Reservámos uma manhã para ver um pouco de Zagreb antes de partirmos para sul. E não há melhor maneira de entrar no espírito de uma cidade do que conhecê-la andando a pé pelas suas ruas. Mas convém ter sentido de orientação…
Como o tempo em Zagreb era pouco, não iríamos poder ver muito da cidade, e por isso decidimos ir visitar primeiro que tudo o local que nos interessava mesmo conhecer e que era simplesmente… o cemitério. Sim, é verdade. Por estranho que pareça, um dos lugares a não perder na capital da Croácia é o cemitério de Mirogoj, considerado um dos mais bonitos da Europa.
Pequeno-almoço tomado e mapa na mão, o dia estava ameno e o cemitério parecia facilmente alcançável a pé. Desembocámos mais uma vez na já nossa conhecida Maksimirska e tomámos aquela que me pareceu ser a direcção certa para seguirmos o caminho mais curto até ao cemitério.
No mapa parecia tudo relativamente perto, mas ao fim de um bom bocado começámos a aperceber-nos de que a nossa impressão não correspondia inteiramente à realidade. Somando a isso o facto de continuar a ser muito difícil descobrir os nomes das ruas, foi só após quase uma meia hora de caminho que percebemos que estávamos a ir na direcção errada. Mea culpa, que tinha olhado para o mapa ao contrário. (E dizia eu no post anterior que tinha bom sentido de orientação…). Um transeunte a quem pedimos indicações aconselhou-nos a irmos de autocarro, que o cemitério era longe para ir a pé. Mas a nossa teimosia não nos deixou dar o braço a torcer e decidimos continuar o passeio a pé, sem perder o ânimo.
Praticamente uma hora e mais um ou outro engano depois, lá conseguimos encontrar um dos acessos secundários do cemitério. E assim que entrámos percebemos imediatamente que todo o esforço despendido para dar com o lugar iria ser bem recompensado.
O cemitério de Mirogoj (Groblje Mirogoj, em croata) é qualquer coisa de monumental. A sua construção teve início em 1876 e só ficou terminada em 1929 – no que se refere à concepção inicial, da autoria do arquitecto austríaco Hermann Bollé. Sucessivas obras e acrescentos foram feitos, culminando na construção de um crematório em 1984.
Com uma área de mais de 8000 m2, nele repousam os restos mortais de pessoas de todas as confissões religiosas e também, como é óbvio, ateus. Entre estas pessoas contam-se muitas personalidades famosas na Croácia incluindo, por ironia do destino, o próprio Bollé.
Além dos túmulos e jazigos particulares divididos pelos vários sectores, na sua maioria elaboradíssimos, existem no cemitério vários memoriais referentes a períodos trágicos onde pereceram muitos croatas, como o monumento aos soldados croatas caídos na 1ª Grande Guerra, o monumento às vítimas croatas da guerra da independência, ou o monumento às crianças da montanha Kozara, que morreram em campos de concentração durante a 2ª Guerra Mundial.
A entrada principal do cemitério é, por si só, uma maravilha. Ao centro ergue-se a Capela do Cristo Rei, com a sua cúpula verde a dominar todos os outros elementos arquitectónicos. Arcadas estendem-se para cada um dos lados, cobertas de trepadeiras na face virada ao exterior. Do lado de dentro, o piso decorado com mosaicos e as colunas em mármore contrastam com o amarelo-claro das paredes, na sua maioria cobertas de lápides trabalhadas, candeeiros de metal, e toda uma variedade de elementos decorativos que evocam e prestam homenagem aos muitos notáveis aqui sepultados desde há quase um século e meio.
Com o tempo a voar, o regresso ao hotel fez-se primeiro a pé e depois de táxi, não sem antes termos tido um “encontro imediato”, quando andávamos em busca de táxi algures já perto do centro da cidade, com uma senhora pouco versada na língua inglesa mas com muita vontade de conversar (talvez por efeito da garrafa de bebida que levava no saco) que nos fez parar para, entre sorrisos, gestos e muitas palavras que não percebíamos, tentar contar-nos parte da história da sua aparentemente trágica vida que envolvia, tanto quanto conseguimos entender, armas, violência e mortes.
Antes de deixarmos Zagreb aproveitámos para almoçar no Bigy, mesmo em frente aos apartamentos Meridien. Menu à base de comida italiana, bem confeccionada e com preços em conta.
De Zagreb até ao Parque dos Lagos de Plitvice (Plitvička Jezera, em croata) são quase 150 km, que cobrimos com calma em cerca de duas horas e meia de viagem.
Tínhamos marcado alojamento por duas noites na Guesthouse Bor (Mukinje 59, 53231 Plitvička Jezera), na localidade mais próxima da Entrada 2 do Parque. Mais uma vez, a falta de indicações levou a que não fosse fácil encontrar a casa, mas depois de umas quantas voltas à localidade e um pedido de indicações num outro hotel, descobrimos que estávamos, mais uma vez, praticamente no sítio certo – o nosso alojamento ficava mesmo em frente, mas não havia qualquer placa visível com o nome da casa ou o número da porta.
Fomos muito bem recebidas pelo dono da casa, e o quarto não defraudou em nada as nossas expectativas. Vê-se que a casa é recente, ou pelo menos foi totalmente remodelada há pouco tempo. O estilo é simples e clean, com muita madeira em tons naturais, e as camas e almofadas são confortáveis. A casa de banho tinha também janela para o exterior, e tudo estava irrepreensivelmente limpo – aliás, uma constante em toda a nossa viagem.
Praticamente ao lado da Guesthouse Bor fica o Bistro Vučnica, um restaurante onde se come razoavelmente (uma vez mais, muito à base de pratos italianos) e cujo maior problema foi estar cheio e com uma grande e demorada fila de espera. Há poucos restaurantes na localidade, na proporção inversa à da oferta de acomodações, que é imensa; e a noite estava fria, pelo que a vontade de ir em busca de outro lugar para comer era pouca, o que provavelmente explica a grande afluência de gente àquela hora.
E a noite terminou cedo, que no dia a seguir tínhamos todo um parque para ver e muitos quilómetros para andar.
← Dia 1 da viagem: Lisboa-Zagreb e à noite em parte incerta
Dia 3 da viagem: Os Lagos de Plitvice ou como passar um dia no paraíso →
Já seguem o Viajar Porque Sim no Instagram? É só clicar aqui ←