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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Sex | 22.11.19

O coração de Istambul (e Istambul no meu coração)

 

Não sei como nem exactamente quando é que me apaixonei por Istambul. Não foi certamente amor à primeira vista, porque mal me recordo da primeira vez que entrei na cidade. Sei que já ia longa a tarde e eu estava algo cansada de madrugar diariamente ao longo de quase uma semana de circuito pela Anatólia, o corpo moído dos muitos quilómetros percorridos no autocarro que nos trazia agora de Ancara e no qual atravessámos todo o lado oriental de Istambul e enfrentámos longos minutos de trânsito engarrafado até chegarmos à Ponte do Bósforo – o cordão umbilical que liga a Ásia à Europa naquela que é a única cidade do mundo que se estende por dois continentes. Lembro-me também vagamente de que o autocarro deu voltas e voltas percorrendo ruas indistintas ladeadas de prédios incaracterísticos, cruzou praças movimentadas, passou por mesquitas e palácios, até finalmente nos deixar no hotel. Mas neste contacto inicial com Istambul, nada aconteceu que fizesse o meu coração bater com mais força.

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Nesse já longínquo Verão em que fui à Turquia pela primeira vez, o que é que me fez apaixonar por Istambul? Terá sido a fantástica vista sobre o estreito do Bósforo e o mar de Marmara que se abarca das varandas do Palácio de Topkapi? Ou a visão nocturna a partir da Colina dos Namorados sobre o lado europeu da cidade, com as suas sete colinas iluminadas a fazerem lembrar Lisboa? Se por essa altura eu não estivesse já rendida ao seu encanto, o passeio de barco no Bósforo no dia a seguir teria de certeza operado a transformação, e o ambiente misterioso da Cisterna da Basílica completado o sortilégio. Esses fugazes dois dias foram mais que suficientes para eu perceber que Istambul não voltaria a sair do meu coração, por muito tempo que estivesse sem lá voltar ou por muitas vezes que a visitasse. Passaram vários anos até regressar aos seus braços, e não sei quantos mais irão passar até que possa revê-la, mas Istambul está e ficará para sempre entranhada na minha pele.

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É difícil descrever a atmosfera de uma cidade como Istambul. Há aquela mistura do oriente com o ocidente, da tradição com a modernidade, da cultura islâmica com a clássica e a bizantina; muitos séculos de história ao virar de cada esquina coabitando pacificamente com todos os “tiques” e vícios de uma grande metrópole contemporânea. E há as pessoas, muitas pessoas em todo o lado, de todos os tipos, vestidas de modo tradicional ou arrojado, estrangeiros e habitantes locais, de todas as idades, cheias de pressa ou em ar de passeio. Há um trânsito denso nas principais artérias a qualquer hora do dia, e embarcações que cruzam constantemente o Corno de Ouro e o Bósforo, deixando rastos brancos como cicatrizes no azul soturno da água. Há movimento e vida e energia. Istambul é uma cidade vibrante, cheia de personalidade, diferente de qualquer outra e única no seu estilo.

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Eminönü será possivelmente o bairro onde mais se sente este carácter único, esta vibração. Situado mesmo no início do Corno de Ouro, foi a porta de entrada da antiga Constantinopla e permanece até hoje uma das zonas mais movimentadas, comerciais e atractivas de Istambul. Encruzilhada principal da cidade desde há séculos, aqui desagua o trânsito da Ponte de Galata, atracam barcos e terminam linhas de comboio, embarcam e desembarcam passageiros a toda a hora. Com apenas 55 mil residentes, durante o dia vê o número de frequentadores subir para cerca de 2 milhões. Aqui foi edificada nos séculos XVI-XVII a Yeni Cami (Mesquita Nova), uma enorme massa cinzenta facilmente identificável pelas suas 66 cúpulas, e é também aqui que podemos visitar o Bazar das Especiarias, mais pequeno mas muito mais acessível do que o seu congénere Grande Bazar – a prová-lo está o facto de ser frequentado maioritariamente pelos locais. E ao belo edifício da estação ferroviária de Sirkeci chegava, nos tempos áureos das viagens de comboio, o celebérrimo Expresso do Oriente que fazia a ligação de Istambul a Paris.

Istambul-Eminönu (1).jpgIstambul-Eminönu (2).jpgIstambul-Bazar Egípcio (1).jpgIstambul-Bazar Egípcio (2).jpg

 

Na minha segunda visita à cidade, que coincidiu com a época do Ramadão, foi também em Eminönü, na ampla praça em frente à Mesquita Nova, que ao fim da tarde me apercebi de uma das tradições de Istambul durante aquela que é a altura do ano mais festiva para os muçulmanos. Dentro de grandes tendas montadas para o efeito, a Câmara Municipal disponibiliza aos cidadãos e aos visitantes – muitos turcos que vivem noutras regiões aproveitam esta altura para fazerem férias e irem conhecer Istambul – grandes mesas corridas para o iftar, a refeição após a oração da noite em que os fiéis quebram o jejum diurno. Actualmente, são colocadas cerca de 50 mil destas tendas por toda a cidade. As filas de pessoas que esperam pacientemente a sua vez são bastante extensas e chamam a atenção, sobretudo porque muitas das pessoas vestem mais tradicionalmente do que a maioria dos locais.

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Eminönü é por tudo isto o local privilegiado para partir à descoberta dos mil e um motivos de interesse ciosamente guardados no Corno de Ouro. Podemos começar por aquele que, não sendo o local que nos vem imediatamente à ideia quando se fala em Istambul, é para mim o que melhor nos conta a história do Império Otomano: o Palácio de Topkapı, ele próprio cenário de tantas histórias coloridas e testemunha visível do que terá sido a opulência daquele império. Mandado construir no século XV pelo sultão Maomé II, que conquistou Constantinopla aos bizantinos, e corte dos imperadores otomanos até ao século XIX, é desde 1924 um museu dividido em várias zonas, e há que reservar umas boas horas para ver todos os tesouros que encerra.

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Diferente dos palácios europeus típicos, o Topkapı é constituído por uma infinidade de edifícios, pavilhões e quiosques erguidos em torno de uma área central, neste caso um jardim, e está inserido num complexo ainda maior a que se acede pela Porta Imperial e inclui uma igreja bizantina, mais jardins e alguns edifícios baixos hoje dedicados a fins comerciais. Este enorme conjunto rodeado por muralhas e pelos chamados Jardins Reais (Hasbahçe) ocupa quase 700 mil metros quadrados da colina do Serralho (Sarayburnu), uma localização privilegiada com vista para a entrada do Bósforo.

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No complexo tal como está organizado actualmente é possível visitar três espaços separados (os bilhetes são independentes): Aya İrini, a igreja bizantina que fica no primeiro pátio e é quase tão antiga como a sua vizinha Ayasofya; o Harém; e o museu propriamente dito, que se espalha pela maior parte dos edifícios do palácio. As várias e enormes colecções do museu estão distribuídas por espaços diversos, e algumas são verdadeiramente impressionantes. Nas antigas cozinhas, um edifício baixo que ocupa todo um lado do segundo pátio, está exposta a fabulosa colecção de porcelana chinesa e japonesa, que tem mais de 10 mil peças (é a maior colecção que existe fora da China) e mostra ininterruptamente o desenvolvimento da porcelana daquelas regiões entre os séculos XIII e XX. Outra colecção maravilhosa é a dos têxteis, que inclui um grande número de cafetãs usados pelos sultões e príncipes do império entre os séculos XV e XX, todos belissimamente preservados. Há também grandes colecções de objectos de prata, de armas e de porcelana europeia – e a lista não fica por aqui. Mas o ponto alto da visita ao museu é, claro está, o Tesouro Imperial, que exibe peças valiosíssimas como a adaga com esmeraldas do sultão Mahmud I, vários tronos onde o ouro se mistura com pedras preciosas, madrepérola, tartaruga ou madeiras nobres, e o célebre Diamante da Colher, uma “pedrinha” que tem alegadamente 86 quilates e uma origem envolta em mistério.

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Absolutamente a não perder é também o Harém. O nome evoca contos das mil e uma noites (que de facto têm a Pérsia como pano de fundo, mas essa diferença não atrapalha a minha imaginação), eunucos e vidas com muito luxo mas sem liberdade, e na verdade este edifício com seis pisos (apenas um é visitável) e cerca de 300 divisões, nove casas-de-banho, duas mesquitas, um hospital, dormitórios e uma lavandaria podia abrigar até 200 eunucos e 300 concubinas, a maioria das quais eram apenas damas de companhia e não propriamente mulheres do sultão – pois como é sabido, a lei islâmica “só” permite que um homem tenha quatro esposas legítimas. “Harém” significa “proibido”; na realidade, esta era a zona do palácio onde se encontravam os aposentos privados do sultão e da sua família, e cada aspecto da vida no seu interior era regido por tradições, obrigações e cerimónias. Mas adiante. Visitar o Harém do Topkapı é entrar por um portão dourado e percorrer uma série de pátios e divisões onde o ouro continua a ser rei, bem acompanhado por mármores, vitrais, ferros forjados, tapetes e tecidos aconchegantes, madeiras e azulejos, tudo decorado numa miríade de cores contrastantes – um vislumbre do que deverá ter sido o ambiente faustoso do palácio quando era habitado.

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Do Topkapı saímos para a Praça Sultanahmet, onde encontramos os outros ilustres ocupantes da colina do Serralho. No lado nordeste ergue-se aquele que é provavelmente o monumento mais famoso de Istambul: Ayasofya, do grego Hagia Sophia – santa sabedoria. Ayasofya impressiona assim que entramos. A enormidade da obra revela-se de imediato aos nossos olhos, atraídos pela cúpula central que se eleva até cerca de 56 metros de altura. Uma arcada de 40 janelas na base da cúpula conquista a luz do exterior e proporciona uma iluminação difusa a toda a nave, realçando os tons cinza e rosa dos mármores, o amarelo-ocre das paredes, os azuis e avermelhados das intrincadas pinturas ornamentais. Os pendentes que suportam a cúpula, marcando agradavelmente a transição do seu formato circular para a configuração quadrangular da nave, e as enormes colunas de granito com quase 20 metros de altura, tudo contribui para a grandiosidade do lugar. Ao fundo, elemento essencial em qualquer mesquita, o “mirhab” marca a direcção de Meca, aquela para onde os fiéis se orientam quando oram, e ao lado um espectacular “minbar” – o púlpito onde o imã profere o sermão de sexta-feira – em madeira trabalhada com ornamentações douradas.

 

Istambul-Ayasofya (1).jpgIstambul-Ayasofya (2).jpgIstambul-Ayasofya (4).jpg

 

Acede-se por uma escada de pedra à galeria imperial, onde estão os famosos painéis de mosaicos que decoraram a catedral antes de ter sido convertida em mesquita. Representam figuras associadas à religião católica ou imperadores e imperatrizes, todas estas figuras estando destacadas sobre deslumbrantes fundos dourados e elaboradas com uma enorme riqueza de pormenores. Agora um museu, aquela que é uma das novas maravilhas do mundo guarda no seu interior quinze séculos de história da humanidade, e mostra bem a superioridade camaleónica e de sobrevivência que as grandes obras arquitectónicas têm em relação a quem as constrói.

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No extremo oposto a Ayasofya ergue-se um imponente aglomerado de cúpulas e minaretes em vários tons de cinzento: a Mesquita de Sultanahmet, mais conhecida por Mesquita Azul. Construída no início do século XVII a mando do sultão Ahmed I, é a única mesquita que possui seis minaretes e considerada a última grande mesquita do período clássico otomano. Embora activa, fora das horas de culto está aberta aos visitantes – que são em grande número. Há um mar de gente que flui constantemente nos dois sentidos pelo caminho de acesso ao pórtico de entrada da mesquita.

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Depois de passado o enorme pátio com a tradicional fonte das abluções, há que descalçar os sapatos, como é habitual em qualquer mesquita. Na minha primeira visita tinham-nos dado sacos plásticos para os colocarmos e posto por cima dos meus ombros (o vestido era bem decoroso mas não tinha mangas…) um pano turquesa de um tecido áspero que me fazia comichão. O cheiro intenso que se sentia na enorme sala (quem sabe se por causa de todos aqueles sapatos dentro dos plásticos) deixara-me agoniada e foi realmente difícil para mim seguir com atenção as explicações do guia e apreciar devidamente o interior. Desta segunda vez, já prevenida, levei um pareo para me cobrir – há que saber que às mulheres também não são permitidas saias curtas nem calções acima do joelho. Apesar das muitas dezenas de pessoas, a atmosfera no interior da mesquita estava muito mais respirável do que na minha visita anterior. Sentei-me no chão e ali fiquei durante largos minutos para absorver todos os pormenores do ambiente.

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A luz natural do exterior entra pelas 260 janelas decoradas com vitrais coloridos e mistura-se com a iluminação ténue proporcionada por inúmeras lâmpadas colocadas em gigantescos lustres circulares de ferro forjado suspensos das cúpulas. Cada lâmpada está coberta por uma campânula de vidro, e o efeito é quase irreal. O nome dado à mesquita vem dos mais de 20 mil azulejos manufacturados em Izmir (Esmirna) que revestem as paredes e as 36 cúpulas de diversos tamanhos, dispostas em cascata – numa mesquita, as cúpulas representam o universo visto por Deus. A cor predominante destes azulejos é o azul em vários tons, e reproduzem motivos clássicos nos níveis inferiores, e flores, frutos e árvores nos pisos superiores e nas abóbadas, a cor principal misturando-se com o vermelho, o verde e o dourado. Enormes colunas sustentam a abóbada central, também elas parcialmente revestidas com azulejos. O resultado de tudo isto é uma atmosfera simultaneamente intimista e magnificente.

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Vedações baixas de madeira separam a parte da mesquita aberta aos visitantes da que está reservada aos fiéis. Meia dúzia de homens com a cabeça coberta por pequenos gorros estavam sentados junto às janelas, praticamente imóveis sob a luz leitosa coada pelos vitrais, lendo com atenção um livro, muito provavelmente o Corão. Do lado dos visitantes, uma babel de pessoas em constante movimento, falando as mais diversas línguas e vestidas das mais variadas maneiras. Mesmo assim, o ambiente era repousante a apelava à reflexão. Atrás de mim, colunas e arcos em vermelho-escuro e branco fizeram-me lembrar a mesquita de Córdova. A alcatifa que cobre o chão é macia, apesar de tão pisada, e tem um padrão de folhas e flores azuis sobre um fundo vermelho. Ali sentada, e embora rodeada de tanta gente, apreciei a tranquilidade da atmosfera, sentindo-me relaxada e em paz. O contraste com a impressão deixada pela minha primeira visita não podia ser maior...

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Por ser o fim do Ramadão, Istambul estava literalmente apinhada de turistas nacionais, que habitualmente aproveitam este período para visitar a cidade. Notei a diferença em relação à primeira vez que ali estive pela quantidade de mulheres vestidas de forma mais tradicional, com lenços na cabeça e guarda-pós cinzentos ou cremes quase até aos pés. Havia um ambiente de festa em toda a parte. No jardim que ladeia o Hipódromo, muitas barraquinhas de feira alinhavam-se ao lado umas das outras, ainda fechadas – só abririam lá para o fim da tarde, mais perto do pôr-do-sol, pois até essa hora os muçulmanos que observam o Ramadão não estão autorizados a comer nem a beber.

 

O Hipódromo foi construído no ano 200 D.C. e foi o centro da vida bizantina e otomana durante muitos séculos, mas quase nada chegou aos nossos dias. O solo original está soterrado vários metros abaixo do pavimento actual, e hoje é basicamente um parque onde apenas são visíveis três das muitas colunas que em tempos fizeram parte do complexo. A mais antiga é um obelisco egípcio datado de 1500 A.C. que o imperador Constantino trouxe de Luxor e tem cerca de 20 metros de altura. Ao lado, a Coluna Serpentina, feita em metal e representando uma serpente, hoje em dia já sem cabeça, veio do templo de Apolo em Delfos. A última coluna tem 32 metros de altura e foi mandada colocar por Constantino VII no local onde se situava o centro do Hipódromo no século X. Em tempos coberta de placas de bronze, hoje apenas mostra a sua estrutura feita de pedras colocadas umas sobre as outras.

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Seguindo a avenida de Almeydani até ao fundo, quase junto a Ayasofya, e descendo depois para a esquerda pela rua Yerebatan chegamos à entrada da Cisterna da Basílica (Yerebatan Sarayi, em turco), que foi construída no século VI e é a maior das muitas cisternas de Istambul. Pago o bilhete, penetramos num mundo subterrâneo quase irreal. Yerebatan Sarayi significa “palácio afundado”, e na verdade sentimo-nos a entrar num universo líquido e fantasmagórico, onde sons abafados ressoam a espaços, devolvidos pelas abóbadas e pelas paredes com 4 metros de espessura desta enorme caverna. São quase 10 mil metros quadrados ocupados por uma floresta de 336 colunas de mármore com 9 metros de altura cada, emergindo de um lago de águas escuras e imóveis, um enorme espelho negro que reflecte a iluminação reduzida e cuidadosamente direccionada do lugar. Um passadiço de madeira permite aos visitantes passear por entre as colunas, aproveitadas de antigos templos pagãos abandonados depois da ascensão do cristianismo e cujos capitéis são maioritariamente jónicos e coríntios. As atenções convergem para um dos cantos do espaço, onde estão em evidência três colunas diferentes de todas as outras. Uma delas é toda trabalhada de alto a baixo, reproduzindo formas que parecem penas de pavão, ou lágrimas (depende da imaginação…). As outras duas têm cada uma na sua base a enorme cabeça de uma medusa – uma deitada de lado e a outra em posição invertida. Ambas são iluminadas por focos de luzes coloridas, que vão alternando entre o verde, o vermelho, o azul e o roxo. Curiosamente, a expressão dos rostos reproduzidos na pedra é meio sorridente, quase sonhadora, em nada evocativa do possível efeito aterrorizador que as inúmeras serpentes que constituem os cabelos destas medusas poderiam ter. Todo o ambiente na cisterna é fresco e tranquilizante, a fazer lembrar o de uma catedral, e se tivesse de escolher o meu lugar favorito em Istambul seria certamente este.

Istambul-Cisterna de Yerebatán (1).jpgIstambul-Cisterna de Yerebatán (2).jpg

 

Há muito mais para descobrir em Istambul, no Corno de Ouro e para lá dele. Os tesouros desta cidade não têm conta e poucos dias não chegam sequer para ver os principais, menos ainda para começar a descobrir os segredos que ela guarda longe de olhares estrangeiros. A vontade de lá voltar não me larga, tenho saudades. Quando me perguntam qual é a minha capital europeia favorita, nem hesito na resposta: “Istambul!” Já estou habituada ao franzir de sobrolho ou ar de estranheza que geralmente acolhe esta minha afirmação. Dou-lhes um desconto – vê-se logo que nunca lá estiveram, e que não sabem o que estão a perder.

 

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Dom | 17.11.19

Viajar Porque Sim nos Sapos do Ano

 

Uma das coisas boas de ter um blogue alojado no Sapo é o facto de estar numa comunidade grande, variada e muito activa. Já são muitos os casos de amizades feitas por aqui, algumas mantendo-se à distância, outras que passaram do virtual para o real. Aos blogues mais antigos e conhecidos juntam-se outros novos, alguns desaparecem, outros mantêm-se resistentes, vão crescendo, às vezes mudam ou criam novos ramos. É, no fundo, uma rede social bem viva e que faz jus ao slogan criado pela equipa que criou, gere e apoia o Sapo Blogs: “Blogs com gente dentro”.

 

Aqui há dois anos a Magda, que além de ter emprego, família, cães e dois blogues, está sempre a “inventar” novas coisas para pôr o pessoal a ler e a teclar, lembrou-se de criar os “Sapos do Ano” – uma iniciativa sem prémios, sem patrocínios, sem marketing de apoio, sem badalações na comunicação social, que tem como único objectivo dar a conhecer blogues (mesmo que não estejam alojados no Sapo) que andam mais longe dos radares da malta que gosta de ler blogues. A ela juntou-se depois o David, e é exclusivamente a carolice deles os dois que alimenta este acontecimento anual que já está a tornar-se um clássico.

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Para os Sapos do Ano 2019 decidiram também incluir a categoria das viagens, e confesso que fui completamente apanhada de surpresa quando soube que o Viajar Porque Sim não só tinha sido nomeado, como estava nos finalistas desta categoria. E aqui aproveito para agradecer a quem se lembrou deste meu blogue, no meio das centenas de blogues de viagem portugueses que já existem na blogosfera. Saber que há por aí quem aprecie o que escrevo e tem paciência para ler as minhas divagações aquece-me o coração, e realmente só tenho pena de não ter tempo para escrever mais e partilhar convosco mais experiências de viagem.

 

Por isso, aproveitem a ocasião e vão a este post conhecer os blogues finalistas; de certeza que vão ficar surpreendidos com tanta escrita boa e tantos blogues interessantes que ainda não conhecem. E, já agora, não se esqueçam de votar .

 

Entretanto, se quiserem saber um pouco mais sobre o Viajar Porque Sim e quem está por trás dele, leiam o post publicado hoje com as minhas respostas à mini entrevista que têm estado a fazer a todos os finalistas deste ano.

 

Obrigada por viajarem comigo.

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