Alguns conselhos para quem vai viajar para a Rússia
A Rússia está na moda, e a sua popularidade como destino de viagem terá tendência a aumentar nos próximos tempos entre os portugueses, em grande parte devido aos excelentes preços dos pacotes que todas as agências oferecem actualmente para visitar durante uma semana as cidades de Moscovo e São Petersburgo.
E precisamente porque São Petersburgo estava na minha wishlist há já demasiado tempo, apesar de (como vocês bem sabem) eu não ser grande adepta de viagens organizadas por agências, este ano decidi embarcar na onda e cheguei há alguns dias de uma dessas viagens.
As duas grandes capitais da Rússia são obviamente cidades monumentais e fascinantes, cada uma dentro do seu género, e merecem vários (muitos!) posts para vos contar tudo o que vi. Mas hoje o que quero mesmo é falar de algumas questões mais práticas que podem ser úteis para quem esteja a pensar em ir de viagem (organizada ou não) até este país.
Clima
Preparem-se para, mesmo no Verão, o tempo mudar completamente pelo menos meia dúzia de vezes ao dia. Levantamo-nos com um sol radioso (no Verão o sol nasce entre as 3 e as 4 da manhã, e depois da meia noite ainda se vê alguma claridade no céu durante muito tempo), mas quando acabamos de tomar o pequeno-almoço já está a chover – e pode ser uma simples chuvinha molha-parvos ou um temporal de nos encharcar até aos ossos. Passado um bocado levanta-se uma ventania, a seguir o sol volta a espreitar envergonhado, e por aí adiante. Na rua há gente de sandálias e de botas, de manga curta e de anoraque, com sobretudos e com tops de alças. Se não quiserem levar chapéu-de-chuva, levem pelo menos um impermeável com capuz e qualquer coisa para usar ao pescoço, que estas mudanças malucas de tempo são boas para as constipações.
Comida
Que não há comidinha como a portuguesa, isso já toda a gente sabe. Mas a Rússia não é decididamente o país ideal para quem gostar de comer bem e muito. A somar a este facto, os pacotes de viagens costumam incluir algumas refeições, se não mesmo todas, e nestes casos há que comer o que nos põem à frente (embora ocasionalmente também nos apareça um bufete, e aí já há mais hipótese de escolha). É claro que há bons restaurantes, e para quem gosta de fast food as opções também são mais que muitas. Pessoalmente até nem comi mal nesta viagem (e eu até costumo ser esquisitinha…), mas a maior parte das pessoas que faziam parte do grupo torcia o nariz a quase toda comida que lhes aparecia à frente, fosse porque achavam que era pouca quantidade, ou porque a oferta não lhes agradava de todo (e os elementos do grupo eram quase todos espanhóis, não portugueses, por isso tirem daqui as vossas próprias conclusões). Geralmente serviam sempre uma entrada ou sopa, uma salada, um prato de peixe ou carne (sobretudo carne…) e uma sobremesa. A comida mais tradicional que se come é georgiana ou ucraniana. Pessoalmente, gosto muito da forma como fazem o bacalhau fresco (que não é um prato típico) mas também comi, por exemplo, um excelente strogonoff e um belo hambúrguer, ambos em restaurantes fora do circuito da viagem organizada. Seja como for, fica a chamada de atenção, para depois não se sentirem defraudados.
Distâncias, dimensões, gente
Na Rússia é tudo grande. Eu diria mais: é tudo monumental. Moscovo é uma cidade megalómana a todos os níveis, cheia de monumentos e empreendimentos gigantescos (ao bom estilo soviético) e em que os edifícios só não parecem tão grandes porque geralmente estão separados uns dos outros por avenidas larguíssimas, ou porque dentro do nosso ângulo de visão há sempre outros ainda maiores. Como é óbvio, as distâncias também são enormes, e se no mapa tudo parece perto, na realidade é tudo bem mais longe. Em São Petersburgo os edifícios são mais baixos – pelo menos no centro da cidade, que é em si mesmo uma área descomunal – mas as avenidas são igualmente amplas, e até o rio Neva parece mais mar do que rio. A somar a estas magnitudes, Moscovo é habitada por cerca de 12 milhões de almas e São Petersburgo por quase 6 milhões, por isso há pessoas, carros, autocarros e outros veículos por todo o lado. E turistas, claro, montes de turistas (sobretudo chineses, que estão literalmente a invadir a Rússia), que provocam filas de horas para visitar qualquer monumento ou museu mais famoso. Portanto, preparem-se para andar muitos quilómetros, tanto dentro dos edifícios como nas ruas – ou optem pelo metro, mas mesmo assim contem com bastante tempo para as deslocações – e para tomar “banhos de gente” em todo o lado.
Língua
Ao nível da comunicação, existem na Rússia dois problemas básicos com os quais não é muito habitual depararmo-nos em viagens para a maioria dos outros países. O primeiro é, obviamente, o alfabeto. Salvo algumas excepções em que encontramos dupla grafia (lojas de cadeias internacionais, o metro, alguns dos monumentos/museus mais turísticos – que neste caso também podem ter tradução em inglês), está tudo exclusivamente em cirílico. O segundo é o facto de a maioria dos russos não falarem nadica de nada de inglês. Claro que nos hotéis os empregados falam inglês, assim como os das lojas dedicadas aos turistas, mas fora isso quase não encontramos um russo que fale outra língua que não a sua. A culpa não é da educação formal, pois aprendem inglês na escola, tal como nós. O problema é que não querem saber das outras línguas, não gostam, e têm muito orgulho em falar russo – mesmo entre os mais jovens, esta é a corrente ideológica dominante. Por isso, o meu primeiro conselho é: aprendam o alfabeto russo. É grande e complicado, eu sei, e podem até contrapor que não serve de nada aprender o alfabeto e depois não perceber as palavras. Mas na realidade há sempre algumas palavras que, quando pronunciadas, são facilmente perceptíveis (apesar de parecerem indecifráveis quando escritas em cirílico), e sabendo o alfabeto podem pelo menos identificar mais facilmente uma rua, uma estação de metro, ou um qualquer outro local.
Metro
É a forma mais fácil de viajar, tanto em Moscovo como em São Petersburgo, e é barato (cada viagem custa menos de 80 cêntimos, na nossa moeda). Em São Petersburgo encontramos a rede de metropolitano mais profunda do mundo – em certas estações demora-se mais de dois minutos a descer de escada rolante até à plataforma – e existem, por enquanto, apenas cinco linhas. Já o metro de Moscovo não é assim tão simples: 15 linhas, uma das quais circular, com 200 e muitas estações e um total de quase 400 km de comprimento. E continua em expansão… Algumas das estações mais antigas do metro de Moscovo estão decoradas com verdadeiras obras de arte, e até existem visitas guiadas para as conhecer. Há comboios a chegar e partir praticamente de minuto a minuto, e cada um só se demora uns quantos segundos na plataforma, por isso as saídas e entradas têm de ser bem rápidas. Todas as plataformas estão assinaladas, mas por vezes as setas podem não ser completamente claras; por exemplo, uma seta a indicar que a ligação para outra linha se faz na plataforma ao lado daquela onde acabámos de sair quer na realidade dizer que para acedermos à referida linha teremos de seguir por umas escadas que vão naquela direcção, mas só as descobriremos bastantes metros mais à frente na plataforma. Confusos? Pois… a nós sucedeu-nos o mesmo, in loco, no meio de mares de gente a passar em velocidade supersónica em todas as direcções. Mas não desanimem, que depois de três ou quatro viagens começa-se a apanhar o jeito à coisa…
Simpatia
Os russos não são os campeões do sorriso. Alguns até conseguem ser mesmo antipáticos e desagradáveis (se bem que na verdade encontramos gente assim em qualquer país). Mas não os levem a mal, é uma questão de educação, não é nada pessoal. Não têm por hábito sorrir a pessoas que não conhecem, e de uma maneira geral levam a vida muito a sério, por isso não estranhem os seus modos secos, directos e eficientes. Claro que quem trabalha na área do turismo tem uma atitude diferente e muito mais acolhedora, mas quando saímos do círculo protector do ambiente turístico a história é outra, pelo que convém ter em mente que estamos num país com uma cultura diferente da nossa e temos de manter o espírito aberto e livre de preconceitos.
Souvenirs
Vão por mim: os melhores locais para comprar lembranças de viagem para oferecer à família e aos amigos não são as grandes lojas especificamente destinadas aos turistas onde nos levam quando fazemos o obrigatório tour de autocarro pela cidade. É claro que nessas lojas os artigos têm qualidade, e se houver algum problema ou defeito será mais fácil trocar a peça. Mas nas lojas mais pequenas os preços são francamente melhores, tal como sucede no mercado de Izmailovo, em Moscovo, que é provavelmente o melhor sítio para fazer compras. Sim, é um complexo de edifícios fantasioso e kitsch dedicado ao consumo de todos os tipos, onde encontramos restaurantes, velharias, artesanato e tudo o que qualquer turista pode desejar, e à primeira vista o sítio até tem um bocado o ar de uma armadilha turística. Mas a verdade é que conseguimos comprar muitos artigos iguais (iguais mesmo, não só parecidos) aos que vendem nas lojas mais “selectas” e por metade do preço ou menos, e a variedade é – de longe! – muito maior. Vi lá peças de artesanato lindíssimas e originais que não me importava nada de ter trazido para casa, tivesse eu muito espaço na mala e uma carteira mais “gordinha”. E os preços até que eram bem convidativos.
Visto
Se tiverem a possibilidade de/tempo disponível para tratar do visto (se forem em grupo, uma pessoa pode tratar de todos os vistos, bastando para isso ter autorizações assinadas dos outros elementos do grupo), aconselho que o façam. Pagam cerca de metade do que iriam pagar se fosse a agência a tratar do assunto, e o processo acaba por ser mais fácil, ao contrário do que possa parecer (sei de inúmeros casos de confusões criadas pelas agências, que acabam por ser mais complicadas do que tratar do visto directamente). Não vou maçar-vos com pormenores do que é preciso, numa simples busca na internet irão encontrar vários sites/blogues que vos mostram todos os passos e o site do Centro de vistos da Rússia em Lisboa também explica o que é necessário. Para quem vive longe da capital, tudo pode ser tratado por email, e o custo envolvido é pouco maior. Embora normalmente indiquem que vão demorar 3 semanas a devolver o passaporte, na realidade acabam por ser mais rápidos (no meu caso foram apenas 2 semanas). Escusado será dizer que deverão tratar do visto com bastante antecedência, para evitar percalços.
Depois de tudo isto, não se assustem, porque uma coisa é certa: vão gostar imenso de conhecer a Rússia e todas as maravilhas que o país tem para visitar – e são muitas.
Vão a Moscovo? Leiam este post: Moscovo, a cidade grande
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