10 sugestões de destinos (fora da caixa) para 2020
Ou muito me engano, ou por aí já andam a pensar em viagens para este ano… Acertei? Pois, eu sei que não sou única no mundo. Em cada mês de Janeiro, o meu drama é sempre o mesmo: onde é que vou conseguir ir este ano dentro das minhas limitações de tempo e dinheiro, e que lugares vou escolher entre os 1001 que quero visitar? Tenho a certeza de que muitos de vocês já estão a debater-se com o mesmo dilema, por isso vou deixar aqui algumas sugestões menos mainstream para vos fazer crescer água na boca, ou ajudar a desempatar entre vários destinos sem precisarem de recorrer ao velhinho um-dó-li-tá. Há sugestões em Portugal e fora do país, onde podem fazer praia, passear na natureza ou conhecer a cultura local, para um fim-de-semana ou umas férias mais longas, enfim, para todos os gostos. Não incluí, propositadamente, nenhum dos que visitei o ano passado (a lista está no meu último post), não porque não mereçam mas sim para não andar a repetir-me demasiado. E poderiam ser 20, para condizer com este ano, mas acho que 10 são suficientes para abrir o apetite.
Antes de mais, um outro tipo de sugestão: por muita vontade que tenham de conhecer todos aqueles lugares que estão na moda, e que por isso mesmo já estão a rebentar pelas costuras com tanta gente, procurem destinos mais alternativos e igualmente interessantes ou bonitos; ou então, se fazem mesmo questão de ir “àquele” sítio, vão numa época média ou baixa, em que a pressão turística é menor. Pela mesma razão, tentem não subsidiar actividades, hotéis, ou até mesmo países em que há práticas pouco ou nada correctas em relação a questões éticas e humanas que são realmente importantes. É claro que cada pessoa tem o seu código de valores, e o que não é aceitável para uns poderá sê-lo para outros – essa avaliação fica ao critério de cada um. Mas pensem um pouco sobre o assunto, informem-se, separem o trigo do joio, vejam o que é realmente essencial, e então decidam conscientemente.
Dito isto, vamos lá então ao que mais interessa.
Em Portugal
Flores e Corvo
Os Açores estão cada vez mais no topo das preferências de quem viaja, mas ainda assim são um destino não demasiado sobrecarregado – sobretudo as ilhas mais pequenas e difíceis de alcançar. Essa é uma das razões pelas quais recomendo que visitem as Flores e o Corvo. A outra é porque ambas têm gentes simpáticas e paisagens maravilhosas, que nos deixam de boca aberta mesmo que já as tenhamos visto inúmeras vezes em fotografia. Chamam às Flores a ilha rosa e ao Corvo a ilha preta, mas na verdade a cor que predomina é sempre o verde – mesmo no Verão, quando as hortênsias estão em flor. O Corvo é o paraíso da tranquilidade, e entre outras virtudes tem uma jóia da natureza que dá pelo nome de Caldeirão. Já a ilha das Flores é mais heterogénea, e consegue reunir no seu reduzido território “amostras” das paisagens de todas as outras ilhas açorianas – e um sem-número de paisagens extasiantes. Ambas merecem ser conhecidas sem pressas, seguindo o exemplo das ruminantes brancas e castanhas que encontramos a pastar tranquilamente um pouco por todo o lado e nos olham com curiosidade, sem todavia se incomodarem connosco ou com as máquinas fotográficas.
Nota: O clima é variável todo o ano e mais ainda nos meses menos quentes, por isso contem com voos e travessias de barco por vezes cancelados ou adiados. Se optarem por ir no Verão, marquem alojamento com bastante antecedência, porque a oferta é reduzida e tende a esgotar facilmente, sobretudo no Corvo.
Posts sobre a ilha das Flores:
Na ilha das Flores – parte III
Post sobre a ilha do Corvo:
Mina de São Domingos
É nesta pequena e muito pacata aldeia alentejana do concelho de Mértola que existe uma das melhores praias fluviais da Europa, já distinguida pelos World Travel Awards e continuadamente merecedora de bandeira azul desde há vários anos: a praia fluvial da Tapada Grande. Situada à beira de uma albufeira tranquila e rodeada de arvoredo, onde nem sequer falta uma ilhota, é uma praia de areia com todas as comodidades que se exigem de um lugar de veraneio moderno – chapéus-de-sol, restaurante, parque de merendas, estacionamento, etc. – e ainda um pequeno anfiteatro onde na época alta são organizadas actividades várias de animação.
Mas a Mina de São Domingos tem mais para ver. Tem as ruínas do antigo complexo mineiro de extracção de pirite, que abrange alguns edifícios ainda na periferia da aldeia e todo o percurso de cerca de 3 km até à Achada do Gamo, local que bem poderia servir de cenário para um filme pós-apocalíptico. Aqui as águas do ribeiro que corre paralelo à estrada de terra batida são multicoloridas e o ocre domina nos pedaços de edifícios que ainda se mantêm de pé, alguns com vestígios de elementos já ferrugentos. Também há pilhas de escórias negras e manchas de poeira cinzenta. E há um silêncio profundo e constante, como já é difícil encontrar nos tempos que correm, sobretudo em pleno dia.
Nota: Sugiro que aproveitem para visitar também o Pomarão, a localidade à beira do Guadiana que esteve em tempos ligada à mina por carris e servia de porto de embarque para o material recolhido. Bem perto, a vila de Mértola e o Pulo do Lobo são outros lugares a não perder.
Post sobre a Mina de São Domingos:
As ruínas da Mina de São Domingos (https://viajarporquesim.blogs.sapo.pt/as-ruinas-da-mina-de-s-domingos-37242)
Amarante
Chamam-lhe Princesa do Tâmega e com razão. Olhando a silhueta da Igreja de São Gonçalo ao lado da ponte e as casas reflectidas no rio tornado espelho, não há como negar que Amarante tem algo de majestático. Mas não é uma nobreza com pretensões, antes a dignidade serena de uma cidade que sabe o que vale e não precisa de ostentações possidónias. Amarante é doce e romântica, seja passeando junto ao rio, percorrendo as suas vielas ou descansando numa esplanada quando o tempo está de feição. Anualmente, em finais de Junho, a cidade festeja o calor com uma Feira à Moda Antiga, e aí anima-se com cantigas, desfiles, jogos e exibições variadas – mas sem nunca perder a compostura. Tem doçaria típica, um restaurante com uma estrela Michelin e outros menos premiados mas igualmente recomendáveis, e alojamentos em edifícios emblemáticos. Amarante tem tudo o que é preciso para nos fazer apaixonar por ela à primeira vista.
Chaves
Novamente o Tâmega, aqui ainda em terras transmontanas, mas sempre tranquilo. Podemos atravessá-lo na milenar Ponte de Trajano e também – bem mais divertido! – sobre as poldras que ligam a Alameda que tem o mesmo nome à margem sul do rio. Carregadinha de vestígios históricos que remontam a períodos ainda anteriores à ocupação romana e se estendem ao longo de vários séculos, Chaves é uma das cidades portuguesas mais curiosas e interessantes para conhecer. Desde as engraçadas varandas das casas do centro histórico até ao Museu Nadir Afonso, passando pela reconhecivelmente medieval igreja Matriz, o castelo, o bairro da Madalena ou o parque termal, tudo aqui é diferente de qualquer outra cidade portuguesa.
Chaves é também a cidade onde se inicia a Estrada Nacional 2, que tem vindo a ganhar popularidade nos últimos tempos fruto da divulgação extensiva que está a ser feita deste percurso.
Escaroupim
(e outras aldeias avieiras)
Muita da actividade na extensa e fértil região do Ribatejo gira à volta do rio, mas é na cultura avieira que encontramos os vestígios menos adulterados da importância que o Tejo ainda tem para as populações que vivem nas suas margens. O Escaroupim é a face mais visível e “arrumadinha” das aldeias avieiras, mas isso não lhe retira qualquer valor ou interesse. Muito pelo contrário, é daqui que podemos sair em passeio de barco para conhecer algumas das belezas guardadas nas ilhotas que povoam o Tejo, visitar o Museu e uma casa típica, comer no parque de merendas ou num excelente restaurante, e ver o pequeno e recentemente recuperado cais palafítico. E daqui podemos partir para visitar, de ambos os lados do rio, outras aldeias avieiras que ainda sobrevivem mantendo a sua genuinidade quase inalterada, e as ruínas daquelas que foram deixadas entretanto ao abandono, à medida que vai desaparecendo a actividade piscatória que sustentou tantas famílias durante décadas. Remanescências de um Portugal praticamente desconhecido que se vai desvanecendo tão mais rapidamente quanto o lado negro da modernidade persiste em o ignorar.
Posts sobre o Escaroupim e as aldeias avieiras:
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Na Roménia
Maramureş
Talvez pela sua localização mais remota, no noroeste da Roménia e já paredes-meias com a Ucrânia, a região de Maramureş ainda está relativamente pouco explorada pelo turismo para estrangeiros, o que faz dela um destino óptimo para umas férias longe da confusão. É provavelmente uma das regiões europeias onde os costumes tradicionais se mantêm melhor preservados, tanto na arquitectura como na forma de vida, e tem características culturais muito próprias. Zona de campos agrícolas e florestas, várias das suas peculiares igrejas de madeira estão classificadas como património da Unesco, há um cemitério feliz único no mundo, e um parque natural que faz parte dos fabulosos Cárpatos onde podemos passear num pequeno comboio a vapor – o Mocăniţa – seguindo o percurso de um rio, ou alojar-nos num encantador hotel rural que parece saído de um filme. Ideal para quem gosta de sossego em ambientes simples e genuínos.
Posts sobre Maramureş:
10 razões para visitar a Roménia
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Dois dias em Bucareste – dia 1
Dois dias em Bucareste – dia 2
Em Marrocos
Fez
A mais antiga cidade imperial marroquina é um ícone da civilização islâmica, e a sua medina é a maior zona livre de veículos automóveis do mundo – um cadinho de pessoas, ofícios, vielas, monumentos, cores e cheiros, labiríntico, fervilhante de vida e absolutamente fascinante. Passear nesta medina é mergulhar na história e cultura marroquinas e entrar num túnel do tempo: algumas actividades que aqui se desenvolvem permanecem quase imutáveis desde há séculos, e a vida de muitas das pessoas que aqui moram observa as mesmas tradições dos seus antepassados. Mas a cidade não se resume à medina. Tem Mellah (o antigo bairro judeu), Fes-el-Jdid e os seus palácios, o Museu de Batha, o jardim Jnan Sbil e os túmulos Merínidas, só para citar alguns dos locais mais apelativos. Em Fez subsiste autenticidade, a par com uma arquitectura genuína e bem preservada e com o orgulho popular nas suas raízes e cultura.
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Em Marraquexe, comer bem e ajudar uma causa
Na Grécia
Milos
A ilha onde foi descoberta aquela que é sem dúvida a estátua de mármore mais famosa do mundo – a Vénus de Milo – permanece abençoadamente fora do radar do turismo de massas, apesar de ser uma das ilhas gregas mais interessantes e originais. Os próprios gregos dizem que é “diferente”. Mais verde e mais florida que a maioria das suas congéneres do Mar Egeu, Milos oferece a quem a visita uma diversidade invejável de paisagens naturais e arquitectónicas: o calmíssimo porto natural de Adámas e o seu “bunker” da 2ª Guerra Mundial, que é agora um espaço para exposições artísticas; a alvíssima praia de Sarakíniko, sem dúvida uma das mais invulgares do mundo; a colorida aldeia piscatória de Klima, hoje em dia essencialmente virada para o turismo mas ainda assim cheia de encanto; formações rochosas fora do comum, como as cavernas submersas de Papafragas e o rochedo de Kleftiko; ou as vilas de Pollonia, Plaka ou Trípiti, cada uma com as suas características peculiares. Há um sem-fim de motivos para ir conhecer Milos – e vir de lá com vontade de voltar.
Post sobre a ilha de Milos:
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Ilhas gregas para todos os gostos
Ilhas gregas – Notas de viagem
Bilhete-postal de Santorini II
Bilhete-postal de Santorini III
Bilhete-postal de Santorini IV
Costa Rica
Montezuma
Num país pejadinho de lugares maravilhosos, Montezuma prima pelo seu ambiente diferente. Descontraída e meio hippie, spot popular para mochileiros e viajantes alternativos, é ao mesmo tempo romântica e multicultural, e está suficientemente afastada do turismo mainstream para proporcionar a quem a visita uma estadia tranquila e inesquecível. As praias são de areia macia, a água do mar é obviamente morna, a fauna ornitológica é variada e exótica para os nossos olhos europeus, e a comida tem sabores de todo o mundo. Subindo o modesto rio Montezuma podemos tomar banho junto nas águas fresquinhas de uma cascata. E a apenas meia dúzia de quilómetros fica a Reserva Natural Absoluta Cabo Blanco, a área de protecção da vida selvagem mais antiga da Costa Rica, um país pequeno mas que sozinho possui 5% da biodiversidade do nosso planeta e sabe proteger essa biodiversidade como nenhum outro.
Posts sobre Montezuma:
Diário de uma viagem à Costa Rica XII – Montezuma, Jacó, Manuel Antonio
Diário de uma viagem à Costa Rica XI – San Juanillo, Sámara, Punta Islita, Montezuma
Outros posts sobre a Costa Rica:
Costa Rica: fogo nos trópicos (https://viajarporquesim.blogs.sapo.pt/costa-rica-fogo-nos-tropicos-38686)
Diário de uma viagem à Costa Rica I – voo, San Jose
Diário de uma viagem à Costa Rica II – San Jose, Cariari, Tortuguero
Diário de uma viagem à Costa Rica III – Tortuguero
Diário de uma viagem à Costa Rica IV – Tortuguero, La Fortuna (Arenal)
Diário de uma viagem à Costa Rica V – La Fortuna (Arenal)
https://viajarporquesim.blogs.sapo.pt/diario-de-uma-viagem-a-costa-rica-vi-6291 – Arenal, Monteverde
Diário de uma viagem à Costa Rica VII – Monteverde
Diário de uma viagem à Costa Rica VIII – Monteverde
Diário de uma viagem à Costa Rica IX – praias de Guanacaste, San Juanillo
Diário de uma viagem à Costa Rica X – San Juanillo
Diário de uma viagem à Costa Rica XIII – Manuel Antonio
Diário de uma viagem à Costa Rica XIV – Sierpe
Diário de uma viagem à Costa Rica XV – Sierpe, Orosí (
Diário de uma viagem à Costa Rica XVI – Vulcão Irazú, Zarcero, Sarchí, Grecia, Cartago, Ujarrás, Orosí
Diário de uma viagem à Costa Rica XVII – Orosí, San José, Alajuela
Na França insular
Martinica
De França tem a língua e a moeda, tudo o resto é puramente caribenho – ou seja, só vantagens. As praias são como as dos postais, a vegetação é tropical, o mar tem água morna e peixes multicoloridos, com lugares excepcionais para o mergulho. Aqui nasceu a Imperatriz Josefina, no Domaine de la Pagerie, e viveu Gauguin – a sua antiga habitação é hoje um museu – e foi também aqui que ocorreu há quase cem anos uma enorme erupção vulcânica que deixou marcas e muita história para visitar. Há jardins e florestas, museus, ruínas e uma biblioteca num edifício magnífico de ferro forjado (desenhado por um discípulo de Eiffel, construído em Paris e mais tarde desmontado e levado em peças para Fort-de-France), igrejas únicas, aldeias piscatórias e plantações, festejos cheios de tradição e boa comida crioula. Há de tudo nesta ilha que é suficientemente pequena para se conhecer num par de semanas, e suficientemente grande e variada para nunca nos aborrecermos.
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