Diário de uma viagem à Costa Rica IV
Dia 4
Tempo para descontrair no alpendre da Casa Marbella, desfrutando de mais um óptimo pequeno-almoço e depois na companhia de um livro. O canal reflectia o cinzento do céu que ameaça chuva. A calma e a lassidão tomaram conta de nós e até mesmo de um cão de pêlo claro, que decidiu ficar por ali deitado.
Depois de mais um longo passeio pela aldeia, chegou a altura de fazermos as malas e despedirmo-nos da Gina e do seu filho mais novo, um bebé irrequieto que não gostava de dormir durante a noite.
Aproveitámos também para olhar uma última vez a lindíssima paisagem da lagoa, mas fomos interrompidos pelas exclamações de entusiasmo de um homem, provavelmente um habitante local, que do alpendre da casa ao lado nos apontava algo que boiava ao sabor da corrente. Aos nossos leigos olhos de europeus habitantes de uma cidade, parecia um tronco ou um detrito qualquer. “Un perezoso!”, informou-nos. E só então percebemos que se tratava de uma preguiça, boiando de costas e deixando-se levar pela corrente para se deslocar de um lado para o outro. Estava um pouco longe e não conseguimos vê-la bem, mas descobrir que um animal supostamente tão calmo e que passa a vida nas árvores pode deslocar-se na água e, mais ainda, ter inteligência suficiente para aproveitar a corrente a seu favor, foi na verdade uma surpresa. Uma das muitas que ainda estavam para vir.
Às onze e um quarto iniciámos mais uma viagem de barco pelos canais de Tortuguero, por um percurso diverso daquele por onde tínhamos chegado. Depois de muitos pedidos de informação e averiguações, tínhamos acabado por chegar à conclusão de que a melhor maneira de irmos de Tortuguero ao Arenal seria em carrinha privada, pois em transportes públicos haveria que apanhar vários autocarros e seria impossível chegarmos a La Fortuna no mesmo dia. Apesar de substancialmente mais cara, é uma viagem menos cansativa e neste caso poupar-nos-ia tempo precioso.
O barco em que saímos de Tortuguero dirigiu-se para “La Geest”, uma plantação de bananas explorada por holandeses. Além de nós, apenas um casal de turistas alemães com uma mala enorme, que fazia as nossas parecerem simples mochilas, e alguns habitantes locais que transportavam compras e foram desembarcando ao longo do trajecto de pouco mais de uma hora. O canal era diferente daquele por onde tínhamos chegado, mais largo e com vegetação menos densa. A embarcação ruidosa foi dobrando curva após curva, o condutor evitando os ramos de árvores à deriva com a destreza de quem está familiarizado com o percurso, e para nossa emoção a passagem veloz do barco arrancou mais do que uma vez um ou outro caimão do seu descanso na margem, fazendo-o esconder-se dentro de água.
Depois de mais de meia hora de espera na plantação e um breve encontro com alguns macacos-uivadores, o minibus da Pura Vida Tours chegou finalmente. Condutor simpático, ar condicionado, mas estradas igualmente más até Cariari, onde retomámos o asfalto e o percurso passou a ser mais confortável.
Foi uma viagem de quase quatro horas e meia sem história, com apenas uma curta paragem numa soda à beira da estrada para um café e a inevitável ida à casa de banho. As sodas são locais populares onde é possível comer uma refeição sem gastar muito dinheiro, embora na realidade a qualidade da comida e o nível dos preços varie bastante de local para local. Neste caso pagámos 400 colones por um café, o que equivale a um pouco mais de 53 cêntimos, o café mais barato de toda a viagem. A Costa Rica produz óptimo café, mas os ticos bebem-no habitualmente à americana, com muita água, embora também seja possível beber um expresso – que obviamente é mais caro. Atendendo a que é um país produtor de café e tem um nível de vida algo mais baixo que o nosso, na Costa Rica um café é caro.
Chegámos a La Fortuna às cinco e meia, chuviscava e já estava a escurecer. Não tínhamos hotel marcado mas bastou uma volta rápida pelas ruas que rodeiam a igreja para encontrar um hotel razoável para nos alojarmos. La Fortuna vive à sombra do vulcão Arenal e do turismo por ele gerado, e por isso a oferta hoteleira é abundante e para todas as bolsas. A recepcionista do Hotel Paraíso Tropical era uma jovem simpática, prestável e bem informada. Esclareceu amavelmente todas as nossas questões e como o hotel tinha a sua própria agência de viagens, ofereceu-nos um desconto sobre qualquer excursão que marcássemos.
O hotel fica situado em frente ao jardim, mesmo no centro de La Fortuna. É um edifício sobrecomprido com apenas dois pisos, exteriormente forrado de madeira, que lhe dá um aspecto rústico e acolhedor. Tem parque de estacionamento privado e o acesso às habitações é feito pelas varandas, também em madeira. Os quartos são simples mas muito espaçosos, têm duas camas grandes e uma kitchenette, televisão e ar condicionado. Sem excepção, todos os hotéis e albergues em que ficámos nesta viagem, independentemente da categoria, não tinham banheira mas sim uma box (geralmente grande) com chuveiro.
Ficar no coração de La Fortuna em vez de num dos muitos hotéis e lodges espalhados um pouco por toda a parte em redor do vulcão Arenal teve as suas vantagens. Uma delas, não de somenos importância, foi o facto de estarmos mesmo ao pé de vários restaurantes. O Lavas Rock Café fica quase ao lado do hotel, e um roteiro tinha-o indicado como um dos melhores locais para comer, por isso optámos por jantar ali mesmo. E a recomendação provou ser mais do que justa. Pedimos casados, prato típico da Costa Rica que consiste em carne de um determinado tipo (à escolha) acompanhada de batatas fritas, salada, fritos de milho e arroz (normalmente gallo pinto, arroz de feijão vermelho), que acompanhámos com sumos de fruta frescos e deliciosos.
Depois do jantar, uma breve volta pelo centro da cidade, que não tem muito que ver: uma igreja de linhas simples e modernas, com interior a condizer (particularmente chamativo é o efeito do chão, com mosaicos grandes em três cores) e um jardim florido à frente, lojas e hotéis em edifícios baixos e ruas não muito largas mas arejadas, onde normalmente o trânsito flui apenas num sentido.
Ao fundo da estrada principal que atravessa a localidade, o vulcão – para nós apenas imaginado, pois as nuvens baixas e a escuridão não permitiam sequer ver a encosta, muito menos a lava que jorra (dizem) quase constantemente do Arenal.
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