 541 195 / 914 466 382  email: geral@tejo-rupestre.com

 

Seguimos até ao Castelo do Rei Vamba, parando no início da subida para pasmar ante a beleza das Portas de Ródão, uma formação geológica original no meio da qual escorrem as águas do Tejo. O nome oficial do castelo, muito mais prosaico, é Castelo de Ródão. Ali viveu Vamba, o último grande rei dos Visigodos, no séc. VII, defensor da Egitânia. Há uma lenda que lhe está associada e fala de um triângulo amoroso entre Vamba, a sua mulher e um rei muçulmano (http://pagwagaya.armandofrazao.com/lendas.html) – poderia ser certamente argumento para uma novela. De castelo esta construção tem já pouco, pois é simplesmente uma torre, mas oferece-nos uma vista quase comovente, de tão bonita que é, sobre o Tejo e as Portas de Ródão.

10 Castelo do Rei Vamba.JPG

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12 Rio Tejo visto do Castelo do Rei Vamba.JPG

 

 

Dia 2

Arneiro – Nisa

 

O segundo dia deste roteiro começa na margem sul do Tejo, na aldeia do Arneiro, e temos pela frente uma caminhada de 8,5 km num dos percursos pedestres mais bonitos do nosso país: o Trilho da Mina de Ouro do Conhal (PR9 NIS). Mas antes de meter pés ao caminho, o ideal é começar pela visita ao Centro Interpretativo que fica na antiga Escola Primária ao pé da igreja, onde é possível ver um vídeo sobre o conhal, para sabermos o que é e percebermos melhor o percurso, além de ficarmos a conhecer alguns pormenores sobre a etnografia e a vocação da aldeia do Arneiro. Têm também uma sala muito bonita dedicada ao rio Tejo e à actividade piscatória tradicional da aldeia, onde está exposto um picareto (barco típico) e cujo chão é absolutamente invulgar.

 

Centro Interpretativo do Conhal

http://www.cm-nisa.pt/centrointerpretativoconhal.html

Antiga Escola Primária do Duque, Santana, Arneiro (Nisa)

Horário: terça a sexta –14h-18h / sábados, domingos e feriados – 09h30-12h30 e 14h-18h

(encerra às 2ª feiras e nos dias 25/12, 01/01, 2ª feira a seguir à Páscoa (Feriado Municipal) e dia 01/05)

Informações: telefone 245 098 059  email (CM Nisa): geral@cm-nisa.pt

13 Centro Interpretativo do Conhal do Arneiro.JPG

O Trilho da Mina de Ouro do Conhal tem início mesmo ao lado do Centro Interpretativo. É circular e leva-nos entre zonas arborizadas (onde se destaca o zimbro) até à área junto ao Tejo a que se dá o nome de Pego das Portas, passando depois pela zona conhecida como Conhal. Do miradouro da Serrinha (211 metros acima do nível do mar) é-nos oferecida uma vista privilegiada sobre o rio, a ilha das Virtudes e as Portas de Ródão. Depois desce-se pela parte mais deliciosa do percurso até à foz da Ribeira do Vale e à ilha do Cabecinho, onde foram construídas duas pontes suspensas para viabilizar este percurso pedestre.

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16 Foz da Ribeira do Vale.JPGO passeio continua sempre junto ao Tejo até chegarmos ao Pego das Portas, onde voam os grifos que fazem parte da maior comunidade destas aves existente no nosso país. É já na subida ligeira que nos leva de volta à aldeia que passamos pelo Conhal: pilhas e pilhas de calhaus rolados (conhos) amontoados por entre árvores e arbustos, restos da exploração mineira de ouro de aluvião que os Romanos aqui desenvolveram até à Idade Média.

18 Pego das Portas.JPG

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20 Conhal do Arneiro.JPG

19 Conhal do Arneiro.JPG

Já na aldeia, vamos retemperar forças com um almoço n’“O Túlio” para provar as especialidades da zona. Convém marcar com antecedência e avisar a hora prevista de chegada do passeio (telefone: 245 469 129). Se não estiver muita gente, com um pouco de sorte o Sr. Inácio vai brindar-nos com uma breve e saborosa tertúlia musical.

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A tarde fica reservada para visitar Nisa, uma vila sossegada e simpática que tem o seu centro nevrálgico no amplo jardim e na área desafogada que o circunda. É aqui perto que encontramos uma das portas do castelo, por onde se acede ao centro histórico. Passamos pela igreja, seguimos ao acaso pelas suas ruas pouco sinuosas e paramos no Largo do Município para ver o pelourinho e os edifícios da Câmara e da Santa Casa da Misericórdia.

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O próximo local a visitar está mesmo ali ao pé e é um dos maiores motivos de interesse de Nisa: o Museu do Bordado e do Barro. Este Museu foi criado para preservar e divulgar as duas actividades artesanais mais emblemáticas e características da vila: os bordados típicos de Nisa e a sua original olaria pedrada. Está dividido em dois núcleos. O do bordado mostra uma colecção de belas peças bordadas à mão, algumas bastante antigas, enquadrada nos ambientes de uma casa tradicional onde também estão expostos objectos e utensílios afectos à vida rural desta região alentejana. O segundo núcleo do Museu encontra-se a algumas ruas de distância, junto à Torre de Menagem, e nele ficamos a conhecer a história e as técnicas da famosa olaria de Nisa e também dos seus bordados, pois é neste espaço expositivo que se encontram as peças mais valiosas do acervo do Museu.

 

Museu do Bordado e do Barro

http://museubordadoebarro.cm-nisa.pt/

Núcleo do Edifício da Cadeia Nova

Largo da Cadeia Nova, 6050-363 Nisa

Núcleo do Bordado

Largo Dr. José de Almeida 25, Nisa

Horário: (de terça a domingo) – Verão: 10h-12h30 e 14h-18h / Inverno: 09h30-12h30 e 14h-17h30

Informações: telefone 245 429 426 email: museu@cm-nisa.pt

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Com o apetite desperto pelo passeio a servir de desculpa, o melhor mesmo é terminar a visita num café ou esplanada e aproveitar para provar uma (ou mais, porque não?) das muitas guloseimas típicas da região: cavacas, bolos de azeite, bolos de canela, bolos dormidos, esquecidos, nisas, barquinhos, tigeladas, borrachões, rebuçados de ovos… Nomes bem sugestivos que criam água na boca só de os ler. Não concordam?

 

(Este roteiro foi publicado pela primeira vez no website Fantastic)

 

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Roteiro de fim-de-semana à volta do Tejo, entre Vila Velha de Ródão e Nisa

Qui | 04.02.21

7 cidades (menos conhecidas) para visitar em Espanha

 

A nossa vizinha Espanha é o quarto maior país da Europa e tem mais de 500.000 km2 de área para descobrir. Para lá das suas famosas grandes cidades, como Madrid ou Barcelona, e dos seus pueblos típicos, muitos deles também famosos, há um número infindo de lugares interessantes e variados que vale muito a pena conhecer, e entre eles várias cidades – das quais pouco ou nada ouvimos falar – absolutamente encantadoras.

 

Estas são algumas cidades espanholas de que gosto particularmente, e que vos deixo aqui como sugestão para irem conhecer um dia destes.

 

 

ARANJUEZ

Situada bem perto de Madrid, Aranjuez é uma cidade pequena mas cheia de motivos para ser visitada. O maior deles será sem dúvida o Palácio Real, uma das jóias da monarquia espanhola, discreto por fora mas absolutamente estonteante no seu interior. Originalmente concebido no estilo renascentista e inspirado na estética dos palácios italianos do séc. XVI, como ainda está bem patente nos jardins, a decoração dos seus muitos aposentos reflecte tendências mais sumptuosas – afinal, este palácio foi uma residência sazonal dos reis de Espanha durante vários séculos.

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O Tejo atravessa a cidade, aqui ainda com pouca largura, e as suas margens foram aproveitadas para criar um vasto conjunto de parques e jardins que se desenvolvem em volta do palácio e de outros edifícios históricos. São os jardins mais importantes do período dos Habsburgo em Espanha, época em que nas águas do Tejo navegavam as faluas reais, algumas das quais estão hoje expostas num museu situado no encantador “Jardin del Príncipe”.

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Aranjuez é discreta e harmoniosa na uniformidade dos seus edifícios, nas suas ruas arborizadas e nas avenidas espaçosas. Outros lugares a conhecer também são as igrejas de Alpajés e San Antonio, o Convento de San Pascual, ou os palácios de Medinaceli, Godoy e Osuna, além do Teatro Real, da Casa del Labrador e da Casa de Oficios y Caballeros.

 

 

ASTORGA

Em tempos que já lá vão, algumas das vias romanas que partiam da nossa Bracara Augusta (hoje Braga) ligavam esta cidade a uma outra de igual importância, de seu nome Asturica. Nos nossos dias Astorga já não tem a mesma relevância, mas continua a ser uma cidade com variados motivos de interesse.

 

Um deles é o Palácio Episcopal, uma obra do genial arquitecto catalão Antoni Gaudí. Construído entre 1889 e 1913 em estilo neogótico medieval, o seu aspecto acastelado surpreende pela profusão de pedra e ausência de cores vivas, diferindo um pouco do estilo mais emblemático de Gaudí a que estamos habituados.

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Situada mesmo ao lado, a catedral de Astorga não passa despercebida. O seu volume monumental mistura detalhes góticos (começou a ser construída no século XV) e barrocos. A sua história conturbada inclui danos provocados pelo sismo de Lisboa de 1755 e pelas invasões napoleónicas.

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Quem for guloso tem obrigatoriamente de incluir Astorga nos planos de viagem. A cidade tem nada mais nada menos do que dois tipos de bolos tradicionais: as mantecadas, uma espécie de queques que têm o selo de Indicação Geográfica Protegida, e os hojaldres, quadrados de massa folhada com uma textura exterior untuosa e um interior suave e saboroso. E tem ainda o Museu do Chocolate, que conta e preserva a história do chocolate nesta cidade, que foi em tempos ponto de passagem obrigatório de mercadorias entre os portos da Galiza e Madrid.

 

Outros pontos de interesse na cidade são também a Plaza Mayor e o Museu Romano.

 

 

CÁCERES

Se outras não houvesse, teríamos sempre duas grandes razões para visitar Cáceres. A primeira é por estar já ali ao virar da esquina, a uns meros 100 quilómetros da nossa fronteira. A segunda é o facto de o seu centro histórico estar classificado como Património Mundial pela Unesco. Habitada desde tempos pré-históricos, a cidade antiga de Cáceres sempre fez parte das rotas comerciais e foi ao longo dos séculos lugar de confluência de civilizações. Por ali passaram romanos, árabes, judeus e povos cristãos, e o resultado é uma mistura feliz de influências diversificadas, até mesmo contraditórias. Passear na cidade antiga, delimitada por uma muralha com mais de um quilómetro, é mergulhar em pleno num ambiente medieval onde podemos encontrar tanto palacetes como edifícios de arquitectura popular, igrejas, capelas e conventos, em que a pedra é rainha e os estilos gótico-nórdico e renascentista convivem harmoniosamente.

 

Uma visita a Cáceres tem obrigatoriamente de começar pela Plaza Mayor que, ao contrário do que é habitual na maior parte das cidades espanholas, fica no exterior do centro histórico, ao qual nos dá acesso pelo Arco de la Estrella. Mesmo ao lado, a notável Torre de Bujaco, a mais famosa entre as várias (muitas) torres da muralha. Ponto obrigatório de paragem é também a Plaza de Santa María, onde se alinham lado a lado o Palácio Episcopal, a Torre de Espaderos, a Casa de los Carvajal, a Concatedral de Santa María e o Palácio de los Golfines de Abajo.

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Absolutamente a não perder, o Palacio de Las Veletas (que abriga actualmente o Museu de Cáceres) é um edifício renascentista do séc. XVI erguido sobre uma construção mais antiga da qual ainda se conserva uma cisterna árabe do séc. XII. Na mesma praça encontramos a Torre de las Cigüeñas (é espantosa a quantidade de cegonhas que se vêem na cidade e o imenso barulho que fazem…) e o Palácio de Diego de Ovando, onde se situa o Museu de Armas e a seguir, na praça de San Mateo, a igreja gótica do mesmo nome, a bela Torre de los Sande – ao lado da Casa del Águila – e o Convento de San Pablo, onde é obrigatório comprar algumas das delícias conventuais que são especialidade de Cáceres – e entre elas, os bombons de figo, pois Cáceres é a província espanhola que mais produz este fruto.

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Mas não pensem que é tudo. A cidade tem muito mais para ver, o suficiente para encher todo um fim-de-semana em que vão sentir-se como que de “regresso ao passado”.

 

 

CUENCA

O mínimo que se pode dizer de Cuenca é que é uma cidade fora do comum. A sua localização sobre um maciço de pedra nas margens dos rios Júcar e Huécar confere-lhe um carácter excepcional. A parte moderna da cidade tem crescido em terreno mais plano, mas o “casco” antigo permanece alcandorado sobre vertiginosos desfiladeiros e as suas “casas colgadas” – um pequeno conjunto de edifícios medievais de finais do séc. XV – em periclitante equilíbrio sobre o abismo, são uma visão ao mesmo tempo excêntrica e encantadora.

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Numa delas encontra-se o Museu de Arte Abstracta Espanhola, que exibe em permanência uma colecção absolutamente notável de pintura e escultura de artistas espanhóis de meados do séc. XX.

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Na Plaza Mayor, de dimensões relativamente modestas por comparação com as de outras cidades, ergue-se a Catedral, um monumento invulgar cuja fachada parece inacabada e tem a particularidade de exibir elementos gótico-normandos, algo pouco habitual em Espanha.

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Subindo as ruas sinuosas da encosta chegamos ao Bairro do Castelo, que ainda mantém a atmosfera de outros séculos, e finalmente ao miradouro (um dos muitos que existem) que se abre sobre o rio Huécar e nos oferece uma vista entontecedora sobre a cidade e o precipício a seus pés, com o Convento de San Pablo (que agora é um Parador) ao centro, praticamente isolado do resto da cidade, a ponte metálica vermelha que lhe dá acesso a destacar-se sobre o vazio.

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Conventos, igrejas e ermidas são algo que não falta em Cuenca. Particularmente bonito é o local onde se insere a Ermita da Virgen de las Angustias; e a igreja da Virgen de la Luz, em puro estilo rococó, é a “casa” da padroeira da cidade, uma virgem negra de tradição medieval. A Torre de Mangana, bem visível na linha do horizonte, é a testemunha remanescente da ocupação árabe de há muitos séculos.

 

Junto às margens dos dois rios da cidade há caminhos concebidos para belos passeios a pé, entre a vegetação quase cerrada, e existe mesmo uma pequena praia artificial no troço do rio Júcar um pouco a norte da cidade. Nos arredores também não faltam lugares para visitar, como o magnífico miradouro Ventano del Diablo, uma “janela” natural aberta numa falésia rochosa da Serranía de Cuenca, ou a Ciudad Encantada, uma vasta área ao ar livre onde os séculos, a água e o vento esculpiram formatos estranhos em pedras gigantescas.

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LEÓN

A cidade de León foi durante séculos uma das mais importantes da Península Ibérica, com os Decretos emitidos nas suas Cortes de 1188 a serem oficialmente considerados pela UNESCO como “a manifestação documental mais antiga do sistema parlamentar europeu”. Não é por isso de estranhar que uma cidade com tanta história tenha muito para conhecer. Apesar de ser uma cidade grande, conhece-se bem a pé.

 

O monumento maior de León é a Catedral de Santa María de Regla, considerada o melhor exemplar do gótico francês em Espanha. Foi construída na segunda metade do século XIII sobre uma anterior catedral românica, e as suas paredes são em grande parte constituídas por vitrais – que ocupam cerca de 1800 m2 e formam um dos maiores conjuntos de vitrais medievais do mundo.

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Da catedral seguimos para a Real Colegiata de San Isidoro, cujo Panteão dos Reis dizem ser a Capela Sistina do românico e uma das obras mais importantes deste estilo na Europa – os seus frescos datam de há quase mil anos. Além de funcionar como museu, o complexo da Real Colegiata tem uma Biblioteca Renascentista e várias outras valências.

 

Gaudí também está presente em León com a Casa Botines, que tem um certo ar de castelo medieval, com as suas paredes de pedra e torres pontiagudas, e elementos neo-góticos nas fachadas. O edifício tem sete pisos e sobre a porta principal de entrada há uma escultura de São Jorge e o Dragão, da autoria de Llorenç Matamala i Piñol, colaborador e amigo de Gaudí. Junto com a casa El Capricho, em Comillas, e o Palácio Episcopal de Astorga, a Casa Botines é uma das três obras concebidas de raiz por Gaudí fora da Catalunha. Aliás, consta que Gaudí só aceitou este projecto por León se encontrar a apenas 50 km de Astorga, o que lhe dava a possibilidade de supervisionar as duas construções em simultâneo, e é talvez por isso que parece haver algumas semelhanças entre estas duas obras. A Casa Botines foi construída no tempo recorde de dez meses, entre 1891 e 1892, e após várias remodelações interiores é actualmente um museu. No largo em frente, Gaudí está homenageado com uma escultura de bronze de José Luis Fernández, e é também aqui que podemos ver o Palácio dos Guzmanes, edifício do século XVI que abriga a sede do governo provincial de León.

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Como em qualquer cidade espanhola, há que visitar a Plaza Mayor, no Bairro Húmedo, onde o edifício de maior destaque é o Mirador (também conhecido como Consistorio), notável pela sua arquitectura barroca e com torres encimadas por capitéis. Ainda no mesmo bairro, na Plaza de San Martín, a Casa de Carnicerias é outro dos melhores exemplos da arquitectura renascentista de León.

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Seguindo para sul, na Plaza del Grano, onde em tempos se realizava o mercado medieval, encontramos a igreja de Nossa Senhora do Mercado, uma igreja românica com origens no século XI cuja importância está ligada ao facto de se encontrar no Caminho de Santiago francês.

 

Deixando o centro histórico e seguindo para oeste, junto à margem do rio Bernesga ergue-se o antigo Mosteiro de San Marcos, outro dos monumentos mais importantes de León. Com origens no século XII, criado como templo-hospital para acolher os peregrinos que percorriam o Caminho de Santiago, foi reconstruído no século XVI e é o exemplar mais antigo da arquitectura plateresca (primeira fase do Renascimento espanhol). Hoje, depois de ter sido utilizado para as mais diversas finalidades, incluindo como campo de concentração de prisioneiros republicanos durante a Guerra Civil de Espanha, abriga um Parador, um museu e uma igreja. Do outro lado do rio, o Parque de Quevedo é o lugar certo para um passeio em ambiente natural.

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Num registo bem mais recente, é em León que se encontra o coloridíssimo edifício criado pelos Mansilla + Tuñón Arquitectos para abrigar o MUSAC-Museo de Arte Contemporáneo de Castilla y León. Na mesma avenida e também dos mesmos arquitectos, mas monocromático em branco total, o Auditório Ciudad de León é outro dos edifícios modernistas mais relevantes da cidade.

 

 

OVIEDO

Oviedo é a capital das Astúrias e também o ponto de partida para descobrir alguns dos monumentos pré-românicos desta região. A cidade tem muito para ver, e o melhor lugar para começar é a praça onde se ergue a belíssima catedral gótica, construída entre os sécs. XIII e XVII.

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Bem perto, vale a pena conhecer a igreja de San Isidoro e o Mercado El Fontán, na rua com o mesmo nome. Em frente ao mercado, a Plaza del Fontán e lá dentro a colorida Casa Ramón, a única parte original desta pequena praça que comunica com as ruas limítrofes por arcadas.

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É em torno da Plaza que se realiza um mercado ao ar livre às quintas, aos sábados e aos domingos. Por aqui encontramos muitos restaurantes e “sidrerias”, o lugar ideal para comer uma “fabada” (que é uma feijoada à moda das Astúrias) acompanhada de sidra, a bebida típica da região, servida (“escanciada”) pelos empregados de uma forma muito particular: o braço que segura a garrafa é passado sobre a cabeça, enquanto a mão que tem o copo é colocada o mais abaixo possível.

 

O centro histórico de Oviedo é para ser percorrido a pé, e durante o passeio deparamos com inúmeras estátuas, umas mais clássicas e outras mais arrojadas: desde a “Gorda” de Botero à “Mafalda” (personagem de Quino), passando pela que homenageia Woody Allen ou pela “Regenta” que está em frente à Catedral.

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Seguindo a rota do pré-românico, e ainda dentro da cidade, a primeira paragem é na Foncalada, uma fonte de água potável que remonta ao séc. IX, e depois na igreja de San Julián de los Prados, o maior monumento pré-românico ainda em bom estado de conservação. Subindo para o Monte Naranco, encontramos primeiro o palácio/igreja de Santa María del Naranco, e um pouco mais à frente a igreja de San Miguel de Lillo, bela e isolada no meio de um prado rodeado de árvores. Continuamos depois até ao topo do monte, onde se ergue o monumento ao Sagrado Coração de Jesus e de onde temos uma panorâmica privilegiada sobre Oviedo – no centro da qual se destacam as formas arrojadas e brancas do Palácio de Congressos Princesa Letizia, obra monumental e polémica de Santiago Calatrava.

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RONDA

Ronda ergue-se no topo de um penhasco, e é conhecida sobretudo por ter a praça de touros mais antiga de Espanha e pela sua impressionante Ponte Nova, uma estrutura de pedra com 98 metros de altura construída no séc. XVIII sobre a garganta estreita por onde corre o rio Guadalevín. Este desfiladeiro, a que dão nome de Tajo de Ronda, tem cerca de 100 metros de profundidade e está declarado como Monumento Natural da Andaluzia. Além da Ponte Nova, podemos observar toda a magnificência do Tajo e da extensa planície andaluza que rodeia a cidade a partir do jardim do Mirador de Ronda, que fica por trás da praça de touros. Os miradouros de Aldehuela e de Cuenca são também outros dois locais excelentes para observar de cima as voltas do Guadalevín dentro da cidade.

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Há ainda outro local que é de visita obrigatória em Ronda: a Casa del Rey Moro. A sua construção data do século XVIII, mas em 1911 foi adquirida pela Duquesa de Parcent, que a mandou remodelar em estilo neomudéjar. O interior do edifício está em reconstrução e não é visitável, mas por trás da sua fachada austera e meio degradada esta casa esconde dois surpreendentes segredos. Um deles é o seu jardim, concebido pelo arquitecto paisagista francês Jean-Claude Nicolas Forestier, que conjugou elementos hispano-mouriscos típicos dos jardins mediterrânicos com as linhas geométricas dos jardins franceses para criar vários ambientes refrescantes divididos por três terraços com níveis diferentes. O outro é a mina de água, uma passagem (com muitos degraus) engenhosamente escavada no interior de um penhasco do desfiladeiro, que nos leva até ao leito do rio Guadalevín (a cerca de 60 metros de profundidade), de onde podemos ter uma perspectiva única do Tajo de Ronda visto a partir de baixo.

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Outra das originalidades desta cidade é o seu Museo del Bandolero (Museu do Bandido), cujo acervo de quase 1400 objectos constitui uma memória histórica única do banditismo na Andaluzia, um legado cultural presente em Espanha num passado recente. Perto deste museu encontramos a igreja de Santa María la Mayor, para mim a mais bonita da cidade, com as suas arcadas exteriores e a dupla fila de varandas sobre elas. E também há que visitar o Palácio Mondragón, que funciona actualmente como museu da cidade, e os Banhos Árabes, que são dos mais bem conservados e documentados da Península Ibérica.

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Na lista de pontos a conhecer em Ronda incluem-se ainda a praça Duquesa de Parcent, o Santuário de Maria Auxiliadora, o Palácio de Salvatierra, a Porta de Carlos V, a Ponte Velha, a Fonte dos Oito Canos, ou ainda as Bodegas La Sangre de Ronda, onde existe o Centro de Interpretação do Vinho.

 

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