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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Seg | 27.05.19

Um cheirinho a sul de França - IV - Provença

 

Provença. Basta pensar no nome para soltar a imaginação, sentir o cheiro da alfazema, sonhar com casas de pedra e vasos de flores em ruas inclinadas e sinuosas, relembrar os quadros de Van Gogh ou Cézanne. E há mais, muito mais. Um dia é pouco para ver tudo o que merece ser visto nesta região, mas é certamente melhor do que nada.

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Dia 4

Arles → Les Baux-de-Provence → Saint-Rémy-de-Provence → L’Isle-sur-la-Sorgue → Fontaine-de-Vaucluse → Gordes → Abadia de Sénanque → Avinhão → Arles (Total: 175 km)

Começámos o nosso périplo provençal por uma das localidades mais famosas da região – como bem o atesta a grande quantidade de carros que já ocupavam todos os parques de estacionamento mais perto da entrada quando lá chegámos (apesar dos preços exorbitantes dos lugares onde se pode estacionar por estas bandas). E porque é que este pormenor é importante? Pela simples razão de que a aldeia de Les Baux-de-Provence fica no cimo de um maciço rochoso – “bau” significa escarpa ou falésia – e quanto mais longe se estaciona, mais há que subir. Mais carros significa também mais visitantes, e isto porque Les Baux é exclusivamente turística: não tem habitantes permanentes desde pelo menos o fim da 2ª Guerra Mundial, encontrando-se sob a tutela do Ministério da Cultura francês. Como curiosidade, a (na altura) cidade de Les Baux foi oferecida no séc. XVII como marquesado à família Grimaldi, pelo que o actual Marquês dos Baux é Alberto do Mónaco.

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Les Baux são pedras sobre pedra. Ruas, casas, monumentos… A pedra é a senhora do lugar, declinada em tons de ocre e cinza, apenas quebrada ocasionalmente pelo ferro forjado e pelos verdes das árvores. Perto da entrada acumulam-se as lojinhas do costume, os cafés e restaurantes, mas à medida que vamos subindo esses sinais da civilização moderna quase desaparecem. No cimo de tudo ergue-se o castelo, rodeado por um planalto extenso de onde se avista o vale de Entreconque, com as suas vinhas e oliveiras.

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Além do Castelo, a actualmente grande atracção de Les Baux encontra-se fora do perímetro da localidade, junto à estrada tortuosa que atravessa os montes na direcção de Saint-Rémy. Chama-se Carrières de Lumières e é uma caverna onde são exibidas projecções artísticas multimédia, sendo que a deste ano é dedicada a Van Gogh (certamente muito dentro do género da que foi exibida em Lisboa o ano passado). A fila para entrar era assustadora e estava instalada a confusão no estacionamento e na estrada, o que fez desaparecer qualquer vontade de ficar por ali.

 

Depois de uma breve paragem em Saint-Rémy de Provence (que optámos por não explorar) para café e gasolina, chegámos à primeira boa surpresa do dia: L’Isle-sur-la-Sorgue. É incrível o poder que a água tem de dar um cunho pessoal a cada lugar. A vila é atravessada, como se torna óbvio a partir do nome, pelo rio Sorgue, que aqui se divide e forma várias ilhotas, e tem qualquer coisa como onze pontes a ligá-las, além de uma série de moinhos de água usados ao longo do tempo para vários fins.

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As esplanadas sucedem-se umas às outras nas margens do rio, as casas têm cores pastel ou ocre, com pormenores deliciosos nas fachadas, e o ambiente geral é muito relaxante – pelo menos nesta altura do ano. L’Isle-sur-la-Sorgue é sobretudo famosa pelo seu mercado de antiguidades e velharias, que se realiza aos domingos durante todo o ano e é um dos melhores da Europa.

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A menos de dez quilómetros de distância, Fontaine-de-Vaucluse é também atravessada pelo Sorgue – aliás, é aqui que ele nasce. Mas já lá vamos… Primeiro entrámos na igreja de Notre Dame et Saint Véran, simples e austera tanto no exterior como no interior, construída no séc. XI sobre as ruínas de um templo pagão e abrigando na sua cripta o túmulo de Saint Véran. Depois tivemos um primeiro encontro com o rio, passámos sob um túnel e encontrámo-nos num belíssimo parque onde nem sequer falta uma ilhota romântica.

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Na margem oposta, subimos por uma rua cheia de lojas e restaurantes até ao Moinho de Papel. A fabricação manual de papel foi uma actividade próspera na localidade até meados do século passado, e a oficina Vallis Clausa (https://www.moulin-vallisclausa.com) reconstitui precisamente um desses moinhos onde se fabricava papel chiffon de grande qualidade segundo técnicas artesanais oriundas do séc. XV. Estão em exibição máquinas tipográficas e litográficas antigas e outros objectos e ferramentas usados no processo, há uma enorme loja onde encontramos toda a espécie de artigos em papel, a maioria ali fabricados, e ainda uma vintena de espaços com peças de materiais diversos concebidas por artesãos locais.

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Seguindo algumas centenas de metros pela alameda arborizada junto ao rio chegamos finalmente à nascente do Sorgue de Vaucluse. E que nascente! A água surge por baixo da altíssima falésia erodida pelo vento que fecha o vale, um lago tranquilo e muito azul que vai engrossando progressivamente com a água que jorra, cheia de força, de vários pontos da parede rochosa, até formar um rio estreito mas caudaloso e cheio de rápidos. O débito total médio desta nascente é de 630 milhões de metros cúbicos por ano, o que faz dela a maior da Europa e uma das mais importantes a nível mundial. Consta que as águas são calmas no Verão e no Inverno, reservando o seu bulício para as outras duas estações do ano. O que sei dizer-vos é que o lugar, aquela conjugação de água cristalina, falésia rude e margens verdejantes formam um conjunto natural que é verdadeiramente maravilhoso.

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A Gordes chegámos já à tardinha e a primeira imagem que tivemos desta aldeia, vindo pela estrada de Cavaillon, foi a de um amontoado de casas de pedra, meio banhadas pelo sol, meio à sombra, encarrapitadas num promontório rochoso e coroadas com um edifício semelhante a um castelo. Alcunhada nos folhetos turísticos de “pérola do Lubéron” (muito gosta esta gente de arranjar nomes pirosos para publicitar certos lugares…), Gordes está a 340 metros de altitude e é um miradouro privilegiado sobre a planície e o vale do Calavon. Habitada desde o séc. XI, verdadeira fortaleza protegida por muralhas e pela sua própria localização mas com uma história conturbada, tornou-se nos anos 50 do século passado um poiso para artistas de renome e ganhou estatuto cultural e sofisticação. O castelo está recuperado, as casas também, as ruas estão limpas, as lojas expõem cuidadosamente os seus produtos. Os muros são de “pedra seca” (construídos sem argamassa de qualquer tipo) e as ladeiras foram calcetadas segundo a técnica tradicional (e são muito propensas a grandes escorregadelas…). É tudo certinho e bonito – talvez demasiado, quanto a mim, pois a localidade torna-se algo insípida, mas haverá certamente outros motivos de interesse que não tivemos tempo para ver.

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Por estes lados a alfazema, um dos produtos mais característicos da Provença, só começa a florir lá para Junho. Não fosse assim, teríamos encontrado a Abadia de Sénanque rodeada por um mar de roxo, como aparece em tudo quanto é foto e postal. Nesta altura apenas se vêem tufos de verde no solo. Como em França fecha tudo muito cedo, sobretudo fora da época alta do turismo, já não foi possível visitar o interior da Abadia. Tivemos de nos contentar com o exterior (nós e os vários grupos de pessoas que iam chegando entretanto), que ainda assim é interessante o suficiente para merecer a deslocação. Uma das laterais da Abadia está em obras para reforço da estrutura, que ameaça ruir, e no acesso ao complexo um painel apela aos donativos para fazerem face ao custo avultado da recuperação em curso.

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Quando chegámos a Avinhão o dia estava no fim. Aproveitámos a última claridade para um breve passeio até à Place du Palais, onde se encontram os dois principais monumentos da cidade: a Catedral e o Palácio dos Papas. No caminho passámos pela Basílica de S. Pedro de Avinhão, uma bonita igreja em estilo gótico flamejante provençal com uma fachada que parece feita de renda, meio escondida na praça que tem o mesmo nome.

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Depois, ao virar de uma esquina, demos com uma das laterais do Palácio, uma parede vertiginosa rasgada por janelas altas e estreitas e apoiada por um enorme e maciço arcobotante – uma pequena amostra do que nos aguardava mais à frente, e que me deixou positivamente boquiaberta. O Palácio dos Papas é qualquer coisa de verdadeiramente impressionante, uma enorme massa de pedra ocre que parece mais uma fortaleza do que um palácio – tem doze torres, e nem sequer faltam as ameias – e só vagamente aligeirada por alguns elementos góticos de adorno. São cerca de 15 mil metros quadrados de superfície, resultantes da união de dois edifícios, um já existente desde o séc. XIII e o outro criado no séc. XIV, concebidos pelos maiores arquitectos franceses. Uma obra fantástica que realmente me surpreendeu, pois não estava de todo à espera de algo tão grandioso. Não admira por isso que seja um dos monumentos mais visitados de França, com cerca de 650 mil visitantes anuais.

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Ao lado do Palácio, a Catedral de Notre-Dame des Doms concorre com ele em altura – mas apenas nisso. Com origens no séc. XII (um exemplo do estilo românico provençal) sofreu vários desaires ao longo do séculos e consequentes reconstruções, e uma parte do que hoje vemos foi (re)construído já no séc. XIX. A sua característica particular mais chamativa é sem dúvida a imponente estátua da Virgem Maria colocada no cimo da torre sineira, uma peça feita em chumbo e revestida a ouro que pesa “apenas” 4 toneladas e meia.

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A nossa breve visita a Avinhão terminou na Place de l’Horloge, o coração da cidade, onde está instalado o edifício da Câmara e onde acabámos por jantar. E falando de comida, a cozinha provençal é muito rica e variada – sendo uma região mediterrânica, os pratos típicos têm muitos produtos em comum com a nossa cozinha – mas actualmente parece haver nos restaurantes uma apetência exagerada por colocarem natas em tudo, o que francamente acaba por enjoar e prejudicar as verdadeiras receitas originais. Foi o que aconteceu com uns mexilhões e umas conquilhas que comemos em Saintes-Maries de la Mer (bem saborosos, mas que teriam ficado ainda melhores se o molho não tivesse natas) e novamente no nosso jantar em Avinhão, em que a tarte e sobretudo a omelete, feitas com muitos legumes à maneira da Provença, teriam dispensado perfeitamente a presença (em demasiada quantidade) das ditas natas.

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Onde comemos:

Les Terrasses - Chemin de la Fontaine, 84800 Fontaine-de-Vaucluse, France

Le Forum - 20 Place de l'Horloge, 84000 Avignon, France

 

Fiquem por aí para conhecerem o que visitámos no dia seguinte da viagem →

← O que vimos no dia 3 da viagem

 

O roteiro completo da viagem está aqui.

 

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Qui | 16.05.19

Um cheirinho a sul de França - III - Camarga

 

Tenho agora uma confissão a fazer. O motivo principal que me levou a fazer esta viagem pelo sul de França foi conhecer uma região que já há muitos anos povoava o meu imaginário: a Camarga. De facto, completamente por culpa do livro de que já vos falei aqui e de um filme romântico-lamechas que vi na minha adolescência, a Camarga era mais um dos destinos que estavam na minha wishlist mas até agora ainda não tinha visitado.

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Para quem se calhar nunca ouviu falar dela, saibam que a Camarga é uma região com características muito especiais situada no delta do rio Ródano, a sul da cidade de Arles e estendendo-se até ao Mediterrâneo. É uma região fértil e muito cultivada, protegida do mar por um longuíssimo dique construído para o efeito (la digue à la mer) e circundando várias lagoas, e onde também são criados cavalos e touros. É ainda (e sobretudo, actualmente) conhecida por abrigar a maior população de flamingos da Europa.

 

Foi a explorar esta região que dedicámos este terceiro dia da viagem, o mais curto em número de quilómetros percorridos de carro mas mais comprido nos percorridos a pé. Preparem-se para ficarem apaixonados só de verem as fotografias…

 

Dia 3

Arles → Parque Ornitológico de Pont de Gau (Camarga) → Saintes-Maries-de-la-Mer → Aigues-Mortes → Le Grau-du-Roi → Arles (Total: 127 km)

Meia hora é suficiente para ir de Arles a uma das jóias da Camarga, que dá pelo nome de Parque Ornitológico de Pont de Gau. Embora seja possível encontrar “passarada” em toda a região, é nos 60 hectares do Parque Ornitológico que existe a maior concentração de aves por metro quadrado (acho eu, a julgar pela amostra…), e muito especialmente de flamingos. Este parque tem duas lagoas, em volta das quais se desenvolvem dois percursos pedestres devidamente marcados e fáceis de percorrer (completamente planos, tal como toda a Camarga), num total de 7 km.

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O primeiro, com cerca de 2,5 km, é o mais espectacular e mais percorrido, pois é na primeira lagoa que está habitualmente instalada a grande maioria das aves, incluindo a enorme colónia de flamingos, que nalguns pontos convivem pacificamente com uns quantos castores. Além disso, para quem vai com crianças – e é um sítio maravilhoso para visitar com os mais pequenos – torna-se menos cansativo, e é completamente acessível a pessoas com mobilidade reduzida. O percurso maior é mais calmo mas igualmente bonito, embora se vejam muito menos animais, e está dotado de vários abrigos e torres para observação de aves e da extensa e plana paisagem circundante. Além dos flamingos, conseguimos ver facilmente garças, milhafres, guinchos, pernilongos, pernas-verdes e alfaiates, além de patos e cisnes. Têm até um casal de cegonhas, aves que são pouco habituais por estas bandas (ao contrário do nosso país, onde se vêem cada vez mais). O Parque Ornitológico possui ainda um centro de acolhimento e tratamento para aves selvagens feridas que cuida de uma média de 600 aves por ano, cerca de 40% das quais são devolvidas à liberdade após estarem curadas. Para verem todo o Parque com calma, preparem umas boas duas horas. Não se esqueçam do protector solar e do chapéu, se estiver sol aberto. Têm um pequeno snack-bar e uma zona para piqueniques. Como a saída é completamente independente da entrada, podem ficar lá o tempo todo que quiserem, mesmo depois de a bilheteira fechar.

E já chega de conversa, que as fotografias falam por si…

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Saintes-Maries-de-la-Mer, a apenas 5 km do Parque Ornitológico, é outro ponto de visita obrigatória na Camarga. É uma vila de praia muito turística, ampla em extensão mas sem edifícios altos, que mantém um arzinho provinciano e despretensioso extremamente convidativo. Não sei como será no Verão, mas nesta altura do ano gostei do ambiente. As praias são extensas, embora sem grande graça (para mim, pelo menos), e existe um comprido passeio pedonal ao longo da vila e das praias que se prolonga por todo o comprimento do dique.

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A zona comercial da vila, cheia de lojinhas e restaurantes, organiza-se em volta da igreja, construída entre os sécs. IX e XII para desempenhar a dupla função de local de culto religioso e de fortaleza contra os ataques de piratas. Simples tanto no interior como no exterior, é no entanto imponente e visível até 10 km em redor. Dedicada a Nossa Senhora do Mar, no séc. XV foram descobertos no seu interior os supostos corpos das duas santas que dão o nome à localidade, Maria Jacobina e Maria Salomé (a tia de Jesus e a mãe de alguns dos seus discípulos, respectivamente), que terão fugido da Palestina numa barca e aportado àquele lugar, pelo que esta igreja é também um santuário. Como se isso não bastasse, as referidas santas terão chegado ali acompanhadas de Santa Sara, a padroeira do povo cigano, por isso esta igreja aparentemente insuspeita é um lugar de peregrinação muito frequentado durante todo o ano, e especialmente em Maio, Outubro e Dezembro.

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Saintes-Maries tem ainda uma terceira vertente: as corridas de touros que se realizam na sua arena junto ao mar. Não as corridas tradicionais que nós conhecemos, mas sim a corrida camarguesa, um tipo de desporto em que os touros não são picados nem mortos. De facto, nestas corridas o objectivo dos participantes é tentarem retirar do touro os vários “atributos” que o animal ostenta nos cornos ou no cachaço, e para esse efeito apenas podem contar com um pequeno utensílio semelhante a um pente (a que chamam gancho) e com a sua própria agilidade – obviamente para não serem apanhados pelo touro, coisa que nem sempre conseguem. Os heróis destas corridas são na realidade os touros, sempre de raça camarguesa, e a prová-lo estão os títulos atribuídos em cada época destas corridas tanto aos homens (os “cocardiers”) como aos animais, e as esculturas especificamente dedicadas aos touros que revelam a sua excelência ao longo dos anos.

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Um dos produtos explorados na Camarga é o sal, e é junto a uma das maiores salinas actualmente em operação que se ergue a vila muralhada de Aigues-Mortes. Antigo porto mediterrâneo, a localidade está hoje situada a mais de 5 km do mar, devido ao avanço progressivo das terras, continuando no entanto ligada a ele pelo “canal du Rhône à Sète”, que termina em Grau-du-Roi. As muralhas que circundam o centro histórico têm 1650 metros de comprimento e permanecem em excelente estado de conservação. São visitáveis – se chegarem a horas “decentes”, o que não foi o nosso caso – tal como também é possível visitar as enormes salinas que se estendem para sul da vila. No interior das muralhas as ruas parecem ter sido desenhadas a esquadria, e numa pequena praça cheia de esplanadas ergue-se a estátua do rei Louis IX (mais conhecido por São Luís), que daqui partiu para as sétima e oitava Cruzadas. Na igreja de Notre Dame des Sablons, mesmo ao lado, ainda assistimos ao animado final da exibição de um coro gospel, e depois terminámos a visita com gelados e gaufres numa esplanada junto à Torre de Constância.

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A última paragem do dia antes do regresso a Arles foi na localidade costeira de Grau-du-Roi, e foi relativamente breve. Antiga comunidade de pescadores, cresceu em importância e tamanho (por se ter tornado zona balnear) mas não em graça. Tem muito comércio, edifícios de apartamentos, uma marina, uma praça de touros, e até mesmo um Seaquarium, mas nada que nos criasse verdadeiramente vontade de nos demorarmos por ali.

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Tal como desabafei convosco no meu primeiro post sobre esta viagem, a desilusão maior que tive nesta região que já há tantos anos queria conhecer foi não ter conseguido ver cavalos em liberdade (já não falo em selvagens, que esses certamente desapareceram há muito…). Fora isso, a Camarga não me desapontou, e gostava até de ter tido tempo para explorar outras localidades e fazer uma caminhada sobre o dique – uma “empreitada” de fôlego. Mas o dia seguinte estava reservado para outras paragens e é sempre bom deixar qualquer coisa por ver, para ter motivos para voltar.

 

Podem descarregar aqui um livrinho muito bem concebido pela entidade gestora do Parque natural regional da Camarga sobre as aves que encontramos neste parque e onde é possível observá-las, além de outras informações úteis.

 

Onde comemos: 

La Pequelette - 19 Avenue Gilbert Leroy, 13460 Saintes-Maries-de-la-Mer, France

 

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O que vimos no dia 2 da viagem

 

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Qui | 09.05.19

Um cheirinho a sul de França - II - De Béziers a Arles

 

O segundo dia da viagem de carro pelo sudoeste de França foi também bastante preenchido mas essencialmente passado em ambiente de cidade. As cidades desta região francesa têm uma atmosfera muito “ibérica”, que se deve não só à proximidade geográfica de Espanha mas também a um passado cultural com imensas características em comum com as da nossa Península, e cujas marcas perduram até hoje. Essa semelhança cultural é notória na apetência pelas artes taurinas e nos muitos vestígios da civilização romana que ainda existem em bom estado de conservação, mas sobretudo nas pessoas, nos seus hábitos (com excepção das horas das refeições…) e na ambiência das ruas.

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Dia 2

Villeneuve-lès-Béziers → Béziers → Agde → Sète → Nimes → Arles (Total: 176 km)

Depois de um pequeno-almoço fora de série (croissants, brioches e doces caseiros, que bom!), dedicámos a manhã a conhecer Béziers, uma cidade bonita com muitos pontos de interesse e que merece definitivamente ser visitada. Gostei particularmente do Parque dos Poetas e das ruas estreitas com lojas maravilhosamente decoradas, onde apetece entrar e comprar tudo. Nas Allées Paul Riquet havia uma feirinha de antiguidades, e a Catedral de Saint-Nazaire tinha a fachada principal em obras, mas estava aberta e pudemos visitar o interior.

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Sète é uma cidade portuária localizada no estreito que separa o Mediterrâneo do Étang de Thau (a lagoa onde termina o Canal du Midi). Porque tem vários canais, é mais uma daquelas cidades a que chamam “Veneza qualquer coisa” (neste caso, do Sul ou do Languedoc, as versões vão variando). Tem também o segundo maior porto francês, só ultrapassado pelo de Marselha. Aparte isso, tem praias, viveiros de ostras, inúmeros restaurantes e lojas, pontes sobre os canais (claro!), muitas esplanadas e um ambiente de férias de Verão mesmo quando o calor ainda vem um bocado longe.

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A meio da tarde chegámos a Nimes, uma cidade com origens que remontam ao séc. VI a.C. e cujo ex libris é sem dúvida o anfiteatro romano – ou arena, como lhe chamam os franceses, certamente por ali terem lugar corridas de touros. Desta vez, felizmente, o que estava em preparação era uma recriação histórica de jogos da antiguidade, opondo romanos a bárbaros, e foi engraçado assistir aos ensaios durante um bocado (o espectáculo era só uma semana depois). Este anfiteatro elíptico data dos finais do séc. I e é um dos mais bem preservados do mundo. A visão que se tem, do alto dos seus 21 metros de altura, sobre a arena e as bancadas impõe algum respeito, mas tirando isso o monumento é interiormente despido de qualquer interesse (e na minha opinião não vale os 10€ que pedem pelo bilhete para visitar).

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Fomos também espreitar a Maison Carré, que é nada mais, nada menos do que um templo romano que foi convertido em igreja no séc. IV, razão pela qual escapou à destruição massiva da maioria dos templos pagãos no início da era cristã e se mantém razoavelmente bem preservado.

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A título de curiosidade, reparámos que o símbolo de Nimes, que surge por todo o lado na cidade, representa um crocodilo e uma palmeira – o que parece um bocado incongruente, uma vez que por aquelas bandas não existe uma coisa nem outra. Mas tudo tem uma explicação, e este é mais um vestígio da Roma antiga que ficou para a posteridade. Quando Octávio derrotou Cleópatra e Marco António na batalha de Actium, para celebrar o episódio foram cunhadas moedas de bronze que mostravam, numa das faces e simbolizando o Egipto derrotado, um crocodilo e uma palmeira. Sucede que Nemausus (a actual Nimes) parece ter sido uma das cidades onde se cunhava a moeda do Império Romano, o que explica o facto de estas moedas serem encontradas frequentemente, enterradas no solo, durante os séculos que se seguiram. No séc. XVI, a cidade obteve autorização para incorporar o dito símbolo – por quem os habitantes nutriam já um carinho especial – no seu brasão, que se mantém até hoje. O desenho tradicional foi modernizado em 1985 pelo célebre designer francês Philippe Starck, e é esta a versão que encontramos actualmente.

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Arles foi a cidade escolhida para pernoitarmos nos restantes dias de viagem – além de interessante, tem uma localização central em relação aos outros lugares que ainda queríamos visitar, e poupou-nos a trabalheira de andarmos a entrar e sair de hotéis diferentes todos os dias. Ficámos suficientemente perto do centro da cidade para não precisarmos de levar o carro, com a vantagem de ainda termos tido a oportunidade de apreciar um belo pôr-do-sol quando íamos a caminho do jantar. Escolhemos o Oscar, um restaurante com um ambiente ecléctico cujo menu se baseia actualmente na cozinha libanesa, onde a comida é confeccionada à vista de todos, quase em atmosfera de convívio – e onde tudo o que comemos estava simplesmente excelente.

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Onde comemos:

Marina Pub - 11 Quai de la Résistance, 34200 Sète, France

Oscar - La Roquette, 20 Rue des Porcelets, 13200 Arles, France

 

Onde ficámos:

ibis Arles Palais des Congrès - Avenue de la 1ère division Française libre, 13200 Arles, France - https://www.accorhotels.com/pt/city/hoteis-arles-v0159.shtml

 

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Ter | 07.05.19

Um cheirinho a sul de França - I - Carcassonne e o Canal du Midi

 

Acabei de chegar de uma curta viagem de meia dúzia de dias pelo sudoeste de França. Escusado será dizer que venho encantada, com a cabeça mais leve e o cartão da câmara bem cheio de fotografias. Esta viagem levou-me de Toulouse a Arles, parando em vários pontos ao longo do Canal du Midi, na Camarga e na Provença.

 

Como (quase) sempre, o roteiro foi preparado por mim depois de alguma pesquisa e sugestões de quem já conhecia a região. E também como sempre, alguns lugares ficaram um pouco aquém das expectativas, enquanto outros foram uma fantástica surpresa – tanto para mim, como para quem me acompanhou.

 

As maiores surpresas

Entre outros sítios que também surpreenderam pela positiva, para lá de qualquer dúvida há dois que tenho de destacar: Seuil de Naurouze e Fontaine-de-Vaucluse. O primeiro é um local tipo “no meio de nenhures” absolutamente maravilhoso pela tranquilidade e carácter bucólico. É a pedra angular do projecto de construção do Canal du Midi (o mais antigo canal marítimo da Europa que ainda se encontra em funcionamento, projectado por Pierre-Paul Riquet no séc. XVII para unir o Oceano Atlântico ao Mar Mediterrâneo evitando a navegação em águas abertas, e actualmente Património Mundial da UNESCO), o ponto mais elevado do Canal que tem de ser continuamente alimentado pelas águas e também o sítio onde essas águas se dividem, umas correndo para se juntarem ao rio Garonne em Toulouse, as outras dirigindo-se para Sète e desaguando no Mediterrâneo. Quanto a Fontaine-de-Vaucluse, é o sítio onde nasce o rio Sorgue – a maior nascente subterrânea do país, onde as águas parecem surgir do nada, aparecendo aos borbotões sob a altíssima escarpa rochosa que rodeia e quase “encerra” o vale.

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A maior desilusão

Já não se vêem cavalos selvagens na Camarga. Considerada uma das raças de equídeos mais antigas do mundo, o cavalo camarguês – de porte pequeno e pelagem branca quando adulto – já está completamente domesticado e hoje em dia só se avista parado em zonas cercadas ou levando calmamente turistas em passeio.

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O que só não desiludiu porque já estava preparada para a realidade

Definitivamente, Carcassonne. A Cité (cidadela) está transformada numa espécie de parque temático medieval, embora sem carrosséis. Está tudo muito bem (talvez bem demais) reconstruído/recriado, limpo, agradável, a Basílica de Saint-Nazaire é bonita, as lojas e restaurantes adequam-se ao tema, e ainda há breves reminiscências do que terá existido em tempos naquele lugar (como as estruturas de madeira de algumas casas, deixadas à vista); mas está tudo, definitivamente, dedicado ao turismo, e o ambiente torna-se um bocado artificial. Enquanto por lá passeei, a sensação de “déjà vu” não me abandonou – mas isto claro que foi só a minha impressão pessoal. De qualquer modo, vale sempre a pena a visita.

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O ROTEIRO

 

Dia 0

O voo para Toulouse foi ao final da tarde, e com os atrasos do costume no aeroporto de Lisboa (uma hora, devido ao congestionamento no tráfego aéreo, que agora é constante) já chegámos quase às dez da noite, o que apenas nos deu tempo para levantar o carro alugado e chegar ao hotel para dormir.

 

Onde ficámos:

Zenitude Hôtel-Résidences Toulouse Métropole - 1 allée Antoine Osète, 31100 Toulouse https://www.zenitude-hotel-residences.com/fr_FR/residence/toulouse/129

 

Dia 1

Toulouse → Seuil de Naurouze → Castelnaudary → Carcassonne → Homps → Ponte-canal de Repudre → Étang de Montady (Nissan-lez-Ensérune) → Túnel de Malpas → Les 9 Écluses de Fonseranes → Villeneuve-lès-Béziers (Total: 200 km)

Um dia essencialmente dedicado a conhecer alguns dos pontos mais emblemáticos do Canal du Midi, e logo na primeira paragem acertámos na “mouche”: o Seuil de Naurouze é um lugar maravilhoso com vários caminhos para passear, incluindo uma belíssima alameda de plátanos. Como bónus, na Écluse de l’Océan (uma das 64 eclusas/conjuntos de eclusas que existem ao longo dos 240 km do Canal) tivemos a sorte de encontrar um barco que percorria o canal e pudemos ver a eclusa a funcionar – o que não voltou a acontecer até ao fim do dia, uma vez que nesta altura do ano ainda não há muitas embarcações em movimento (o ponto alto é, obviamente, nos meses de Verão, quando dezenas de embarcações são alugadas para férias).

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Castelnaudary é uma vila meio sonolenta mas cheia de charme. Além de várias ruelas onde o tempo parece ter parado e do que resta de um dos vários enormes moinhos de vento que existiram em tempos por ali, existe no Canal uma interessante eclusa quádrupla (as 4 eclusas de Saint-Roch) que permite às embarcações ultrapassarem um desnível de cerca de 10 metros.

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Sobre Carcassonne não há muito a dizer – as fotografias são eloquentes, e já vos falei mais acima das minhas impressões sobre o lugar. Ainda por cima o tempo estava pouco convidativo, com um vento forte e gelado e chuviscos ocasionais, o que não ajudou à vontade de andar a passear na rua. Aproveitámos para almoçar num restaurante simples mas engraçado, onde provámos “flammekueche”, uma especialidade da Alsácia (nordeste de França, estando nós no sudoeste, mas viajar também tem destas idiossincrasias…) a meio caminho entre a pizza e o crepe, mas muito saborosa.

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Perto da localidade de Nissan-lez-Ensérune há duas curiosidades para conhecer. Uma delas, o Étang de Montady, é uma zona anteriormente pantanosa que foi drenada por monges no séc. XIII. Para o efeito, abriram valas radiais a partir de um único ponto central, para o qual a água conflui e se escoa por uma galeria subterrânea através da colina de Malpas, para depois se juntar às águas do Canal (para beneficiar a sua obra, Riquet teve a inteligência de aproveitar o que já estava feito). Os lotes de terreno, agora cultivados, têm por isso uma configuração triangular, facilmente visível de longe, e o local de observação ideal é o Oppidum d’Ensérune, um ponto alto onde é possível visitar as ruínas de uma antiga povoação da época romana.

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Foi precisamente esta obra que inspirou Riquet a construir a “curiosidade” seguinte: o Túnel de Malpas, onde o Canal passa sob a colina de Ensérune. Tem 165 metros de comprimento e a sua arcada ergue-se 8 metros acima da superfície do Canal. Foi escavado em segredo (Riquet tinha muitos detractores…) no tempo recorde de uma semana, através de rocha muito dura.

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Perto da cidade de Béziers, uma última paragem antes do cair da noite. As 9 eclusas de Fonseranes são mais uma grande e invulgar obra de engenharia concebida para o Canal du Midi, e permitem franquear um desnível de 21,5 m em altura ao longo de 312 metros. São também um dos locais mais visitados desta região (cerca de 320 mil visitantes por ano), e após obras recentes estão agora rodeadas de um enorme e bem cuidado parque/jardim, muito minimalista e moderno.

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Uma nota final para o nosso alojamento nesta noite. O La Chamberte é um casarão de província que agora fica no meio de Villeneuve-lès-Béziers, uma vila sossegada por onde também passa o Canal. Bem recuperado, tem quartos amplos e cheios de pormenores que recriam o espírito do lugar, e um pequeno e muito bonito jardim que nos acolhe logo na entrada. Tem ainda a vantagem de funcionar como restaurante (mediante marcação), e posso afiançar-vos que a comida é muitíssimo boa, original e feita com produtos locais ou até mesmo caseiros. Tanto o jantar como o pequeno-almoço foram simplesmente excelentes.

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Onde comemos:

Nattyfood - 12 Rue du Grand Puits, 11000 Carcassonne, France - https://www.facebook.com/contactnattyfood/

 

Onde ficámos e comemos:

La Chamberte - 10 Rue de la Source, 34420 Villeneuve lès Béziers, France - https://www.lachamberte.com/

 

Fiquem por aí para saberem como foi o dia seguinte da viagem →

 

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O roteiro completo da viagem está aqui.

 

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