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Viajar porque sim

Paixão por viagens, escrita e fotografia

Ter | 03.03.15

Viajar por pouco dinheiro

Muitas vezes, quando falo de algumas viagens que já fiz ou de outras que ainda quero fazer, a pessoa que está a conversar comigo olha-me com alguma inveja e diz qualquer coisa como: “Adorava fazer uma viagem dessas, mas viajar é tão caro…”. Nestes casos, a minha resposta é invariavelmente: “Não é tão caro quanto isso, se souberes organizar bem as coisas”. E quando digo quanto gastei nesta ou naquela viagem, essa mesma pessoa fica sempre admirada com o pouco que foi e acaba por concordar comigo. É perfeitamente possível fazer belíssimas viagens sem ter de ficar na ruína ou andar a apertar o cinto durante o resto do ano.Milos-Sarakíniko (2980).JPG

 

Fica já aqui um aviso: preparar uma viagem com um orçamento baixo dá bastante trabalho. Mas acaba por ser bem divertido, porque nos sentimos como se começássemos a viagem mais cedo. Dou a seguir algumas sugestões para organizar uma viagem inesquecível, mesmo tendo pouco dinheiro.

 

Passo 1 – Defina o objectivo da viagem

Quer descansar ou passear? Ou fazer as duas coisas? Apetece-lhe conhecer uma grande cidade, apreciar a vida selvagem, ou estar de papo para o ar numa praia? A primeira base a definir é a própria finalidade da viagem, porque é a partir daí que vai poder escolher o destino adequado. Visitar uma cidade talvez não seja a melhor opção para quem não gosta de andar a pé, ou quando o corpo pede descanso depois de um ano inteiro de trabalho; tal como optar por um país tropical não será adequado para quem não gosta de calor, e umas férias num resort paradisíaco não serão certamente as melhores para quem gosta de mudar de ambiente com frequência e estar constantemente em movimento à procura de algo novo ou diferente. Por isso, é muito importante definir à partida qual vai ser o objectivo da viagem.

 

Passo 2 – Estabeleça prioridades
Quando viaja, qual é o aspecto mais importante para si? O meio de transporte, o alojamento, a alimentação? Poder usufruir da vida cultural ou nocturna? Aproveitar a deslocação para fazer compras? Com um orçamento mais reduzido é óbvio que será necessário abdicar de certas comodidades, pelo que é essencial saber o que é para si indispensável e o que será supérfluo. Não passa sem comer bem? Então será necessário reservar uma boa fatia do orçamento para a alimentação ou, por exemplo, escolher como alternativa um tipo de alojamento onde possa preparar as refeições. Dá primazia a dormir bem e à comodidade do local onde vai pernoitar? Opte por um hotel com mais estrelas ou alugue um apartamento confortável. Não passa sem visitar museus, passear de barco ou a cavalo, fazer um curso de mergulho ou de culinária local? Preveja com antecedência o dinheiro que vai gastar neste tipo de actividades, tendo sempre presente que terá de cortar despesas noutra área que assuma menos relevância para si. A ideia é investir no que é realmente indispensável para que a viagem corra bem, poupando no que é pouco importante ou mesmo dispensável.

 

Passo 3 – Escolha bem a época
Todos sabemos que a época alta é sempre a pior altura para viajar. Mas por vezes não há alternativa, seja por imposição laboral ou familiar. No entanto, a época alta não é idêntica em todo o globo, e muitas vezes nem sequer é coincidente em todas as regiões de um mesmo país. Se tem a sorte de poder viajar em qualquer altura, escolha a época em função do local para onde vai. A época baixa poderá ser uma opção a considerar nalguns casos, mas a verdade é que as condições climatéricas nesta altura não são geralmente as melhores e podem até estragar completamente umas férias à partida prometedoras. A minha sugestão é optar por uma altura intermédia, ou então aproveitar o final da época alta e o início da meia estação, quando normalmente os preços já são menos exagerados mas o tempo ainda está bastantes vezes razoável. Se é obrigado a estar de férias na altura em que mais de meio mundo também o está, então lembre-se de que a nossa época alta corresponde à época baixa em vários outros pontos do globo, pelo que haverá sempre variadíssimas hipóteses de escolha.

 

Passo 4 – Pesquise, pesquise, pesquise
Agora vem a fase mais trabalhosa, mas que é também a mais interessante. Tendo presentes os parâmetros que já estabeleceu, comece as suas pesquisas. Procure promoções que possam encaixar-se no que pretende. Uma hipótese é ir a agências de viagens, que por vezes têm algumas ofertas a preços interessantes. Pessoalmente, há já vários anos que não reservo viagens nas agências tradicionais, e isso deve-se ao facto de oferecerem um leque de opções cada vez mais reduzido e formatado, que não vai de encontro ao que eu quero; além disso, a comodidade de ter alguém que trata de tudo por nós também se paga, e os preços são geralmente mais elevados. A excepção são algumas agências online, estrangeiras na sua grande maioria, que disponibilizam cada vez mais viagens de todos os tipos, além de possuírem os seus próprios serviços de reserva de voos, hotéis, e praticamente tudo o mais que se possa desejar. Entre estas destaco a Atrapalo (www.atrapalo.com), que é a minha favorita, ou a Logitravel (www.logitravel.pt) .
Outra opção é desenhar a viagem à medida dos seus desejos. Pense no local que gostaria de visitar e decida qual o meio de transporte mais adequado para chegar até lá. Procure preços para as datas pretendidas, e neste caso preveja alguma flexibilidade, pois os valores podem variar bastante consoante o mês e o dia. Se vai de carro, calcule o itinerário com a ajuda de um simulador online, para ter uma percepção bastante fiável da distância a percorrer, o tempo que vai demorar, e os gastos em combustível e portagens. O meu site preferido para isto é o www.viamichelin.pt. Para pesquisar voos pode procurar nos sites das várias companhias aéreas ou então escolher um site generalista de viagens como os que referi acima, ou ainda o Skyscanner (www.skyscanner.pt), o Momondo (www.momondo.pt), o Edreams (www.edreams.pt) ou o Rumbo (www.rumbo.pt), entre outros. É natural que encontre algumas diferenças de preço de site para site quando faz a pesquisa, mas na realidade o preço não irá variar praticamente nada no final, quando chegar a altura de fazer o pagamento. De facto, cada website cobra despesas de reserva com valores diferentes, e possíveis descontos que oferecem são mínimos, pelo que na prática as variações no preço final são mínimas. Têm também por hábito cobrar uma taxa pela utilização do cartão de crédito, por isso tenha em conta algumas despesas adicionais quando for efectivamente pagar a viagem.
Para descobrir onde ficar, o melhor website é sem dúvida o www.booking.com, que disponibiliza uma gama imensa de tipos de alojamento em todo o mundo. O Trivago (www.trivago.pt) também é excelente para comparar preços. No entanto, tanto as agências de viagens online como os próprios websites de cada hotel podem por vezes oferecer preços ou condições mais vantajosas para uma mesma estadia, pelo que convém sempre comparar os valores propostos em vários sítios. Um aviso: as fotos colocadas online nem sempre correspondem fielmente ao quarto que vai reservar ou às instalações do hotel tal como são actualmente. Veja sempre a pontuação atribuída e os comentários das pessoas que lá ficaram alojadas. Quando há várias hipóteses de escolha é bom procurar opiniões sobre cada local noutros sites (por exemplo no Trivago ou no Tripadvisor). Tenha em conta a localização – o alojamento fora dos grandes centros ou das zonas mais movimentadas fica mais barato, mas pode implicar deslocações demoradas e dispendiosas de táxi ou transportes públicos, e isso vai aumentar as despesas durante a viagem. No entanto, se vai de carro poderá ser a melhor opção, uma vez que nas zonas populacionais mais densas arranjar estacionamento será difícil e quase invariavelmente caro. Além dos hotéis, há ainda a considerar outros tipos de alojamento, como por exemplo os hostels, que são cada vez mais e melhores (veja em www.hostelworld.com, www.hostels.com ou www.hostelz.com), os B&B (pesquise em www.bedandbreakfast.com ou www.bedandbreakfast.eu), as estadias em casas particulares (as melhores ofertas estão no www.airbnb.pt), ou mesmo os parques de campismo (procure no pt.campings.com).
Se pensar em alugar carro, saiba que os sites online oferecem preços muito mais baixos do que as lojas de rent-a-car. Mesmo que já esteja de férias no local escolhido, é muito provável que consiga preços bem mais em conta na internet, e não hesite: reserve online, imprima o voucher se necessário, e levante o veículo no local e dia escolhidos. Muitas vezes esta opção permite até conseguir um carro melhor pelo preço de um mais barato, pois sucede frequentemente as agências não terem disponíveis automóveis das gamas baixas, caso em que têm de ceder um outro veículo de tipo superior.
Tente também obter o máximo possível de informação sobre o destino que escolheu: o que é que vale a pena ver ou fazer, e quanto é que isso vai custar. Por exemplo, se vai visitar uma cidade (ou várias), procure informações sobre preços dos vários meios de transporte, de entradas em monumentos, museus ou locais de diversão. Se vai para um hotel de praia, procure saber o custo de possíveis excursões a locais de interesse na vizinhança, ou de actividades que possa (e queira) praticar. Decida o que pode gastar e em quê. Considere ainda o que poderá pagar pela alimentação e estabeleça um limite máximo por dia. Vá anotando todas as hipotéticas despesas e informações. Se achar útil, compre um guia de viagem; ou descarregue da Internet mapas, roteiros e todos os outros materiais interessantes que encontrar. Fale com amigos que conheçam o local e peça-lhes sugestões. Arranje uma pasta para colocar toda a informação que for recolhendo, mesmo que ainda não tenha escolhido o destino definitivo e não tenha a certeza de que é que vai realmente precisar – haverá tempo para fazer uma triagem mais lá para a frente. Isto vai permitir-lhe ter uma ideia bastante precisa do que poderá ter de gastar e decidir com mais facilidade até onde pode ir e o que terá de ficar definitivamente posto de lado.

 

Passo 5 – Rentabilize
Uma grande fatia da despesa de uma viagem é habitualmente consumida pelo trajecto de ida e volta para o local pretendido. Por isso, pense em rentabilizar ao máximo o preço que vai pagar pelas deslocações. Se só dispõe de uma semana de férias, uma obviamente dispendiosa viagem para o outro lado do mundo não será a melhor opção, assim como passar duas ou três semanas numa mesma cidade talvez seja um desperdício, a não ser que sirva de base para explorar uma região alargada à volta dela. Se escolheu um destino longínquo onde não será muito provável voltar um dia mais tarde, tente aproveitar a viagem para visitar o maior número possível de pontos de interesse.
Umas férias de carro ou que impliquem aluguer de um carro durante quase todo o tempo serão mais rentáveis se se juntarem pelo menos quatro pessoas.
Para umas férias em grupo num só local, alugar um apartamento ou mesmo uma casa será uma boa opção. E todos sabemos que a maioria dos hotéis não são amigos de quem viaja sozinho, caso em que uma cama no dormitório de um hostel sairá bem mais barata, para quem não fizer muita questão de privacidade.
Ao planear uma viagem em que vai andar a saltar de um lado para o outro, reserve pelo menos três dias ou mais para cada estadia, caso contrário gastará mais tempo nas deslocações do que a conhecer os locais propriamente ditos, e regressará de férias com a sensação de não ter visto quase nada.

 

Passo 6 – Compre ou reserve com antecedência
Apesar de ser possível encontrar boas pechinchas nas ofertas last minute (que também só podem ser aproveitadas por quem não precisa de marcar férias com muita antecedência), para quem vai viajar de avião o meu conselho é reservar os voos com pelo menos um mês e meio de antecedência, e preferencialmente dois ou mais meses antes. Porquê? Porque a maioria das companhias de aviação reserva alguns lugares em cada voo para as tarifas mais económicas, mas apenas alguns, não muitos, e à medida que se aproxima o dia do voo esses lugares vão sendo (obviamente!) comprados, até só restarem os mais caros. Quanto às companhias low cost, actualmente são bastante procuradas e os seus aviões não são muito grandes, pelo que os voos esgotam com relativa facilidade, por vezes bastante tempo antes da data.
Com o alojamento sucede por vezes o mesmo. Se o destino é um local muito turístico em época alta, ou mesmo média, é frequente certos hotéis ficarem completamente cheios com alguma antecedência, pelo que à medida que o tempo passa o leque de possibilidades de escolha vai sendo reduzido. É claro que a questão do alojamento não é tão crítica, porque haverá sempre algum sítio onde ficar, mas o risco é ter de pagar mais, ou ficar pior instalado pagando o que se pagaria por um alojamento bem melhor. E se for muito em cima da hora, pode dar-se o caso de até nem ser possível encontrar onde ficar, se a época for especialmente forte no local ou houver algum grande evento programado para essa altura.
Ainda em relação ao alojamento, se acha que poderá encontrar algo melhor mais tarde procure reservar sem pagar antecipadamente, e com possibilidade de anulação até um dia ou dois antes da data marcada. Assim não perderá o dinheiro da reserva, caso decida optar entretanto por outro local que lhe agrade mais ou seja mais barato.

 

Passo 7 – Vá à aventura, mas previna as surpresas desagradáveis
Viajar à aventura é habitualmente muito compensador, tanto em termos financeiros como de experiência. No entanto, acarreta várias implicações, sendo que a maior delas é naturalmente o tempo de que dispomos para a viagem. Para quem não tem limitações temporais rígidas (ou seja, não precisa de regressar ao trabalho ou às aulas em data fixa), será sem dúvida a melhor opção. Só que este não é o caso da maioria de nós, que temos períodos de férias definidos à partida e não podemos viajar ao sabor do momento.
Um tipo de viagem que tenho feito de há alguns anos para cá, e com muito bons resultados, tem sido um misto de aventura com alguma pré-programação. Permite-me conhecer sítios fora dos roteiros turísticos principais – verdadeiras pérolas, muitas vezes – e dá-me alguma segurança em relação a imprevistos que possam arruinar as férias, ou fazer-me passar algum mau bocado.
Se for de carro, seleccione os locais que quer mesmo visitar, procure saber quais os possíveis pontos de interesse do percurso, não faça pré-reservas mas leve os contactos de duas ou três opções de alojamento (à medida da sua bolsa) em cada local – para não arriscar ter de andar horas à procura de um sítio para ficar. Leve também algum dinheiro vivo, porque nem todos os países têm ATMs ao virar da esquina como nós, e tente evitar que o combustível atinja níveis muito baixos, porque não há nada pior do que a angústia de ver o indicador a descer vertiginosamente quando se está no meio de nenhures e não sabemos onde fica a próxima bomba de abastecimento. Escusado será dizer que convém que o carro esteja em boas condições para fazer muitos quilómetros sem avariar…
Viajar de comboio também proporciona experiências interessantes, com a vantagem de ser menos cansativo do que ir de carro, por exemplo. É mais limitativo em termos geográficos, mas permite apreciar paisagens variadas e é geralmente confortável, sendo uma excelente hipótese quando a ideia é visitar várias cidades – desde que o preço seja compensador em relação ao avião e se disponha de algum tempo para a viagem. Os comboios nocturnos têm ainda a vantagem acrescida de fazerem poupar a despesa de uma noite num hotel.
Se o destino é mais longínquo e o tempo está contado, então o melhor mesmo é ir de avião, e aí será sempre aconselhável levar já marcada a viagem de regresso. Aqui são válidos alguns dos conselhos para as viagens de carro: leve todas as informações que puder sobre o que quer ver e onde poderá ficar alojado, e vá escolhendo o percurso à medida dos desejos. Peça sugestões aos habitantes locais, use os transportes públicos e não hesite em ignorar por vezes os grandes centros turísticos e as atracções mais badaladas (que são frequentemente muito caras) optando por lugares menos conhecidos e seleccionando criteriosamente aquilo que vale realmente a pena ver. Entre dois locais distantes, opte pelo meio de transporte mais barato e mais adequado à região, seja camioneta, comboio, barco, ou o aluguer de um carro. Fuja das excursões estereotipadas, que levam pessoas às centenas sempre para os mesmos sítios e às mesmas horas – a não ser que o preço seja realmente uma pechincha e lhe permita ver aquilo que de qualquer maneira já tinha a intenção de visitar.


E, acima de tudo, usufrua do prazer proporcionado pela mudança de ambiente e pelo alargar de horizontes (sobretudo mentais…) que qualquer viagem – mesmo pequena, mesmo que não para muito longe – traz à nossa vida. Sem ser preciso gastar rios de dinheiro para isso.

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