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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Seg | 29.08.16

Croácia - diário de viagem - IX - Brač e Zlatni Rat ou na praia mais fotografada do país

 

Praias é coisa que não falta na Croácia. Mas há uma que aparece recorrentemente nas listas das melhores praias da Europa: Zlatni Rat. Fomos confirmar se é mesmo verdade.

 

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Brač é uma das 47 ilhas habitadas da Croácia, e a terceira maior das ilhas do Adriático. Famosíssima pela sua pedra calcária, que é utilizada na construção decorativa desde há muitos séculos – e hoje em dia também numa multiplicidade de objectos vendidos como artesanato típico da região – grande parte da popularidade da ilha além-fronteiras deve-se sem sombra de dúvida às centenas e centenas de fotografias que encontramos na net mostrando Zlatni Rat, a praia cujo formato muda ligeiramente consoante as marés.

 

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A ilha fica a menos de 20 km para sul de Split, mas a única maneira de lá chegar é de barco (ferry ou catamarã). A companhia Jadrolinija tem ferries que ligam Split a Supetar, no norte de Brač, várias vezes ao dia (e com maior frequência no Verão). A nossa ideia inicial era levar o carro no ferry, mas entretanto soubemos que havia autocarros regulares entre Supetar e Bol, a localidade junto à praia de Zlatni Rat (que fica na costa sul da ilha), e chegámos à conclusão de que não compensaria pagar o preço do transporte do carro no ferry (cerca de 40€ ida e volta).

 

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O mais difícil foi mesmo arranjar lugar em Split para deixar o carro estacionado todo o dia sem pagar. A sorte do dia da chegada não se repetiu, e demorámos uma boa meia hora a encontrar um sítio decente onde não corrêssemos o risco de levar uma multa ou (pior ainda!) ter o carro rebocado. Depois ainda foi preciso andar um bom bocado até ao porto, e claro que quando chegámos à bilheteira o barco que queríamos apanhar já tinha saído. E aqui fica o meu conselho: se quiserem fazer o mesmo que nós, vão cedo – mas mesmo muito cedo, que as estradas têm sempre bastante trânsito e estacionar não é fácil. Ou então percam o amor ao dinheiro e preparem entre 5 e 10 kunas/hora para deixarem o carro num estacionamento fechado.

 

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Depois de comprados os bilhetes (9€ e pouco por pessoa, ida e volta), aproveitámos para ir tomar uma bebida fresca numa esplanada, levantar dinheiro na ATM e comprar mais umas sanduíches para comer na praia, evitando assim perdermos depois mais tempo com o almoço. E ainda deu para ver, pela primeira vez na minha vida, um hidroavião amarar na baía mesmo em frente à Riva, por entre os barcos a motor e os veleiros. Assim, como se fosse a coisa mais natural deste mundo. Que se calhar até é, por aqueles lados.

 

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A viagem de ferry até Brač é relativamente rápida, 50 minutos que passam num instante observando a cidade de vista de outra perspectiva, a linha da costa que se vai tornando mais distante, e as muitas gaivotas que acompanham o barco durante toda a viagem.

 

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Chegando a Supetar, descobrimos (porque os condutores vêm logo ter connosco) que há uma fila enorme de táxis colectivos à espera dos turistas que vão para Zlatni Rat. Cada um leva 6 ou 7 pessoas, cobram apenas mais 10 kunas do que o preço do autocarro (que só parte de longe a longe) e demoram metade do tempo a fazer o percurso de 30 e poucos quilómetros. Com a vantagem de nos deixarem à entrada da praia, ao passo que o terminal do autocarro é em Bol, e a mais de 1 km de distância. Feitas rapidamente as contas, nem hesitámos.

 

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O acesso à praia faz-se atravessando um enorme pinhal, onde estão espalhadas algumas estruturas de apoio, como restaurantes, casas de banho e até um parque infantil.

 

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Zlatni Rat significa cabo dourado ou corno dourado, no dialecto chacaviano local. A praia tem um formato nitidamente triangular, terminando numa ponta arredondada que vai mudando de formato consoante as marés. É tão bonita quanto as fotografias a retratam, rodeada pelo fantástico azul do Adriático e com areia muito clara. Areia? Bom, a areia não é propriamente areia, mas sim pedrinha miúda, o que quebra um bocadinho o encanto mesmo quando já se sabe de antemão o que nos espera. Falo por mim, claro, que nem as praias com areia mais grossa eu aprecio... Mas esse ligeiro senão é compensado pelo resto.

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E o resto é uma temperatura da água igual à do ar (26 graus, naquele dia), um mar quase transparente de tão límpido e zero ondas. Uma benesse para mim, que adoro as nossas praias mas é raro nelas conseguir molhar mais do que os pés.

 

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Como o dia estava um bocado ventoso, a grande maioria dos banhistas estavam concentrados no lado da praia virado a oeste, um pouco mais abrigado do que o lado oposto. Curiosamente, o nudismo é permitido nesta praia, e sem que haja quaisquer choques: quem dispensa o fato de banho escolhe a zona do lado oeste mais junto ao pinhal, e quem é mais púdico tem todo o resto da praia.

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Para o regresso tínhamos combinado previamente com o “nosso” taxista uma hora ao fim da tarde para nos ir buscar à saída da praia, com antecedência suficiente para apanharmos o ferry de volta a Split. Ainda tivemos tempo de dar uma volta por Supetar, que é uma vilazinha simpática com edifícios antigos bem conservados, esplanadas e lojinhas, e uma marina – um pouco à semelhança de Trogir ou Šibenik, mas muito mais pequena e obviamente com menos interesse em termos de património arquitectónico e histórico.

 

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A viagem de retorno foi igualmente calma e sem história, desta vez no salão interior do ferry, que a temperatura do final de tarde já não pedia ir no deck ao ar livre. Como bónus, a vista do pôr-do-sol no porto de Split, a fechar da melhor forma mais um dia fabuloso.

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É óbvio que entre as centenas de praias da Croácia, há muitas outras igualmente bonitas e agradáveis. Deixo-vos aqui um pequeno vídeo com algumas das melhores. Agora adivinhem qual é a que o autor coloca em primeiro lugar…?

 

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Diário de uma viagem à Croácia - Brač e Zlatni Rat ou na praia mais fotografada do país

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Ter | 16.08.16

Croácia - diário de viagem - VIII - Šibenik ou a cidade resistente

Šibenik é mais uma cidade croata cheia de passado. Apesar de ter muito para ver, a zona histórica está bastante concentrada e por isso é perfeita para uma tarde de passeio.

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Depois de mais uma manhã a apanhar sol e descansar – ou seja, basicamente sem fazermos nada de nada – sacudimos a preguiça e decidimos ir visitar Šibenik, que já estava nos nossos planos. Situada a pouco mais de 40 quilómetros a norte de Seget Donji, a estrada mais bonita para percorrer até Šibenik é a que segue o contorno da costa. Cheia de curvas e contracurvas, o tempo a mais que se demora a chegar ao nosso destino é largamente recompensado pela espantosa paisagem que vamos vendo pela janela do carro, com o verde da vegetação a fundir-se nos azuis do mar.

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No caminho, particularmente interessante é a cidadezinha de Primošten, o núcleo antigo concentrando-se numa minúscula península arredondada ligada ao continente por uma estreita nesga de terra, a igreja destacando-se um pouco mais elevada no centro do casario de telhados cor de tijolo. Dá para perceber tudo isto de longe, quando vamos na estrada – porque lamentavelmente acabámos por não a visitar. Na ânsia de chegarmos a Šibenik, não quisemos estar a parar e decidimos guardar Primošten para o regresso; só que acabámos por voltar já um pouco tarde e por isso optámos por tomar a estrada mais curta, que vai pelo interior e não passa ao pé de Primošten. Uma pena! Mas, como eu costumo dizer, é bom deixar alguma coisa por ver, para assim haver sempre um motivo para voltar.

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Šibenik está situada na recortada baía onde o rio Krka desagua no Adriático, um porto naturalmente protegido e pitoresco. Ligado ao mar pelo Estreito de Santo António, foi este mesmo porto que permitiu o desenvolvimento dos negócios marítimos, do comércio e da prosperidade económica da cidade durante séculos. A história da cidade começa no séc. VII quando foi estabelecida por croatas, ao contrário da maioria das cidades da costa adriática, que foram criadas por outros povos. No séc. XI, O rei croata Petar Krešimir IV chegou a ter aqui a sua corte durante algum tempo.

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Historicamente rica também em termos arquitectónicos, os vestígios dos muitos séculos de vida de Šibenik são imensos e atestam o carácter resistente desta cidade ao longo do tempo, confirmado mais uma vez na recente guerra da independência da Croácia (1991-1995), quando foi fortemente atacada por tropas dos exércitos jugoslavo e sérvio. A batalha que ficou conhecida como a “batalha de Setembro” durou seis dias e os bombardeamentos danificaram muitos edifícios e monumentos – incluindo a cúpula do ex libris da cidade, a Catedral de São Tiago. Apesar de já recuperada desse período difícil, a cidade faz questão de preservar a sua memória. Neste painel afixado no largo em frente à Catedral lê-se: locais do centro histórico protegido de Šibenik danificados pelos ataques sérvios durante a guerra nacional.

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Nos sécs. XV e XVI, Šibenik foi um dos mais importantes expoentes do movimento renascentista na Croácia, e a jóia da cidade é o melhor exemplo arquitectónico dessa corrente: a Catedral de S. Tiago. Demorou mais de cem anos a ser construída, e também ela é um testemunho da persistência, do sacrifício e das crenças de gerações de habitantes de Šibenik. Monumento de carácter original, não só pela mistura dos estilos renascentista e gótico mas sobretudo pela técnica de construção que foi utilizada, semelhante à dos edifícios de madeira: grandes blocos de pedra, pilastras e reforços unidos sem o uso de cimento ou qualquer outro material de ligação. Único também por ter uma fachada dividida em três partes e abóbadas com o formato de meio barril. Por não possuir torre sineira. E pelo seu friso de 72 cabeças humanas esculpidas de forma realista, cada uma delas com um rosto diferente. Faz parte da lista do Património Mundial da Unesco desde o ano 2000.

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Dos vários mestres que dirigiram a construção da Catedral, aquele que mais marca deixou na obra foi Giorgio da Sebenico, ou Juraj Dalmatinac na língua croata. Está representado na estátua que se encontra em frente à Catedral, esculpida por Ivan Meštrović.

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No largo que se abre ao lado da Catedral, a Câmara Municipal de Šibenik é mais um magnífico exemplo da arquitectura renascentista, com as suas harmoniosas colunas, arcos e balaustrada – apesar de estarem meio escondidos pelos chapéus-de-sol de uma ampla esplanada. Embora muito danificado por um raide aéreo durante a Segunda Guerra Mundial, o edifício foi depois totalmente reconstruído de acordo com as plantas originais.

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A pequena igreja gótica de Stª Bárbara, situada mesmo por trás da Catedral, é mais um edifício interessante. A sua construção teve início por volta do ano de 1400. Tem uma original fachada com aberturas irregulares, e no seu interior abriga uma notável colecção de esculturas e quadros dos sécs. XIV a XVII.

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Outra igreja notável é a igreja de S. João, construída no séc. XV no estilo gótico-renascentista. Um dos seus aspectos mais peculiares é a escada erigida na fachada sul, que dá acesso ao coro e está decorada com baixos-relevos. Na torre do relógio, a cúpula foi removida na sequência de um forte terramoto que ocorreu em 1862.

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Grande parte da zona histórica de Šibenik desenvolve-se na encosta que sobe até ao Forte de S. Miguel. Ruas estreitas com escadinhas que passam por baixo de arcadas, um labirinto de pedra que nos envolve completamente e nos protege do calor e do vento que se fazia sentir na zona ribeirinha. O céu é apenas uma fitinha azul que se entrevê aqui e ali. Há pátios floridos por trás de portões de ferro forjado, e mesinhas de esplanada em cada canto. A cidade gosta de receber bem os seus visitantes.

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Sempre a subir, chegamos ao Jardim Mediterrâneo Medieval do Mosteiro de S. Lourenço. Restaurado há poucos anos depois de um século de esquecimento, é um tipo de jardim particularmente raro na Europa. Os caminhos seguem um padrão em cruz com um ponto de água no centro, e existem quatro secções onde crescem plantas e ervas medicinais. Em volta estão plantadas roseiras aromáticas e algumas árvores de fruto. Uma acolhedora esplanada, coberta com um amplo toldo, seduz quem passa a tomar uma bebida fresca na tranquilidade do jardim.

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Algures numa ruela, uma corda esculpida em pedra rodeia uma porta vulgar. No cimo, uma frase em latim: recte faciendo neminem timeas. Nada temas se fizeres o bem. Parece-me ser um belo lema de vida.

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Diário de uma viagem à Croácia - Šibenik ou a cidade resistente