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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Qua | 27.04.16

O Castelo da Lousã

 

Conta a lenda que Peralta, filha de um rei mouro que tinha a sua corte em Conímbriga, se apaixonou por um príncipe cristão de nome Laurus (ou Lausus, noutras versões) que invadiu os domínios de seu pai. Avisados por esse príncipe, o rei e a sua corte conseguiram fugir para um castelo escondido nas serranias, mas Laurus morreu na refrega e a princesa Peralta viveu o resto dos seus dias inconsolável pela morte do seu amado.

 

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O rei mouro chamava-se Arunce, e o rio que corre na sua base tomou o seu nome, que com o tempo se transformou em Arouce. As terras em volta foram buscar a sua toponímia, reza a lenda que a pedido da princesa Peralta, ao príncipe cristão que os salvou; e têm hoje o nome de Lousã.

 

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Lenda ou não, o castelo lá está, a escassos 2 km da vila, praticamente invisível a quem não vá de propósito para o visitar, e tão disfarçado no meio do arvoredo e das encostas da serra que só nos apercebemos dele na última curva do caminho, quando já estamos mesmo a chegar.

 

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As primeiras referências documentais ao Castelo de Arouce (o outro nome por que é conhecido o Castelo da Lousã) datam do séc. X, mas só em 1080 passou a fazer parte efectiva do Condado Portucalense. Brevemente tomado por muçulmanos em 1124, foi reconquistado por D.Teresa e depois da fundação de Portugal usado por D.Mafalda (mulher de D.Afonso Henriques) como castelo de Verão. A localidade recebeu foral em 1151.

 

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Classificado como Monumento Nacional, é no entanto um dos castelos menos divulgados e quiçá visitados do nosso país, talvez por estar encerrado e só ser possível conhecê-lo por dentro mediante pedido à Câmara Municipal. Mas vale bem a pena ir vê-lo, mesmo que só por fora, e por várias razões: pela sua localização e entorno, que são absolutamente fora do vulgar e transmitem uma enorme paz e tranquilidade (das várias vezes que já lá estive, nunca vi o local apinhado de visitantes…); pela pequena mas bem cuidada praia fluvial que tem a seus pés; pelo quase miniatural Santuário de Nossa Srª da Piedade que trepa pela encosta do outro lado do rio; e por a partir dali ser possível fazer percursos pedestres para visitar a serra da Lousã e as suas aldeias.

 

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Tudo bons motivos para ir conhecer o Castelo da Lousã. Que do resto falarei um dia destes…

 

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Sab | 23.04.16

12 conselhos para viagens de carro

 

Viajar de carro é uma das melhores maneiras de passar umas férias inesquecíveis. Dá-nos a liberdade de escolhermos o que queremos visitar, quando e durante quanto tempo, e não são poucas as vezes em que nos permite descobrir locais cheios de encanto e completamente fora dos roteiros turísticos. Mas as surpresas podem não ser sempre agradáveis, e por isso deixo-vos aqui uma dúzia de sugestões a ter em conta antes de uma viagem de carro.

 

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Sempre gostei de viajar de carro (tenho a sorte de não enjoar!) e grande parte das melhores viagens que fiz envolveram, na totalidade ou em parte, o uso de um carro. Se por vezes pode tornar-se cansativo, principalmente se for só uma pessoa a conduzir ou quando as distâncias são muito grandes, as vantagens de uma viagem deste tipo suplantam em muito as desvantagens. Sendo uma opção óbvia quando viajamos no nosso país ou até mesmo se vamos aqui ao lado (e por “ao lado” estou a referir-me a Espanha, pois claro), em terras mais distantes há quem prefira os circuitos organizados (normalmente em autocarro) e nem sequer considere a hipótese de alugar um carro para percorrer o país ou a região que vai visitar.

 

E no entanto, a não ser que se trate de alguma zona instável ou com muita criminalidade, é suficiente um pouco de organização para assegurar que qualquer viagem de carro vai correr “sobre rodas”. As minhas experiências recentes têm-me levado a optar cada vez mais por ir de avião até ao destino escolhido e depois alugar um carro, para poder passear a meu bel-prazer e sem as desagradáveis condicionantes que todos os circuitos turísticos sempre têm. E agora que estou precisamente a preparar o roteiro das minhas próximas férias, lembrei-me de partilhar convosco algumas lições que já aprendi com as minhas viagens de carro.

 

Planear o percurso

Parece óbvio, mas tem muito que se lhe diga, e é a peça mais importante para o sucesso da viagem. Decidir de antemão a rota a seguir, o que se vai visitar, a extensão de viagem em cada dia e os locais de pernoita permite rentabilizar ao máximo o tempo disponível e a deslocação. Mas é preciso ter cuidado para não cair em certas armadilhas, como por exemplo ter mais olhos que barriga e querer ver demasiadas coisas num só dia, ou uma região grande demais para o tempo de que se dispõe, ou ter um calendário tão rígido que não permita qualquer alteração e perder por isso a oportunidade de ver algo de fantástico ou aproveitar um local especialmente cativante. Há por isso que tentar não sobrecarregar o planeamento, e deixar algum espaço para a aventura.

 

Escolher o carro

Na hora de alugar o carro é preciso ponderar bem a escolha. A tendência é ir sempre para o mais barato, mas depois corre-se o risco de não haver espaço suficiente para as malas na bagageira, ou o carro ser demasiado “acatitado” para toda a gente poder ir à vontade. Ou então escolhe-se um carro de cidade e depois a maior parte do percurso acaba por ser feita em estradas não alcatroadas e zonas com muita areia ou muita lama; ou está um calor de rachar e o carro não tem ar condicionado. Enfim, isto são só exemplos de como a escolha precipitada do tipo de veículo pode estragar ou pelo menos diminuir o gozo da viagem.

 

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Não exagerar na bagagem

Convém que as malas e sacos caibam todos na bagageira. Mesmo nos sítios mais seguros, quando se pára em qualquer lado para ir dar uma volta convém que o carro dê a impressão de não ter nada lá dentro, para evitar tentações de assalto. Além disso, um carro muito pesado gasta mais combustível, e carregar um montão de malas do carro para o alojamento e vice-versa de cada vez que se fica num sítio diferente também não é lá muito agradável – até porque por vezes não é possível estacionar mesmo “à porta”.

 

Prever surpresas

Há sempre surpresas. Na sua maioria serão agradáveis: uma cidade onde apetece ficar mais um dia, uma localidade em festa, a visita a um local interessante que foi aconselhado por alguém que se conheceu entretanto… um mar de possibilidades. Mas também pode haver outras que se dispensariam e vão transtornar os planos feitos, como uma estrada cortada pelo mau tempo, uma fila de trânsito interminável, ou até uma avaria. É bom tentar obter algumas informações sobre o percurso junto dos habitantes locais – o recepcionista do hotel, o dono do café… – antes de iniciar a jornada. Cinco ou dez minutos de conversa podem poupar várias horas de viagem.

 

Alternar o ritmo

Sair de manhã, andar o dia quase todo no carro, parar para visitar um local e dormir, repetir o mesmo no dia a seguir, e no outro, e no outro ainda… às tantas já não se aguenta de cansaço e a viagem torna-se aborrecida. Para evitar a monotonia, há que tentar variar a duração dos percursos de carro e alterná-los com paragens suficientes em tempo e variedade. Uma boa opção é escolher uma localidade como base para alojamento durante duas ou três noites (ou até mais) e a partir daí visitar os lugares de interesse que fiquem a distâncias razoáveis de carro. Ou aproveitar um dia para fazer uma caminhada, visitar um parque de atracções ou simplesmente descansar num hotel ou apartamento que se revele particularmente agradável.

 

Reservar o alojamento durante a viagem

Se for possível – porque na época alta e em zonas de muito turismo isso se torna impraticável – o ideal será marcar o alojamento apenas de véspera ou quando muito com dois dias de antecedência, precisamente para haver mais flexibilidade de movimentos. Quando já tenho definidos o roteiro e os locais que parecem mais indicados para pernoitar, costumo dar uma vista de olhos ao Booking ou ao Airbnb e coloco os sítios que mais me agradam numa lista pessoal em cada site. Depois, durante a viagem, basta-me ir consultando as disponibilidades e o preço de cada sítio e marcar online, normalmente na véspera. Claro que isto nem sempre é possível, mas se tiver de reservar algum alojamento muito tempo antes dou preferência àqueles que se pagam directamente no local, ou então cujo pagamento é reembolsável se a reserva for cancelada até 24 ou 48 horas antes da data marcada.

 

Pensar em entretenimento

Em percursos com muitos quilómetros seguidos, e sobretudo quando se viaja com crianças ou adolescentes, há que evitar o aborrecimento. É bom levar um jogo, um livro, eventualmente um leitor de DVD portátil ou um tablet, para que eles possam entreter-se de vez em quando. Adivinhas, jogos de palavras e contar histórias também são boas opções para distrair os mais pequenos. Ou cantar, para quem gosta e não desafina demasiado.

 

Ouvir música

E a propósito de cantar, a música também é importante numa viagem. A rádio é sempre uma hipótese, mas na maioria das vezes não vamos perceber nada do que dizem, e a música pode não ser aquela que mais apreciamos. A solução será levar alguns CDs, ou uma pen com a nossa playlist preferida – ou em alternativa ouvir o que temos gravado no telemóvel (mas neste caso é melhor levar uma bateria portátil e tê-la sempre carregada, caso contrário não haverá música por muito tempo).

 

Levar comida e bebida

Indispensável é, pelo menos, levar sempre água para ir bebendo no carro, mesmo que não esteja calor. Alguns snacks também vão dar jeito se a fome apertar e não houver nenhum sítio para parar nas proximidades. E para aqueles dias em que o tempo é curto para grandes refeições e tempos de espera em restaurantes, o melhor mesmo é levar algumas sandes, fruta, sumos ou iogurtes líquidos. Um pequeno saco térmico (que se espalma facilmente dentro de uma mala) será suficiente para manter frescos os alimentos mais delicados; e para a frescura se aguentar por mais algum tempo, o truque é colocar o saco durante a noite anterior dentro do minibar ou do frigorífico, e levá-lo na zona menos quente do carro.

 

Não esquecer mapas, gps e etc.

Tudo faz falta e na dúvida é preferível levar informação a mais do que a menos. Alugar um gps pode ser uma boa opção, se não for demasiado caro e a agência o disponibilizar numa língua que se entenda. Mas será sempre necessário levar um bom mapa, e preferencialmente os percursos diários já impressos e com todas as informações necessárias. O Google Maps também é uma ferramenta excelente, mas convém carregar previamente o percurso num local onde haja wifi, porque o sistema pode por vezes não conseguir aceder ao sinal de satélite.

 

Vigiar o depósito

Sei que é um bocado redundante estar a falar nisto, mas há que ter o cuidado de manter o depósito sempre com bastante gasolina. Nem todos os países são como o nosso, e por vezes há zonas em que se fazem muitos quilómetros sem encontrar uma bomba de combustível. Aconteceu-me isso o ano passado, e vi o nível do gasóleo chegar à reserva antes de finalmente aparecer uma bomba no caminho. Por isso o melhor é não facilitar, e de preferência saber de antemão os locais no percurso onde será possível abastecer.

 

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Respeitar o orçamento

Tal como já expliquei neste post, as viagens que faço têm um orçamento limitado, e penso que isto sucede com quase toda a gente. Mesmo pesquisando tudo o que é necessário com antecedência e tendo uma ideia aproximada do total das despesas previstas, a liberdade de uma viagem de carro faz com que seja mais fácil cair na tentação de comprar sempre mais uma coisinha, ou visitar mais um sítio pago, ou fazer mais alguma actividade que não estava no programa. Quando no fim se fazem as contas, descobre-se que os gastos excederam o previsto, e essa sensação nunca é agradável. Por isso é bom ir tomando nota de todas as despesas, mesmo aquelas que são pagas com o cartão de crédito, para ter uma ideia concreta do que se vai gastando e travar os ímpetos consumistas quando necessário.

 

Têm mais dicas úteis para quem viaja de carro? Então contem lá…

 

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Qui | 21.04.16

Croácia - Diário de viagem - V - Ao encontro da Dalmácia ou uma tarde em Split

 

Na costa leste do mar Adriático, a Dalmácia estende-se desde a ilha de Pag, na Croácia, até à baía de Kotor no Montenegro. Com uma costa muito recortada e inúmeras ilhas, água límpida e um clima temperado, atributos geográficos a que se junta uma riqueza histórico-cultural invejável, é provavelmente a região mais bonita da Croácia.

 

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Dia 4 da viagem. Foi com frio e ameaça de chuva que deixámos a região dos lagos de Plitvice. São cerca de 60 km até entrar na A1 pelo nó de Gornja Ploča, trajecto que se cumpre em bastante menos de uma hora, que a estrada é boa. A auto-estrada A1 Liga Zagreb a Split, seguindo depois para sul até perto de Ploče, onde curva para o interior até à fronteira com a Bósnia-Herzegovina. Está planeado o seu prolongamento até Dubrovnik, mas a conclusão ainda não está à vista.

 

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Assim que saímos do túnel de Sveti Rok – um túnel com quase 6 km de comprimento que passa sob a montanha de Velebit – parecia que tínhamos mudado de país. O sol já se deixava ver entre as nuvens altas, a temperatura exterior começou a subir e passados poucos quilómetros a paisagem também mudou, os picos montanhosos substituídos pelo azul e verde do mar e das ilhas.

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A saída de acesso a Split faz-se pela portagem de Dugopolje e depois são mais cerca de 13 km até chegar à rotunda de acesso à cidade. Os arredores de Split são desprovidos de qualquer encanto, o que só é surpreendente até certo ponto se pensarmos que estamos na segunda maior cidade do país. Aqui o trânsito já é muito, mas as vias são largas e a sinalização é boa. Entra-se em Split por uma espécie de via rápida com semáforos, que se transforma em avenida larga quando seguimos as indicações para o centro da cidade.

 

Ao todo já lá iam 3 horas de viagem desde a saída de Plitvice, por isso a nossa primeira preocupação foi arranjar um local para deixar o carro e partirmos daí à descoberta da cidade. Em Split há muitos parques de estacionamento mas todos são pagos, o que se torna financeiramente pesado ao fim de várias horas. Talvez pela sorte de ser a primeira visita, foi suficiente virarmos duas esquinas para conseguirmos encontrar um “buraquinho” onde estacionar, num beco sossegado e com sombra, e muito perto do terminal dos autocarros, um excelente ponto de referência para não nos perdermos.

 

Guia na mão (os mapas conseguimos depois, no posto de turismo), bastou seguir para sul durante dez ou quinze minutos para encontrarmos o nosso destino: o Palácio de Diocleciano. Ao contrário do que o nome parece indicar, não é (actualmente) um edifício fechado mas sim um bairro dentro de muralhas. Com uma área de 30.000 m2 e remontando ao séc. IV, foi aqui que o imperador romano Diocleciano viveu a última dezena de anos da sua vida depois de abdicar do poder. Ao longo dos séculos o Palácio teve várias finalidades e no seu interior cresceu uma pequena cidade, que no início do séc. XX abrigava cerca de 3200 habitantes em 278 casas. Hoje é sobretudo uma área de compras e lazer, agradável e fervilhante de vida, é certo, mas completamente virada para o turismo.

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A entrada de quem vem do lado norte faz-se pela Porta Áurea, antes da qual existe um pequeno parque onde a figura dominante é a da estátua de Gregório de Nin (da autoria do escultor croata Ivan Meštrović), um bispo que viveu no séc. X e ficou famoso por se ter oposto ao Papa e introduzido a língua nacional nos ofícios religiosos. Consta que dá sorte esfregar o dedo grande do pé da estátua, e este é o motivo da diferente tonalidade que aquela parte do corpo da dita cuja apresenta por comparação com o resto. Uma crença que eu não posso comprovar ou desacreditar, pela simples razão de que não sou nada supersticiosa e portanto dispensei o ritual.

 

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Atendendo a que já passava bem das duas da tarde e os nossos estômagos roncavam de fome, a primeira coisa que fizemos assim que entrámos no Palácio foi… descobrir um sítio agradável onde pudéssemos comer. E olhem que não foi fácil. Não pela falta de lugar onde, mas sim precisamente pelo contrário: a oferta é imensa e para todos os gostos, há restaurantes e cafés e bares ao virar de cada esquina e às vezes porta sim, porta sim, e por isso a dificuldade está na escolha. Depois de umas voltas pelas ruelas estreitas do bairro, num pátio descoberto e sossegado, longe da confusão das ruas principais, encontrámos o Mazzgoon (Bajamontijeva ul. 1, 21000 Split) e por ali ficámos a aproveitar a frescura oferecida pelas altas paredes de pedra e tijolo semi-rebocado, onde várias portas de metal estão decoradas com pinturas alusivas à história de Split. Um mimo.

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E um mimo estava também a comida, desde a salada até às massas, terminando na sobremesa deliciosa e no café, tudo acompanhado de um atendimento simpático, prestável e rápido. Têm website  e página no Facebook, caso queiram saber mais pormenores. E já agora leiam este artigo, que fala também de outros restaurantes que parecem ser igualmente recomendáveis.

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Apetites devidamente saciados, pés ao caminho para irmos finalmente apreciar em condições o motivo da nossa visita.

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Os pontos principais a visitar no Palácio não são muitos e vêem-se facilmente num simples passeio sem rumo definido. Depois da Porta Áurea (1) e seguindo sempre em frente chega-se ao Peristilo (2), um grande pátio rectangular rodeado de arcadas, com a Catedral (4) e a Torre do Sino (5) do lado esquerdo, o Vestíbulo (3) ao fundo, e o acesso ao Templo de Júpiter (6) do lado direito.

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Mapa do Palácio de Diocleciano, com os principais pontos da visita assinalados a vermelho

 

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A Catedral foi em tempos o mausoléu de Diocleciano, e a visita é paga. Nós aproveitámos e comprámos um bilhete que incluía também a visita à cripta e ao baptistério (que resultou da conversão do Templo de Júpiter). Existe ainda um museu com o Tesouro da Catedral, mas essa visita nós dispensámos.

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Se pensarmos que Diocleciano foi um dos mais sangrentos perseguidores dos cristãos no império romano, é irónico que o seu mausoléu tenha sido convertido precisamente no mais importante símbolo católico de Split, a Catedral de São Domnius. E mais irónico ainda é o facto de São Domnius ter sido um bispo do séc. III martirizado e decapitado por ordem de… exactamente, de Diocleciano. Inimigos religiosos em vida, unidos na morte por um mesmo local evocativo. De dimensões algo reduzidas e com planta octogonal, a Catedral tem uma atmosfera e uma originalidade muito próprias, com a sua cúpula abobadada, as suas colunas de granito vermelho com capitéis coríntios, frisos ricamente decorados, pormenores do gótico tardio convivendo amenamente com outros da época barroca e, como não podia deixar de ser, muito, muito dourado.

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Por baixo da Catedral, a cripta não é mais do que uma espécie de cave húmida, transformada entretanto em capela, com nichos abobadados nas paredes e ao centro um altar com uma imagem de Santa Lúcia.

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Mas aquilo que é verdadeiramente imperdível é a subida à Torre do Sino, mesmo ao lado da entrada para a Catedral. Também é necessário pagar (2€) mas vale bem o dinheiro pelos 360 graus de fabulosa vista que é possível observar do cimo dos 57 metros da torre. O mar a sul, com o porto e a marina, o casario da parte mais antiga da cidade, e ao longe os edifícios incaracterísticos da área mais recente. A caminho do topo, subindo por uma escadaria íngreme e estreita, passamos pelos sinos (que são vários, e não apenas um). Esta Torre, actualmente o emblema de Split, é bem mais recente do que o resto do Palácio, pois só foi construída no séc. XII. Na base, a entrada está “guardada” por dois leões esculpidos em pedra.

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Do outro lado do Peristilo acede-se ao Templo de Júpiter por uma ruazinha estreita. Lá dentro, por baixo de uma abóbada excepcionalmente bem preservada, existem apenas uma pia baptismal ornamentada com altos-relevos medievais e uma altíssima escultura representando S. João Baptista, também da autoria de Ivan Meštrović.

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O Vestíbulo é uma construção circular ampla com o tecto semi-esférico parcialmente aberto, por baixo do qual um grupo de tocadores de músicas tradicionais fazia a sua apresentação, numa tentativa de venderem alguns CDs à enxurrada de turistas que constantemente visitam o local (e de que nós fizemos parte). Quando falo em enxurrada não estou a exagerar, que no ano passado a Croácia recebeu mais de 14 milhões de visitantes e o Palácio de Diocleciano, sendo um dos sete locais do país que fazem parte do Património Mundial da UNESCO, é ponto obrigatório de visita para quem vem para estes lados.

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Ao longo do lado sul das muralhas do Palácio estende-se a Riva (7), uma larga e extensa alameda pedonal junto ao mar que termina, no lado oeste, no Mosteiro franciscano e no Palácio Bajamonti-Dešković. Altas palmeiras, bancos estrategicamente virados para o mar, esplanadas, lojas e vendedores ambulantes, de tudo um pouco se encontra neste “passeio público” cheio de gente e de animação.

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Quase no extremo leste da Riva uma abertura na muralha leva-nos à passagem inferior que atravessa as caves do Palácio (8), actualmente ocupadas por balcões e vitrinas que expõem um sem número de produtos para venda, e de onde emergimos para o exterior por uma escadaria.

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Depois de vaguearmos mais um bocado pelos pátios, ruínas e ruelas do bairro, encetámos o caminho de regresso pela porta por onde tínhamos entrado. Cá fora, dois rapazes altos como torres vestidos de soldados romanos encenavam lutas e tentam atrair turistas para se deixarem fotografar com eles, em troca da esperada compensação monetária – que no entanto alguns se recusam a pagar.

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O sol já se punha quando voltámos ao carro para nos dirigirmos a Trogir, onde na véspera (… abençoadas novas tecnologias!) tínhamos reservado alojamento para os dias seguintes. A menos de 30 km de Split, Trogir pareceu-nos uma opção mais calma para usarmos como base na nossa visita à região, e suficientemente perto de tudo – além de ser uma cidade bonita. A opção que fizemos revelou-se a mais acertada (e de que maneira!), como vão perceber pelos próximos posts.

 

A estrada tem muito movimento e uma parte estava em obras, por isso o percurso demorou mais do que esperávamos. Mas o mais complicado foi – para não variar – encontrar o nosso alojamento, que na verdade não se situava mesmo em Trogir mas sim 3 ou 4 km mais à frente, em Seget Donji, uma zona balnear que se estende para oeste ao longo da costa. Depois de várias voltas para trás e para a frente, subindo e descendo por estradinhas estreitas e mal iluminadas – entretanto já era noite cerrada – e de uma escusada incursão até à marina, de termos passado lá bem perto (obviamente sem sabermos) por duas vezes e de termos perguntado a várias pessoas, lá conseguimos encontrar alguém que nos indicou a casa certa.

 

Os pormenores do lugar vão ficar para depois, mas só vos digo que tanta trabalheira acabou por ser bem recompensada.

 

Por recomendação da dona da casa, e depois de largarmos as malas, saímos para jantar no Zule, a uma curta de distância de 100 metros do apartamento. É um típico restaurante de praia, despretensioso e com uma grande sala semi-aberta para o exterior, tecto forrado a palhinha e plantas trepadeiras a alegrarem o ambiente. Escolhemos um prato típico dos Balcãs, de seu nome Ćevapčići (ou Ćevapi), carne picada e temperada, enrolada em forma de salsicha e depois grelhada, que acompanham com batata frita, uma salada ligeira e molho de tomate. O serviço é muito simpático e informal, mas bastante eficiente, e os preços não assustam.

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Para terminar a noite em beleza e desmoer o jantar, um curto passeio junto à praia, com as luzes da ilha de Čiovo a verem-se ao longe.

 

A surpresa aguardava-nos no dia seguinte, mas nós ainda não sabíamos.

 

 

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Diário de uma viagem à Croácia - Ao encontro da Dalmácia ou uma tarde em Split

 

Ter | 12.04.16

Croácia - Diário de viagem - IV - Os Lagos de Plitvice ou como passar um dia no paraíso

 

Se outras razões não houvesse, o Parque Nacional dos Lagos de Plitvice seria, por si só, motivo suficiente para uma viagem à Croácia. Duvidam? Então venham comigo…

 

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Imaginem uma área de floresta densa com quase 300 km2, em zona montanhosa, onde vários pequenos rios e ribeiros confluem para formar uma bacia de 8 quilómetros de comprimento com 16 lagos que se sucedem uns aos outros, separados por cascatas. Imaginem que as águas desses lagos são cristalinas, têm cores que vão do cinzento ao azul e verde em todos os tons que possam idealizar e que vão mudando consoante a posição dos raios solares ou os tipos e a quantidade de minerais que nelas se acumulam. Imaginem borboletas e pássaros, peixes e patos, vegetação aquática e zonas de bosque com árvores altíssimas. Imaginem 18 quilómetros de passadiços de madeira e trilhos de terra batida que serpenteiam em volta dos lagos e sobre as águas, cada volta do caminho oferecendo-nos um quadro diferente, cenários de beleza natural sucedendo-se um após o outro. Eu sei, é difícil de imaginar. E nem as melhores fotografias conseguem verdadeiramente fazer justiça à maravilha que é o Parque dos Lagos de Plitvice (ou Plitvička Jezera, na língua original).

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Quando comecei a preparar o roteiro para esta viagem tinha em mente dois locais que eu não abdicaria de visitar, dois locais que eram a força motriz do meu desejo de visitar a Croácia, e em função dos quais eu planeei tudo o resto; um deles era precisamente o Parque de Plitvice. Criado em 1949 e tornado Património Mundial da UNESCO em 1979, este Parque é famoso em todo o mundo e recebe anualmente mais de um milhão de visitantes.

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Com expectativas tão altas, a realidade até poderia ter-me decepcionado, como por vezes acontece. Mas – acreditem! – não foi o caso; pelo contrário, o Parque de Plitvice ultrapassou em muito o que eu esperava.

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O Parque abre cedo (às 8 da manhã), mas o dia estava cinzento e algo frio, por isso só chegámos por volta das 10 horas à Entrada 2, a mais próxima do nosso alojamento. O parque de estacionamento – que é pago, mas não é muito caro (cerca de 1€/hora) – já estava bastante cheio, mas ainda conseguimos arranjar um lugar não muito longe e não muito mau, entre árvores e outros carros estacionados um pouco erraticamente. Depois, fila para comprar os bilhetes (cerca de 15€/pessoa, mas os preços variam consoante a altura do ano), que tiveram de ser pagos em dinheiro porque o multibanco não estava a funcionar. Pequeno-almoço rápido num dos bistros da entrada, e ala que já eram dez e meia e tínhamos muito que andar.

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Explorar o Parque demora cerca de seis horas se se fizer todo o percurso a pé, e menos duas se se optar por fazer alguns trajectos de barco ou de autocarro. Há ainda que contar com tempo para comer, ir à casa-de-banho (preparem-se para filas…), ou comprar as lembranças do costume. Apesar da grande extensão dos caminhos e da inclinação do terreno nalguns pontos, é um passeio fácil e não demasiado cansativo, acessível a toda a gente. Há muitas famílias com filhos pequenos e até carrinhos de bebé, pessoas com mobilidade reduzida, e os cães são permitidos, desde que andem com trela. É proibido tomar banho nos lagos, e acredito que no Verão, quando está calor, essa proibição seja uma tortura. Mas no nosso caso não houve qualquer tentação, que o dia estava feioso e frio – e isso acabou por ser uma vantagem, pois caminhar já é uma actividade que aquece bastante o corpo.

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Os lagos estão divididos em dois grupos, 12 superiores (Gornja jezera) e 4 inferiores (Donja jezera), e os seus nomes derivam quase todos de acontecimentos históricos verídicos ou de lendas. O desnível entre o primeiro (Prošćansko jezero) e o último (Novakovića brod) – que se situa cerca de 500 metros acima do nível do mar – é de 150 metros.

 

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Plitvice_Lakes_System By Raffaello - Own work, CC BY-SA 3.0,

 

Perto da Entrada 2, nas margens do Kozjak, o maior dos lagos, há um embarcadouro onde é possível alugar barcos a remos para passear no lago (cerca de 7,5€/hora), uma opção que deve ser bem agradável quando o tempo está bom.

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Mas nós preferimos apanhar um barco que estava prestes a partir para a outra margem do Kozjak e iniciar aí o nosso percurso para sul em volta dos lagos superiores.

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É num destes lagos, o Galovac, que se encontra a segunda maior queda de água do Parque, a Galovački buk, onde a água cai de uma altura de 25 metros.

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De regresso ao embarcadouro, apanhámos outro barco que nos levou até ao extremo norte do Kozjac, um dos pontos de acesso aos trilhos que percorrem os lagos inferiores. No local onde o barco pára existe uma grande área relvada e rodeada de abetos onde colocaram mesas e bancos de madeira para os visitantes poderem descansar e comer. Há vários snack-bars em volta, casas-de-banho e uma loja com “souvenirs” do Parque.

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Os lagos inferiores, embora em menor número, são a zona mais fotografada e quiçá fotogénica do Parque de Plitvice.

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É aqui que um longo passadiço de madeira cruza os lagos junto à cascata de Velike, passando depois junto à entrada da caverna de Šupljara – que tem umas escadas interiores em pedra que nos levam até à superfície, 80 metros acima, desembocando num miradouro de onde se tem a vista mais fabulosa sobre os lagos inferiores. No entanto, para gozar esta vista não é necessário subir pelo interior da caverna, pois o caminho que rodeia o lago passa precisamente junto a esse miradouro (mas só depois de percorridas bastantes centenas de metros).

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É também no extremo dos lagos inferiores que se encontra a queda de água mais alta de toda a Croácia, de seu nome Veliki Slap (que significa precisamente “grande queda de água”). Aqui, o rio Plitvice cai de uns impressionantes 78 metros de altura e junta-se à massa de água que vem dos lagos, para formar o rio Korana.

 

 

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Depois de cruzarmos o rio, o caminho sobe em ziguezague, oferecendo excelentes oportunidades para se tirarem belíssimas fotos dos lagos vistos de cima.

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Ao chegarmos à Entrada 1 o cansaço já fazia das suas e decidimos apanhar o autocarro – que é na verdade uma espécie de pequeno comboio eléctrico com rodas – de regresso até à Entrada 2 do Parque. (Nota: para quem não gostar de subidas, o percurso em volta dos lagos inferiores pode ser feito no sentido inverso, partindo de autocarro da Entrada 2 e apanhando o barco de regresso no final.)

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As cerca de seis horas que estivemos no Parque passaram a voar, e confesso que foi com alguma relutância que saímos, sabendo já que aquele pedaço de paraíso na Terra nos ia deixar muitas saudades. Mas o dia estava a ficar escuro e a chuva, que milagrosamente se tinha mantido longe durante todo o nosso passeio, ameaçava começar a cair.

 

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E realmente não tardou. Caía com intensidade quando saímos à noite para jantar no restaurante Poljana, que fica situado precisamente na estrada que dá acesso às entradas do Parque. A sala é grande mas tem um ambiente acolhedor, com uma enorme lareira aberta no centro. Atmosfera calma, com pouco ruído, e um serviço simpático e rápido. Não sendo o menu muito imaginativo, tinha variedade suficiente e a comida estava boa.

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Há dias assim: perfeitos. Este foi um deles. Não é fácil colocar em palavras todas as sensações que este e outros locais privilegiados da Natureza me provocam; os ruídos da água e dos pássaros, os cheiros da vegetação e da terra húmida, as infinitas tonalidades de cor que os meus olhos vão filmando numa tentativa vã de reter cada cenário, cada pormenor que mais tarde tentarei relembrar, recriar, para imaginar que estou de regresso a um local que me fez feliz.

 

E a viagem estava ainda no princípio.

 

 

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Diário de uma viagem à Croácia -  Os Lagos de Plitvice ou como passar um dia no paraíso

 

Ter | 05.04.16

Os Passadiços do Paiva

O rio Paiva era até há pouco tempo mais conhecido por ser um rio excelente para a prática do rafting ou da canoagem em águas bravas. Mas no ano passado passou a estar na ribalta por outro motivo: a abertura dos Passadiços do Paiva.

 

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Os Passadiços são uma obra de engenharia excepcional. Construídos em madeira, estendem-se ao longo de mais de 8 km pela margem esquerda do rio Paiva, encontrando-se uma das extremidades na praia fluvial do Areinho e a outra na localidade de Espiunca, ambas no concelho de Arouca.

 

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Depois do grande incêndio que assolou a região em Setembro do ano passado e destruiu cerca de 600 metros do percurso, os Passadiços reabriram ao público em Fevereiro deste ano, e passaram a ser pagos. O bilhete custa apenas 1€, valor quase simbólico, e pode ser comprado online no site oficial (onde de resto também se encontram todas as informações necessárias sobre o percurso). É ainda possível adquirir bilhetes na loja interactiva de turismo de Arouca ou na praia fluvial do Areinho, mas esta opção está sujeita à disponibilidade diária de visitas (3500 pessoas no máximo) e o valor do ingresso terá um custo acrescido.

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Em cada extremo dos Passadiços existe um parque de estacionamento (nenhum deles muito grande). Também há acesso a instalações sanitárias e locais onde comer, principalmente em Espiunca. Durante o percurso não há fontes de água nem qualquer outro tipo de apoio, por isso é bom que se previnam e abasteçam antes de começar, sobretudo se estiver muito calor.

 

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Mas vamos ao percurso. Sendo na sua maioria pouco exigente fisicamente, na extremidade do lado da praia do Areinho, junto à ponte de Alvarenga, existe uma enorme elevação que obriga a uma subida difícil, tanto num sentido como no outro. No entanto, a subida é bastante maior quando se faz o percurso no sentido Espiunca-Areinho (450 degraus, contra “apenas” 310 no sentido inverso), razão pela qual se aconselha quem só vai fazer o percurso num sentido a começá-lo precisamente no Areinho. No entanto, se a intenção for percorrer os Passadiços nos dois sentidos, então a opção inversa será a mais acertada, para não sermos obrigados a enfrentar a subida mais íngreme quase no final, quando o corpo já grita por descanso. Por todos estes motivos, o percurso não é aconselhável a quem não esteja em boa forma física ou tenha dificuldades de mobilidade, ou vá com crianças muito pequenas. Se mesmo assim quiserem passear pelos Passadiços sem terem de enfrentar as partes mais duras, a minha sugestão é que comecem na Espiunca e vão no máximo até à praia do Vau, que fica sensivelmente a 4 km, voltando depois para trás. Para terem uma ideia mais aproximada do percurso e das suas dificuldades, sigam este link.

 

 

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O quilómetro 0 está assinalado ao pé do estacionamento da praia do Areinho, e umas centenas de metros mais à frente encontramos a estrada que passa sobre a ponte romana de Alvarenga, uma ponte do séc. II constituída por um só arco, com 30 metros de altura e 20 de largura no seu vão. É aqui que têm início os 310 degraus que permitem ascender, quase de uma assentada, a mais 100 metros de altura, onde chegamos obviamente já de língua de fora. Mas o cansaço é compensado pela vista soberba que se tem lá do alto, com a estrada cinzenta e sinuosa lá em baixo e o rio a correr no meio.

 

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O percurso continua depois num pequeno troço de terra batida, também a subir, até chegarmos ao posto de controlo dos bilhetes. A paragem seguinte é no miradouro da Cascata das Aguieiras, mas aqui o que nos faz perder o fôlego é a paisagem que nos rodeia quase completamente, com as águas brancas da cascata a escorrerem em socalcos pela encosta rochosa do outro lado do rio.

 

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Começa aqui a descida mais extensa, com o passadiço a ziguezaguear pela vertente abaixo, degrau após degrau. Cruzamo-nos com quem está quase a terminar o percurso no sentido inverso, na sua maioria pessoas com ar de quem não está a achar fácil a experiência. O passadiço de madeira continua depois a estender-se pela encosta, um pouco acima do rio, até se perder de vista numa curva do caminho, lá muito à frente.

 

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A partir daqui o caminho é substancialmente a direito e fácil de percorrer. Se no ano passado, devido à vegetação densa, grande parte do percurso do rio não era visível a partir dos Passadiços, este ano a situação é bem diferente, pois uma parte da vegetação foi queimada no incêndio – e as marcas estão bem visíveis nalguns pontos, apesar de alguma já ter crescido entretanto e estar tudo muito verde devido às chuvas abundantes que têm caído.

 

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A praia do Vau, mais ou menos a meio do caminho, é outro dos pontos de paragem obrigatória, e a sua ponte suspensa dá ao local um charme irresistível. Percorrê-la é ter a sensação de estar num filme de aventuras, e a perspectiva que se nos oferece do rio é totalmente diferente. Quando está calor, este é o sítio ideal para tomar um belo banho naquele que é considerado um dos rios mais limpos da Europa.

 

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Mais à frente, percorridos já cerca de 6,5 km, o miradouro sobre o Salto do Paiva é local privilegiado para observar aquele que é considerado o ponto mais perigoso do rio – e certamente também o mais impressionante, com a água revolta e branca de espuma precipitando-se entre as rochas negras.

 

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Espiunca, no extremo norte do percurso, também tem uma praia fluvial e várias infra-estruturas de apoio a quem visita a região. Se tiverem optado por deixar o carro no Areinho e não quiserem fazer o caminho inverso, ou já não tiverem tempo (os Passadiços encerram às 17h na época baixa e às 20h de Abril a Outubro, e o tempo total para percorrê-los, sem paragens, é no mínimo 2 horas e meia), é possível apanhar um táxi (na altura em que escrevo este post, o preço que cobram ronda os 15€) ou então um autocarro da Transdev que liga de hora a hora Espiunca a Arouca, passando pelo Areinho (entre Outubro e Maio, apenas aos fins-de-semana), e cujo bilhete custa 2€.

 

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O passeio pela região pode ainda ser completado com uma visita a Arouca e ao seu mosteiro, monumento nacional com origens no séc. X, ainda antes da fundação de Portugal.

 

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E depois de tanto exercício físico, para repor a energia gasta nada melhor do que uma boa refeição. A carne de vaca arouquesa é famosa pelo seu carácter tenro e saboroso, tanto assada como nos famosos bifes de Alvarenga. Mesmo a seguir ao Mosteiro, o Café Arouquense é um dos sítios onde se come bem sem danificar a conta bancária. Além de bons bifes (consta que as francesinhas também são excelentes), dão-nos a oportunidade de beber um dos melhores vinhos verdes que já provei até hoje, mas que infelizmente ainda não consegui encontrar à venda: o Vale d’Arouca, um verde branco desta região que tem apenas 10% de teor alcoólico (quase um sumo…). Para sobremesa, uma fatia do famoso pão-de-ló húmido de Arouca, tão grande que dá para satisfazer a gulodice a mais do que uma pessoa.

 

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Se dispuserem de mais tempo, o geoparque de Arouca oferece nada mais nada menos do que 41 geossítios dignos de visita, sendo que quatro deles têm importância internacional, com especial destaque para a cascata da Frecha da Mizarela, o museu das Trilobites ou o centro interpretativo das Pedras Parideiras (mais informações em http://www.geoparquearouca.com/?p=geoparque&sp=osgeossitios).

 

E se as minhas fotografias não foram suficientes para vos deixar cheiinhos de vontade de visitar os Passadiços do Paiva, aqui está o vídeo oficial:

 

 

Agora que o bom tempo está para breve, porque não aproveitar um fim-de-semana para passear por aqui?

***

Também já atravessei a ponte 516 Arouca, e podem ler sobre isso no post A ponte 516 Arouca, passadiços, baloiços e afins.

 

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