Gosto de Portugal desde que me lembro de ser gente. Comecei a viajar pelo país quando ainda era miúda, com a minha família, e tenho recordações vívidas de vários lugares onde íamos passar férias ou simplesmente de visita: a Praça da Fruta nas Caldas da Rainha; a praia da Foz do Arelho; o Portugal dos Pequenitos; Albufeira quando as praias tinham pouca gente e os carros ainda passavam na Rua 5 de Outubro; Sines antes de a terem estragado; as rectas do Alentejo, onde o meu pai cometia a “loucura” de acelerar até aos 100 km por hora; os passeios em Lisboa, a cidade onde nasci e vivi a maior parte da minha vida.
À medida que os anos foram passando, continuei a viajar em Portugal. E quanto mais conheço este nosso pequeno país, mais ele parece crescer. Há sempre um recanto que ainda não tinha descoberto, um museu que abriu há pouco tempo, uma aldeia reconstruída, uma praia renovada, um parque com alguma novidade. Esta capacidade que Portugal tem de se reinventar é um dos seus maiores atributos, a par da enorme diversidade paisagística e cultural.
Numa altura em que estamos a viver um dia de cada vez por causa da pandemia provocada pela Covid-19, e com as fronteiras praticamente fechadas em quase todo o mundo, estar em Portugal é uma sorte. Sorte porque até agora o país tem sido poupado à hecatombe em perdas humanas que aflige alguns dos nossos vizinhos, sorte porque os nossos conflitos sociais são sempre brandos quando comparados com os dos outros, sorte porque temos este país fantástico onde, se tudo correr bem, em breve iremos poder viajar com algum à-vontade e segurança.
Parece-me, por tudo isto, uma boa altura para “contar as nossas bênçãos” e enumerar todas as boas razões por que vale tanto a pena conhecer melhor Portugal.
Somos o Estado-nação mais antigo da Europa. As nossas fronteiras foram definidas em 1297 pelo tratado de Alcanizes e mantêm-se inalteradas desde essa altura (à parte aquela velha querela sobre Olivença e arredores que todos conhecemos). Talvez por isso as nossas regiões, tão diferentes umas das outras, consigam coexistir pacificamente (com um ou outro bairrismo que até nos torna mais divertidos) há tanto tempo.
As ilhas portuguesas são verdadeiros tesouros. Os Açores são nove jóias, todas diferentes umas das outras e felizmente ainda não demasiado lapidadas pelo turismo, razão pela qual receberam recentemente o certificado de destino sustentável atribuído pelo Global Sustainable Tourism Council (GSTC). Quanto às ilhas do arquipélago da Madeira, são como que uma espécie de paraíso tropical português. As Desertas e as Selvagens são áreas protegidas e de acesso restrito. Madeira e Porto Santo são mecas do turismo nacional e internacional, mas nem isso nos rouba o prazer que é visitá-las. E há ainda as Berlengas, as ilhas da Ria Formosa, a alentejana ilha do Pessegueiro e muitas outras, atlânticas ou fluviais, ilhéus, mouchões e ínsuas, cada um destes isolados pedaços de terra ou rocha com a sua própria mística e as suas próprias histórias.
Em Portugal (continente e ilhas) estão classificados 24 parques naturais e 1 parque nacional. Juntando-lhes várias reservas naturais, zonas de paisagem protegida, monumentos naturais e parques marinhos, o que não nos falta são lugares onde podemos usufruir o que há de melhor na natureza em estado ainda razoavelmente bruto.
Há no nosso país vestígios pré-históricos importantíssimos. Desde os achados relacionados com dinossauros na Lourinhã e na Serra de Aire aos inúmeros monumentos megalíticos com milhares de anos que existem em todo o país, passando pelas gravuras rupestres do Escoural e do Côa, e pelo esqueleto com 24.500 anos do Menino de Lapedo, em Portugal têm sido encontradas inúmeras e significativas evidências arqueológicas que contribuíram para um melhor conhecimento da vida na Terra em vários períodos da Pré-História.
Temos inscritos na UNESCO 17 lugares como Património Mundial e 10 elementos como Património Cultural Imaterial da Humanidade. Podem consultar as listas aqui e aqui.
A Universidade de Coimbra é uma das mais antigas do mundo ainda em funcionamento. Foi criada por D. Dinis em 1290, com a sua localização a alternar entre Lisboa e Coimbra até 1537, ano em que se fixou definitivamente na cidade que lhe dá o nome. A Biblioteca Joanina, que data do século XVIII, é uma das bibliotecas europeias mais bonitas e originais.
A língua portuguesa é riquíssima e falada por 265 milhões de pessoas. Celebrou-se este ano pela primeira vez, a 5 de Maio, o Dia Mundial da Língua Portuguesa. Há falantes de português espalhados pelos cinco continentes, e a diversidade de sotaques e vocabulário é enorme, mesmo dentro do pequeno rectângulo formado por Portugal Continental.
A Livraria Bertrand que fica no Chiado, em Lisboa, abriu as portas em 1732. Está registada no Guinness World Records como sendo a livraria mais antiga do mundo ainda em funcionamento. Situada num edifício forrado a azulejo na esquina da Rua Garrett com a Rua Anchieta, cada uma das suas sete salas com tectos abobadados tem o nome de um escritor português. A sala Aquilino Ribeiro, que é a sala de entrada, ainda mantém estantes antigas em madeira maciça.
Há cada vez mais investimento para renovar e melhorar as nossas cidades e vilas. Nota-se um esforço enorme em todo o país para tornar mais agradáveis os grandes aglomerados populacionais. É verdade que este esforço é dirigido ao aumento do turismo em Portugal, mas também é verdade que nalguns aspectos todos nós, habitantes e visitantes, acabamos por beneficiar disso, sobretudo no que toca ao património cultural e ao embelezamento dos espaços públicos. É claro que há também o reverso da medalha (aumento do ruído em certas zonas, subida dos preços da habitação e de certos bens, descaracterização), mas mesmo assim ainda estamos longe dos exageros que se vêem por esse mundo fora.
A calçada portuguesa é uma expressão artística genuinamente nossa. Herança histórica da cultura e da tecnologia de construção dos romanos, fomos nós, os portugueses, que lhe demos vida e características especiais e a espalhámos pelo mundo. Onde quer que encontremos pavimentos calcetados com paralelepípedos de pedra branca e negra formando desenhos, podemos ter a certeza de que a inspiração e a ideia partiram daqui. Apesar de associarmos quase sempre a cor preta da pedra ao basalto, a verdade é que na calçada portuguesa são habitualmente utilizados o calcário branco e o negro. O basalto apenas é usado nas ilhas, onde existe em abundância e se torna mais económico, pois é um material muito mais duro e difícil de trabalhar.
O Estilo Manuelino tem características muito próprias que o tornam distinto das outras correntes góticas. Particularmente notável no campo decorativo, tem uma preferência nítida pelas ornamentações de inspiração marítima e vegetal, exóticas e em quantidade abundante, influência indubitável das civilizações com que os nossos navegadores contactavam. Está também sempre presente a simbologia régia, importante para que ninguém esquecesse quem tinha sido o promotor da obra arquitectónica admirada.
Há em Portugal 241 castelos (se a Wikipedia estiver correcta e eu não me tiver enganado na contagem). A maioria deles data da Idade Média, sobretudo dos séculos da fundação do país e subsequente expansão até à consolidação das nossas fronteiras. Alguns são sobejamente conhecidos e visitados, outros estão praticamente em ruínas, mas todos eles são lugares cheios de interesse, ricos em história e em lendas, e parte importante do nosso património cultural.
Ficam no nosso país os pontos mais ocidentais da Europa. O Cabo da Roca, perto da vila de Sintra, é o ponto mais a oeste no continente europeu, visitado todos os anos por milhares e milhares de pessoas, tanto estrangeiros como nacionais. Quanto ao ponto mais ocidental da Europa, o ilhéu de Monchique, é uma simples rocha com 30 metros de altura ao largo da Fajã Grande, na nossa maravilhosa ilha das Flores.
Portugal tem uma enorme diversidade de pontes, a maioria delas belíssimas. Há várias de origem romana, que encontramos como ex libris de cidades ou vilas, ou então em lugares recônditos, quase escondidas. Outras, concebidas em épocas diversas da nossa História, evoluíram com o passar do tempo, modificando-se sucessivamente para se adaptarem às necessidades de utilização. E muitas são verdadeiros prodígios da engenharia, ícones de metal ou betão que identificamos facilmente com um simples olhar e se impõem como elementos dominantes na paisagem.
A ponte internacional mais pequena do mundo liga Portugal a Espanha. Tem 6 metros de comprimento e 1,95 metros de largura e está construída sobre a ribeira de Abrilongo. Partilhada entre o nosso Alentejo e a Extremadura espanhola, une as localidades de Marco/El Marco, que na realidade são uma única aldeia onde se fala português. Durante muitos anos não foi mais do que uma rudimentar ponte pedonal em chapa metálica com um corrimão, que por vezes era arrastada pela corrente da ribeira se ocorriam chuvas mais abundantes. Há menos de dez anos foi construída uma nova ponte com suporte metálico e tabuleiro e protecções laterais de madeira.
Fica na aldeia da Carrasqueira, junto ao rio Sado, o maior cais palafítico da Europa. Começou a ser construído nos anos 50 do século passado pelos pescadores que queriam aceder às suas embarcações durante a maré vazia, quando as margens do rio estão lamacentas e pantanosas. É uma obra-prima da arquitectura popular, uma rede irregular de passadiços feitos com tábuas pregadas sobre estacas de madeira que se tem mantido relativamente inalterada ao longo das décadas. De aspecto enganadoramente frágil, estende-se ao longo de algumas centenas de metros pelo estuário do rio adentro e abriga os pequenos barcos de pesca coloridos dos cada vez menos pescadores que ainda se mantêm activos naquela zona.
No nosso país há milhares de aldeias, na sua maioria riquíssimas em história, tradição, gastronomia, cultura e valor artístico. Algumas são famosas e recebem milhares de visitantes por ano; outras, apesar de praticamente desconhecidas, são verdadeiras jóias com um património antiquíssimo para conhecer, tradições que perduram desde há séculos, histórias que merecem ser contadas e ouvidas. A desertificação galopante de grande parte das nossas aldeias tem vindo mais recentemente a ser contrariada pela necessidade crescente de regressar às origens e ao respeito pela natureza (e também pelo seu interesse turístico), o que está a provocar o ressurgimento progressivo de algumas delas.
Portugal é um país de mar. Temos mais de 940 km de linha de costa em Portugal Continental e quase outro tanto nas ilhas, extensas faixas de areia alternando com falésias rochosas de onde temos vistas amplas sobre o Atlântico. O mar é a nossa vocação: trouxe-nos glória no passado, é uma ânsia no presente, e quem sabe se não será ele o nosso futuro. E é o mar que nos dá as ondas célebres que fazem do nosso país uma das mecas do surf mundial.
As nossas praias são excelentes. No continente são de areia fininha e clara, com águas frescas na costa oeste e mais amenas no Algarve. Nas ilhas há de tudo um pouco. Quanto às praias fluviais, crescem de ano para ano em quantidade e qualidade. E todas elas nos oferecem paisagens que enchem os olhos e o coração.
Em Portugal Continental temos quase 3 mil horas de sol por ano e o nosso clima é predominantemente temperado, o que nos torna um país a que toda a gente se adapta com facilidade, seja em férias ou para viver. Se pensarmos que a maioria dos países europeus, por exemplo, não chega a ter 2 mil horas de sol por ano e tem temperaturas médias bem abaixo das nossas… não é difícil perceber as nossas vantagens.
Portugal é um país líder no recurso às energias renováveis. Em Dezembro de 2019 batemos mais uma vez o nosso recorde do número de horas/dias em que a produção em termos de energias renováveis foi suficiente para suprir o consumo: 131 horas (5 dias e meio). No total, 56% da produção energética do nosso país em 2019 foi feita com recurso às energias renováveis, sobretudo a eólica. E na Europa, somos o sexto país que mais consome energia vinda de recursos renováveis.
O calçado português é dos melhores do mundo. Conhecido desde sempre pela qualidade dos seus produtos, este sector tem vindo a evoluir exponencialmente desde os anos 90, aliando as novas tecnologias à criatividade e à flexibilidade logística e produtiva. Com a aposta nos produtos personalizados e de grande valor acrescentado, as exportações cresceram durante oito anos consecutivos e o calçado português passou a ser o segundo mais caro a nível mundial.
A cortiça é um dos nossos produtos naturais mais característicos. Temos em Portugal a maior extensão de sobreiros do mundo (33% da área mundial), pelo que não é de admirar sermos os maiores produtores e exportadores de cortiça – que além de tudo o mais é um produto totalmente reaproveitável e extraído manualmente sem danificar a árvore. O maior, mais antigo e mais produtivo sobreiro que existe no mundo foi plantado no ano de 1783 em Águas de Moura (Alentejo) e deram-lhe o nome de Assobiador. Foi eleito a mais bela árvore da Europa em 2018 no concurso “Tree of the Year”.
Há três oliveiras portuguesas entre as árvores mais velhas do mundo. A oliveira do Mouchão, em Mouriscas (Abrantes) tem a provecta idade estimada de 3350 anos. Em Santa Iria de Azóia, perto de Lisboa, sobrevive e ainda dá azeitona a oliveira a que chamam Portugal e se calcula ter cerca de 2850 anos. A mais jovem das três está em Monsaraz e terá à volta de 2450 anos.
Em Portugal come-se maravilhosamente. A gastronomia tradicional portuguesa é rica e variada, usamos ingredientes que pouco ou nada são usados noutros países, tudo nos serve para fazer um prato delicioso. Temos vários tipos de sopas, cozinhamos a carne e o peixe de todas as maneiras e feitios, e o nosso pão é o melhor (e o mais variado) do mundo. Ninguém prepara o bacalhau como nós, nem com tanta imaginação. Adoramos inventar petiscos, e até a nossa comida de rua e o fast food são acima da média. Preferimos o azeite às outras gorduras e há séculos que sabemos usar bem os condimentos. E haverá algum outro país que tenha tanta variedade de doces como nós? O café é praticamente uma instituição em Portugal; qualquer rua tem pelo menos uma pastelaria ou tasca onde se pode matar a fome ou a sede. E como se tudo isto não bastasse, ainda temos um sem-número de restaurantes de fusão, gourmet, vegetarianos ou com comidas típicas dos quatro cantos do mundo.
Os vinhos portugueses são únicos e originais. Já na época da ocupação romana se exportavam vinhos produzidos no nosso território, o que quer dizer que produzimos bons vinhos desde há mais de dois mil anos. Um estudo de 2013 identificou 248 variedades de castas vinícolas indígenas de Portugal, consideradas pelos maiores especialistas como um “tesouro”. Isto faz com que os nossos vinhos tenham uma originalidade e uma variedade inigualáveis, a par com uma enorme qualidade – mesmo quando o seu preço não é elevado – razão pela qual o nosso país é uma referência entre os produtores vinícolas a nível mundial e as suas exportações de vinho têm vindo a crescer consistentemente.
Poderia facilmente continuar aqui a enumerar razões pelas quais Portugal merece ser conhecido, visitado e apreciado, porque neste caso elas também são como as cerejas e vêm umas atrás das outras. Só que este post arriscar-se-ia assim a nunca sair, e nesta altura (difícil e que se prevê venha a ser ainda pior) a minha missão passa mais do que nunca por vos incentivar a todos, leitores e viajantes que me seguem ou vieram aqui parar por acaso, a partir à descoberta de Portugal. Aceitam o desafio?
Já seguem o Viajar Porque Sim no Instagram? É só clicar aqui ←
Guardar no Pinterest